domingo, 9 de novembro de 2014

OS MAL AGRADECIDOS


          Pela segunda vez em poucos meses os "irmãos" timorenses desfeitaram Portugal. Primeiro, com a "eleição" antecipada do ditador da Guiné Equatorial para membro da CPLP, quase à revelia do Presidente e do primeiro ministro de Portugal que, cheios da importancia que julgavam levar com a sua presença em Dili na cimeira de Chefes de Estado e de Governo dos países da CPLP, viram o caquético Presidente guiné-equatoriano já sentado ao lado dos outros na cerimónia de entronização do novo Estado-membro da organização, mesmo antes de iniciada a cerimónia. Agora, com a expulsão inusitada dos magistrados portugueses de Timor, acusados de má conduta profissional.
          Se a primeira desfeita poderia ser justificada (ou fingindo ignorá-la) atendendo ao receio que os timorenses sentiam perante as repetidas duvidas manifestadas por Portugal quanto à idoneidade democrática do governante guiné-equatoriano para fazer parte da CPLP, já a segunda desfeita não tem qualquer justificação. A cooperação judiciária que Portugal bem-intecionadamente prestava ao Estado irmão exigia, no minimo, consultas prévias que evitassem tal afronta. Aceita-se que o exercicio de um poder soberano exercido por elementos de outro país num país terceiro devesse ser praticado com as maiores cautelas (o que aparentemente parece não ter sido feito), mas é inaceitável uma decisão politica extrema e imprevista, sem prévias consultas com os responsáveis do país cooperante, tivesse tido lugar sem represálias correspondentes à afronta. O anuncio da simples interrupção unilateral da cooperação judiciária por parte de Portugal não basta.
          Ansiosos por mostrar aos seus novos amigos petrolíferos que quem manda em Timor Lorosae são exclusivamente os seus governantes, Xanana e os seus ministros aproveitaram os deslizes neo-colonialistas portugueses para manifestar uma independência que não têm, à custa dum grave insulto aos que lhes proporcionaram, com o seu denodo e determinação, uma independência formal, ainda não inteiramente solidificada. Sem Portugal, Timor não seria um país formalmente independente, nem teria condições de governabilidade, que a presença das forças da ordem portugesas e os juizes portugueses lhe proporcionam. Por seu lado, com a sua passividade e condescendência, Portugal mostrou que não tem estatuto (nem condições) para cooperar eficazmente com terceiros, mesmo quando sente que é indispensável para assegurar as condições minimas para que Timor possa continuar independente.
          No primeiro caso, Portugal poderia ter minimizado a afronta se a tivesse previsto. A presença simultânea do chefe de Estado e do chefe do governo de Portugal na mesma cerimónia (presença apenas formal, uma vez que a decisão politica sobre a entrada da Guiné-Equatorial na CPLP já tinha sido tomada antes) foi exagerada e deveria ter sido evitada. Sem as mesmas razões para igual cautela (Brasil e Angola sempre defenderam a entrada incondicional da Guné-Equatorial -país com petróleo - na CPLP), os chefes de Estado brasileiro e angolano (ambos detentores do poder executivo nos seus respectivos países, ao contrário de Portugal) delegaram a sua presença nos seus ministros dos Negócios Estrangeiros e nada nem ninguém deu pela sua falta. Mas nós não. Como antigos colonizadores e actuais cooperantes activos de Timor (como que "tutores" da sua independência), tivemos que nos fazer representar numa cerimónia formal (e banal) pelos dois mais altos responsáveis pelos destinos de Portugal, para mostrar ao mundo que ainda tinhamos algo a dizer sobre Timor.
Que ilusão. Com a desfeita manifestada aos nossos mais altos dignatários, os timorenses disseram alto e bom som que Portugal (e as suas opiniões) para eles nada conta.
          No caso da expulsão inusitada dos magistrados portugueses (como se de vulgares delinquentes se tratassem) a afronta assumiu foros de ofensa publica e oficial (fazendo lembrar o ultimato ingles a Portugal em 1890), não se compadecendo, a meu ver, com uma simples e formal declaração (por parte apenas da ministra da Justiça responsável pela cooperação judiciária) de que a cooperação pela qual é responsável ficava suspensa. Até quando? Em que condições? Aguardando um pedido de desculpas para ser retomada? E as restantes relações? Ficam tambem suspensas ou não serão afectadas? O nosso embaixador continua por lá como se nada de grave tivesse acontecido? A cooperação policial, militar e a do ensino da lingua portuguesa continua, como se nada tivesse a ver com isto? Portugal aceita que outro país (mesmo tratando-se do "irmão" timorense) o trate com a displicência e o desprezo que a decisão de Xanana revelou? Se assim for, então merecemos mesmo ser tratados como "protegidos" dos nossos credores, como alguns indignados acusam o governo de aceitar.

                      ALBINO ZEFERINO                             9/11/2014

1 comentário:

  1. O grande erro de Portugal foi, qual um D. Quixote de pacotilha, armar-se de espadas na mão em defensor dos bons e sãos princípios, e garantir por todos os meios a independência de Timor, quando talvez devesse ter, antes, garantido, isso sim, a plena integração daquele pseudo-país na Indonésia, como sua 27ª província, que era o que fazia sentido É claro que os resultados estão à vista. E Portugal sujeita-se ainda a muitas mais humilhações.
    No limite, se Timor Leste pode ser independente porque não Cabinda, Aceh, Casamansa, a Groenlândia e a Tasmânia, para mencionar apenas alguns. O que digo é provocador? Pois é. Mas porque razão fomos criar estados inviáveis e/ou corruptos?
    Depois, adoro a reacção deste invertebrados que nos governam. Eu não sei nada, não vi nada, não digo nada, nunca ouvi falar, nem sou de cá. Adoro a história dos 3 macacos. Lovely! Lovely! Lovely!
    Ernesto

    ResponderEliminar