sábado, 24 de maio de 2014

A INVASÃO ESPANHOLA


          Desde que Portugal é um país independente que mais ou menos cada 200 anos os amigos espanhois tentam invadir-nos.  Umas vezes com mais sucesso, outras com menos, mas sempre com determinação, alegria e descontração.  A relação entre os dois povos ibéricos é encarada de um e de outro lado da fronteira de forma diferente. Enquanto que os portugueses se orgulham de ser o único país que conseguiu consistentemente separar-se do centralismo castelhano já lá vão quase 900 anos, os espanhois pelo contrário nunca aceitaram de bom grado a existencia de um país independente - com o mesmo estatuto deles - na Peninsula ibérica ( da qual eles se consideram legitimos e exclusivos donos). Que existam povos distintos dentro duma mesma unidade, muito bem. Isso até confere uma certa importancia à unidade. Agora que uns tantos rebeldes se considerem com a mesma natureza do conjunto dos outros já não é facilmente aceitável. Por essa razão não desistem da união ibérica.
          Foi assim no final do século 12 quando Afonso Henriques gastou a sua vida na afirmação da independencia de Portugal face ao hegemónico reino de Leão. Voltou a ser assim no final do século 14 quando os ingleses insistiram em preservar a independencia de Portugal ajudando o Mestre de Avis a escorraçar o castelhano, convencido de que era dessa vez que a normalidade institucional iria ser reposta. Foi mais uma vez assim quando o grande Habsburgo finalmente se impôs em Portugal em finais do século 16 para ficar por cá durante 60 anos. E voltou a ser assim no inicio do século 19 quando, aproveitando a onda napoleónica, os espanhois se juntaram a Junot, a Soult e a Massena para entrarem em Portugal e por cá se instalarem num casamento franco-espanhol contra natura. A última tentativa deu-se com a adesão simultânea de ambos países à então CEE, em 1986, depois de negociações paralelas (para não dizer conjuntas) com Bruxelas.  É que os europeus ainda não interiorizaram a independencia portuguesa, por não entenderem como um território tão inóspito e selvagem, habitado por umas gentes tão matarruanas e primitavas, sem quaisquer recursos ou mais-valias se tenha conseguido impor à raça espanhola, tão diversa e rica nas suas contradições e diferenças, tão lutadora e salerosa, que mata o touro sem piedade e morre de amor na refrega.
          Nos dias de hoje em que os exércitos foram substituidos pelas arruadas, as estratégias pelas OPA`s e as conquistas territoriais pelas tomadas de posição financeiras, é o futebol quem manda. A circunstancia (como dizia o espanhol Ortega e Gasset) tomou conta dos homens e a final da FIFA que se vai disputar no Benfica (não contra o Benfica) entre os dois maiores clubes ibéricos (por acaso das circunstancias, ambos madrilenos) é o pretexto para a nova invasão. Pacífica desta vez (espera-se) mas mesmo assim invasão. A alegria e o ruido espanhois invadiram Lisboa. As estradas e os aeroportos estão atafulhados de espanhois de todas as raças e feitios. Nuestros hermanos consideram-se em casa. Quase no Barnabeu ou em Vallecas. Depois desta final já nada será igual. Ganhe quem ganhe serão sempre os espanhois a ganhar.

                                      ALBINIO ZEFERINO                                      24/05/2014
           

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