sábado, 13 de dezembro de 2014

A CONTRA REVOLUÇÃO


          A propósito da brutal reacção que os sindicatos da TAP lançaram contra a intenção governativa de avançar com a privatização da companhia, poder-se-á pensar que o esforço reformista do governo afinal prossegue. Com o desfalecimento provocado pela saida da troika, logo seguido da crise Espirito Santo, tudo indicava que o governo baixara os braços nesse seu inacabado projecto reformista. Mas não. A detenção de Sócrates e o seu provável julgamento por actos de corrupção agravada, parece ter trazido novo ânimo ao governo reformista, agora de novo lançado no projecto com aparente renascida energia.
          A questão das reformas é vital para que se possa antecipar onde Portugal vai cair neste novo milénio carregado de incertezas e de ameaças globais. Ou os portugueses querem que o seu país continue a pertencer ao mundo desenvolvido ou preferem (sentem-se mais confortáveis, como hoje se diz) passar a ser considerados cidadãos de segunda classe neste mundo de contradições, com menos oportunidades e menos qualidade de vida do que os seus vizinhos de percurso. É que, queira-se ou não se queira, o mundo ainda está (e estará por muito mais tempo) dividido entre os países civilizados e os países em desenvolvimento (ou sub-desenvolvidos em relação àqueles). Nada disto tem a ver com a detenção de recursos naturais ou de capacidades bélicas, mas mais em jogos de poder ou de influência, que se desenvolvem em palcos geoestratégicos por vezes fora do nosso alcance e até da nossa percepção. Isto é, ou nos conformamos com esta vidinha à sombra da bananeira e a viver à custa de terceiros, ou resolvemos fazer pela vida trabalhando afincadamente para contribuirmos para construir um futuro mais risonho para os nossos filhos.
        A manutenção das garantias do Estado de assegurar aos seus cidadãos (e a cidadãos de países terceiros que aqui vivam) sustento, saude, educação e até regalias supérfulas (em alguns casos), não se compadece com as responsabilidades finaceiras que a libertinagem governativa de 40 anos de democracia criaram. O Estado não produz dinheiro e para proporcionar tudo aquilo a que os constitucionalistas de 1976 o obrigaram tem que se endividar no exterior. Esse endividamento determina uma submissão a determinadas regras que ultrapassam a esfera decisória soberana do Estado portugues. Ou seja, já hoje, os portugueses deixaram de poder escolher por si sós o caminho que julgam melhor para si percorrer. A passagem da troika por Portugal (e o seu eventual regresso) é uma prova cabal disto. Ora, as privatizações de empresas de sectores vulgarmente denominados publicos (transportes, hospitais, escolas, equipamentos básicos, etc.) são por assim dizer uma obrigação (ou um ónus) que os portugueses terão que aceitar (quer queiram quer não) pela impossibilidade prática do Estado poder continuar a assegurar aquilo a que meia duzia de iluminados (alguns ainda mexem hoje) inconscientemente decidiram por nós deixar plasmado na Constituição da Républica.
         É isto que os comunistas e os seus seguidores não aceitam. Não aceitam que estejamos submetidos a ditames estrangeiros, não aceitam a dura realidade dos factos, não aceitam abdicar das benesses que os seus antecessores nas tribunas do poder abusiva e inconscientemente resolveram atribuir-se a si próprios e aos seus apaniguados, não aceitam termos já perdido parte da nossa soberania (hoje ela é partilhada com os nossos parceiros comunitários e submetida ao escrutineo dos mercados financeiros) e preferem o suicidio ao tratamento. Não creio que seja esssa a opção da maioria dos portugueses e tambem não creio que todos os sofridos sejam tão inconscientemente intransigentes. Oponhamo-nos contra estas vozes da desgraça. Revoltemo-nos contra os arautos do imobilismo e do atraso social. Calemos os retrógados e lutemos pela modernidade. Preferimos ser cubanos ou ser portugueses? Preferimos viver na Síria ou no Dubai? Preferimos a alegre América ou a fria Russia? A escolha é nossa.

                                      ALBINO ZEFERINO                               13/12/2014

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