quinta-feira, 1 de maio de 2014

A GEOESTRATÉGIA MUNDIAL RELATIVAMENTE À UCRÂNIA


          Enquanto se vai arrastando a crise na Ucrânia com o aumento da animosidade entre russos e norte-americanos pelo dominio geoestratégico da Ucrânia, não se antevê para breve o fim pacifico da crise que assola aquele país.
          Efectivamente, desde a queda do muro de Berlim que regressaram aos espíritos dos dois blocos que se opunham na guerra fria os fantasmas da 2º Grande Guerra, consubstanciados pela tentativa de controlo da Ucrânia, país charneira entre o Leste e o Oeste, entre a civilização de tipo ocidental e a barbárie eslava. A Ucrânia serviria como um Estado tampão, uma fronteira alargada dir-se-ia, entre a UE civilizada e os russos à solta. A crise, que hoje aparece às claras para gáudio dos jornalistas que se alimentam de conflitos reais ou latentes, começou quando, desfeita a CEI - a primeira tentativa geoestratégica da nova Russia para delimitar (ou melhor, marcar os limites toleráveis da influência ocidental a Leste) a sua própria zona de influencia - a Ucrânia ficou à mercê da UE ávida do seu progressivo alargamento a Leste. Instalado um regime pró-europeu na Ucrânia, logo os russos fizeram vingar a sua próximidade étnico-geográfica para derrubarem a nóvel PM Julia Timoshenko e alçarem para o seu lugar um russófilo. A crise estalou quando o povo ucraniano (cansado das diatribes do novo governo pró-russo) correu com ele e saltou para as ruas reclamando liberdade, igualdade e justiça. Recomposto da surpresa, Putin aproveitou-se da confusão para reclamar para a órbita russa as regiões ucranianas de maioria russa (Crimeia e mais algumas confinantes com o território russo) onde armou, finaciou e animou a população outrora russa a rebelar-se contra o poder revolucionário instalado em Kiev.
          Preocupados com o desenvolvimento da situação (que parecia replicar a estratégia nazi de há 70 anos que deu origem à 2º Guerra mundial) os norte-americanos chocalharam os europeus na NATO e admoesatram a UE (através dos seus aliados preferenciais, os ingleses) para criarem uma frente comum que reagisse ao desaforo russo. Aproveitando-se de uma providencial reunião do informal grupo do G-20 (agora já sem a Russia convenientemente expulsa do grupo) os americanos (sob a experiente batuta do novo secretário de Estado Kerry) comprometeram os países da UE e da NATO (praticamente os mesmos) a imporem sanções à Russia na tentativa de Putin abandonar a sua estratégia longamente meditada e preparada desde o desmembarmento da CEI de "tomar conta" da Ucrânia.
          Não creio porém que seja através da imposição de sanções desgarradas e inofensivas que a Russia de Putin desista da criação de um tampão por ele controlado que trave o avanço dos ocidentais para Leste. O que se me afigura é que Putin - uma vez conseguido o controle das regiões fronteiriças onde habita a população maioritariamente russa da Ucrânia - ceda na tentativa de voltar a controlar Kiev, que deixará então aos europeus para expansão da UE. Todos sairão vencedores. Putin mantém a zona tampão que pretende (sem perder os lucros do gás que exporta para a Alemanha através do gasoduto ucraniano) abdicando do resto da Ucrania que não lhe interessa; a UE ganha mais um país para as suas fileiras, alargando-se para Leste (já está a financiar Kiev para "segurar" esse alargamento); a Alemanha mantém as suas boas relações com a Russia (continuando a receber o gás russo a preços de saldo) e os EUA (e os democratas de Obama) podem anunciar ao resto do mundo que, sem eles, a crise ucraniana não se teria resolvido.
          O que não ficará na mesma é a "détente" russo-americana que poderá pressagiar uma nova corrida aos armamentos num novo quadro geoestratégico mundial que envolverá mais a Ásia (e sobretudo a China) e menos a Europa (e sobretudo a UE) como parceiros privilegiados dos EUA no policiamento do mundo.

                                             ALBINO ZEFERINO                              1/5/2014

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