quinta-feira, 2 de outubro de 2014
COSTA E OS OUTROS
Com a esperada vitória de António Costa na inédita contenda interna do PS, iniciou-se, de facto, um novo ciclo politico em Portugal. O governo Passos/Portas está desgastado, não consegue fazer mais do que já fez (de bom ou de mau, conforme as perspectivas) e sente-se no ar o ambiente de fim de festa que caracteriza os fins de ciclo em Portugal: boatos direccionados, manifestação de cansaço governativo, arrumação de pessoal politico, hesitações em tomadas de decisões importantes, alheamento de responsabilidades, desanimo nas conversas, etc.etc. Só não se sabe quanto tempo este intervalo vai durar. Noutro país qualquer, este estado de espírito colectivo seria suficiente para desencadear imediatamente eleições que desanuviassem o peso do ambiente e clarificassem as estratégias para o futuro. Mas o dogmatismo constrangedor e a tibieza cobarde que habita os espiritos dos lusitanos não permite que não se cumpram religiosamente os prazos constitucionais previstos. Ou seja, sem que Passos se demita, só haverá eleições legislativas (e portanto novo governo) dentro de um ano. A Passos, a quem espera uma dura travessia do deserto, não interessará tomar iniciativas. Enquanto o pau vai e vem folgam as costas. Costa, que já tem a glória que procurava, não tem pressa em tomar as rédeas duma carroça desengonçada e sem destino, antes que as contas do BES estejam saldadas e as ajudas do Draghi a caminho (ou seja, antes que a união bancária europeia atinja a velocidade de cruzeiro). Cavaco, o tibio dogmático, rei do Portugal democrático feito pelos amigos do Costa (que não dele), quer é que o tempo passe depressa até que cheguem os 6 meses anteriores às eleições presidenciais (mais umas), o denominado período de nojo constitucional. O único a quem interessa ir marcando caminho é a Portas, que hesita entre pedir namoro a Costa ou a transformar-se na sua alternativa de direita. Mas para se decidir (Portas não é tibio nem dogmático, é apenas sacana e sem carácter) convém-lhe também esperar pela definição politica do manhoso Costa e pelo tamanho da derrota de Passos (um e outro destes fenómenos serão determinantes para a opção do CDS). Poderá entretanto entregar o partido a Cristas ou a qualquer outro descartável, enquanto estas duvidas não se clarificam (a sua falhada tentativa de ser nomeado comissário europeu a isto sugere) mas arriscando-se a ser ultrapassado no partido. E isso Portas não consente nem aceita.
Teremos assim que aguardar pacientemente que o tempo vá passando indiferente às angustias lusitanas, deixando que se cozinhem além fronteiras os destinos deste belo mas triste país, enredado em problemas sucessivos e de cada vez mais dificil e complexa solução, mas habitado por gente simples e paciente, que tem sabido esperar de mãos postas pelo D. Sebastião que foi combater os mouros para África há 500 anos e que tarda em voltar.
ALBINO ZEFERINO 2/10/2014
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