quinta-feira, 11 de dezembro de 2014
PORTUGAL SEM RUMO
Vamos entrar no ano decisivo do nosso futuro colectivo. O que acontecer em 2015 será determinante para aquilo que nos habituamos a chamar "o nosso país". Não será tanto saber se conseguimos ou não atingir as previsões governativas sobre o défice orçamental ou se as inacabadas reformas chegarão finalmente ao fim. A questão é muito mais funda do que isso e as consequencias para nós serão muito mais determinantes acerca do nosso futuro do que as simples previsões de outono chegadas pachorrentemente de Bruxelas para nos assustar.
Refiro-me à eventualidade da realização de eleições legislativas antecipadas na Grécia, facto com o qual o PM grego tem ameaçado Bruxelas numa tentativa desesperada de ganhar tempo e trunfos para prosseguir ao seu ritmo as reformas de que o país precisa. É que as sondagens mais recentes indicam uma vitória esmagadora do esquerdista e contestatário Syrisa que, a acontecer, lançaria a Grécia no caminho inexorável da saida do euro e da exclusão imediata das ajudas comunitárias. Seria como se por cá o Bloco de Esquerda ganhasse as próximas eleições.
Caso essa fatalidade ocorra na Grécia, imediatamente a esquerda portuguesa (com o PS de Costa à cabeça) não descansará enquanto não lograr que o amedrontado Cavaco antecipe eleições tambem por cá, cujo resultado seria muito provavelmente, tal como na Grécia poderá ocorrer, uma vitória revanchista da esquerda, unida em torno do slogan: "direita para a rua, a luta continua". E assim alegre e inconscientemente as duas "ovelhas negras" da familia europeia sairiam de casa, ficando entregues a si próprias e ao seu trágico destino e envolvidas numa espiral de subidas das taxas de juro e da perda inexorável da confiança dos mercados.
Paralelamente, em 2015, assistir-se-á ao embate definitivo entre as teses francesa e alemã acerca da correcção dos défices publicos. Enquanto que os socialistas franceses não mostram muita vontade em satisfazer as imposições de Bruxelas no que toca à adopção de medidas que corrijam o défice publico previsto para 2015, vistas como imposições alemãs provenientes directamente de Berlim, a Comissão europeia e o Eurogrupo já ameaçaram a França de multas em caso de incumprimento. Do resultado deste braço de ferro dependerá, em muito, a forma como serão encarados os mecanismos europeus para a contenção das dividas publicas e para a correcção dos défices excessivos dos países mais relapsos. Uma posição mais flexivel em relação à França e à Itália (não sem contrapartidas certamente) poderá significar menos exigencia no que a Portugal e à Grécia diz respeito, evitando que novas medidas de austeridade venham a ser adoptadas.
Finalmente, será tambem em 2015 que o Banco Central Europeu, face ao risco de deflacção na Europa,terá que decidir se segue o exemplo da Reserva Federal norte-americana e do Banco de Inglaterra e começa a fazer compras de titulos da divida publica, contra a vontade expressa do gaverno alemão, que considera isso constituir um financiamento aos Estados, que não os incentiva a realizar as reformas de que precisam. Se a linha mais ortodoxa vencer em Frankfurt, serão de esperar novas subidas das taxas de juro nos países periféricos e um andamento menos favoravel da procura interna em vários países clientes das exportações portuguesas.
Será assim do desfecho destas tres incógnitas que dependerá o futuro deste Portugal sem rumo certo e de destino indefinido. Que Santa Maria escute as nossas preces e ponha juizo nas cabeças ocas deste povo de herois inconscientes e de audazes temerários.
ALBINO ZEFERINO 11/12/2014
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