quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

O ANIMAL FEROZ


          Se duvidas houvesse acerca da ferocidade do animal que a politica portuguesa adquiriu há anos a um saltimbanco de passagem pelo país com um nome espanholado e que à força de urros e de cambalhotas espalhafatosas se erigiu em chefe do circo amedrontando os outros animais com quem contracenava, decerto teriam desaparecido com as vicissitudes diárias com que o bicho (agora a ferros) nos atormenta. É inconcebivel que, depois de desmascarado nas suas diatribes criminosas, o animal continue a espernear espumando de raiva as suas frustrações de classe e gritando despudoradamente os seus complexos de culpa numa crise de negação da realidade que a sua personalidade doentia nunca conseguiu aceitar, mesmo quando ainda actuava no circo.
          Mas afinal que circo é este que aceita sem escrutineo prévio a admissão de tal besta como chefe da manada de animais que, pacatamente até então, pastavam nos verdejantes prados deste país à beira mar plantado? É um circo de aldeia, com palhaços ricos e pobres que contam histórias requentadas e sem graça às criancinhas ululantes que os cercam e que exibe animais velhos e pachorrentos em voltaretes rotineiros às palmas imbecilizadas dos espectadores anestesiados por anos e anos de enganosa rábula, tocada e cantada ao som dos cantes alentejanos (agora internacionalizados) dos libertadores de abril.  E os restantes animais, como o aceitaram sem tugir nem mugir? Terá sido o velho leão Soares que, cioso de entregar o comando das hostes a outro animal politico como ele, o acarinhou e adoptou como seu putativo sucessor? Só que a ferocidade não substitui a manha e a pretensão não equivale ao oportunismo. O animal feroz expôs-se ao mundo antes de garantir a sua imunidade. Deixou-se levar pela ambição, sem cuidar dos refluxos que as suas temerárias investidas em territórios desconhecidos aos animais da sua raça provocaram. E agora quê?
          Os animais da mesma raça do animal feroz (agora já a ferros longe da ribalta) escondem a sua natureza por detrás das chocas, badalando os chocalhos ao som da banda de musica do inteligente da tourada, fingindo empurrar o touro para dentro do curro, mas desejando, lá bem do fundo, que ele não entre, deixando as chocas ao abandono. E o publico? O publico assobia perante o mau espectáculo que o animal feroz prestou e só deseja que ele desapareça de vez da ribalta. Para escolher novo animal que substitua este, que não os esmifre e os deixe pastar à vontade nos verdejantes prados lusitanos. E quando acabar a erva?

                                       ALBINO ZEFERINO                   4/12/2014

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