sábado, 11 de julho de 2015

A PROPÓSITO DA GRÉCIA


          Muito se tem escrito (e lido) a propósito da Grécia nos ultimos tempos. Por boas e por más razões, diga-se de passagem. As boas são a consciencialização acerca da inutilidade dos sacrificios impostos aos cidadãos europeus em prol dos principios (muito legitimos, aliás) que enformam a economia de mercado vigente na União Europeia e esteio sobre o qual esta tem vingado desde há quase 70 anos. As más razões são a constatação publica de que nem todos os países europeus (com a Grécia à cabeça) deveriam fazer parte da zona do euro (no seu papel de motor duma integração ainda difusa e mal definida).
          A União europeia (como hoje se chama a cooperação entre a maioria dos países que constituem o continente europeu) é um processo dinamico (mais do que uma instituição) em permanente desenvolvimento, sobre o qual têm assentado as dificeis relações entre os países europeus. Sem este processo negocial em movimento permanente (como a Terra em volta do Sol) não teria sido possivel viver em paz durante tanto tempo (basta folhear um simples livro sobre a história europeia para constatar este facto) nem teria sido possivel conseguir o desenvovimento dum continente sem recursos naturais, gasto, cansado, velho e cínico, que ainda dá cartas no mundo globalizado de hoje, onde a primazia é discutida entre países-continentes como os E.U.A., a China, a Índia, a Russia e o Brasil.
          A crise grega (com a descarada exposição das aleivosias que as velhas politicas proporcionaram aos antigos politicos) está a tornar-se, mais do que uma ameaça à unidade da União, um desafio à tão badalada democracia sobre a qual assentam os principios enformadores dos países ditos livres. Serão os chamados BRIC (mais os EUA) mais democráticos do que a UE? Ou será ao contrário? Não será a democracia mais uma espécie de crença alumiadora de caminhos do que um verdadeiro código de conduta cuja violação constitui pretexto para uma evicção centrípeta do redemoinho comunitário? Será possivel (eu diria até saudável) para o natural desenvolvimento pacifico, constante e regular do continente, que estejamos permanentemente, por esta ou por aquela razão de politica interna deste ou daquele país, que estar dependentes de eleições, referendos ou quaisquer outras consultas populares, para prosseguir o cada vez mais dificil e espinhoso caminho do desenvolvimento?
          Os gregos estão a mostrar ao mundo (como fizeram na Antiguidade) a forma como deverá ser conduzido um processo (dificil, critico até) que terá que ser resolvido com a ajuda e empenhamento de todos, sem exclusões prévias (ou reservas mentais) baseadas em principios dogmáticos inconvenientes ao normal desenvolvimento das negociações, única forma legitima de avançar. Ficar dependente de opiniões ou ditames de terceiros, que estão fora do circuito, percebem mal o que está em jogo e não contribuem eficazmente com o seu empenhamento para uma solução que conduza a uma normalização do processo desenvolvimentista sem o qual a UE não faz sentido, não é bom nem ajuda a UE a sair da crise.
         Deixemo-nos de rodriguinhos como quem discute se o penalti do passado domingo foi justificado ou não, ou se a Rosa Mota é melhor do que o Carlos Lopes, ou se o Eusébio do Panteão é mais heroi do que a Amália (que tambem por lá está). O importante para nós é progredir. Produzir mais e gastar menos. Combater a corrupção (que aumenta em vez de diminuir). Libertar o Estado das saguessugas que lhe chupam o tutano. Cumprir os nossos deveres de cidadãos, de bons pais de familia e trabalhar honestamente com alma e pundonor. Assim o exigem os nossos maiores (os que estão no Panteão e os que tambem lá deveriam estar).

              ALBINO ZEFERINIO (correspondente diplomático aposentado)              11/7/2015

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