domingo, 13 de dezembro de 2015

VENI, VIDI, VINCI


          Cheguei, vi e venci. Tal como Julio César, o imperador romano, Marcelo chegou, viu e venceu. Chegou já há tempos, pois esta será a sua ultima oportunidade de ficar definitivamente na História deste pobre país, onde padrinho, pai e amigos estão. Depois dos falhanços do táxi, do mergulho no Tejo e da presidencia do partido, desta vez parece que vai mesmo ser. Marcelo não será um novo Marcello, nem sequer um novo Sá Carneiro que ele tanto idolatrava. Será mais do que eles. Será o salvador da Pátria que ele tanto ambicionava ser.
          Desde pequenino que Marcelo Rebelo de Sousa esteve predestinado a ser alguem. Filho de um segundo e afilhado de um primeiro, que nunca conseguiram verdadeiramente afirmar-se na politica (ao contrário do seu mentor), o pequeno Marcelo Nuno nasceu para ela, no seio dela e foi preparado para singrar nela. Desde o mesmo nome, à mesma Faculdade e à mesma carreira profissional (a de catedrático), Marcelo Nuno seguiu as pisadas de Caetano no esteio de Salazar e foi conduzido pelo pai Baltazar nos meandros da pequena politica de então. Respondeu bem e cedo, pois ainda liceal, já se destacava entre os melhores, mas foi na Faculdade de Direito, ao Campo Grande, onde ele se afirmou como a grande esperança do regime e grande pedra angular da sua perenidade. Arrancado o 19 (mesma nota de formatura do seu farol) foi doutorado antes dos 29 anos e catedrático aos 30. Entretanto, aproveita o 25 de Abril para romper definitivamente as grilhetas onde o Estado Novo o agrilhoara e consegue com mestria e manha recuperar a sua Faculdade das garras dos esquerdistas do Barroso que dela se tinham vilmente apossado. Recupera o prestigio da sua Escola ao mesmo tempo que se ensaia na nova politica através de Balsemão, que o emprega no Expresso. Descobre assim o meio através do qual vai vencer. Com a morte de Sá Carneiro e a inesperada ascensão de Balsemão à chefia do partido e do governo, Marcelo vai a ministro e sobe rapidamente e sem esforço ao topo da hierarquia.
          Começa aqui porem a sua desdita. A sua inata propensão para a intriga aliada a uma rara inteligencia e a uma rapidez de raciocinio estonteantes, cedo lhe destapam uma personalidade irrequieta própria da verdura dos anos. As suas constantes e repetidas manifestações de insensatez exploradas por uma comunicaçaõ social em aprendizagem e ciosa de escandalos, em nada ajudam à formação da imagem confiante e austera que um politico com ambições deve exibir. Marcelo resolve combater a imagem negativa que começa a pressentir através das mesmas áreas. A sua passagem pelo Independente de Portas não lhe trouxe porem qualquer vantagem. E as tentativas de vir a ser presidente da Camara de Lisboa e de primeiro ministro depois, através do PSD, tão pouco. Ficou no limbo e só mais tarde consegue reconstruir uma imagem de seriedade e de confiança pela mão de Judite de Sousa. As sondagens aí estão para o demonstrar.
          Só um cataclismo impedirá Marcelo de vir a ser o próximo Presidente desta republica cada vez mais pobre e miserável. Com a ajuda de Maria de Belém, que se interpôs no caminho arrojado mas certeiro que Sampaio da Nóvoa corajosamente empreendera, nada nem ninguem travará o caminho aberto que se apresenta a Marcelo, em Janeiro próximo. Será logo na primeira volta que os tugas, fartos de tanta consulta popular e enganosos resultados, apostarão no professor decidido, de resposta na ponta da lingua e inteligencia mordaz para seu primeiro representante publico.
          Marcelo tem apenas dois motivos que o levam a ser presidente. Um é condição do outro e depende dele. Marcelo quer fazer aquilo que Cavaco tem vindo a pregar sem conseguir ser ouvido para, depois disso, fazer aquilo que ninguem prega mas que todos (ou talvez só a maioria) desejam e de que dependerá a normalização do regime nascido em 1974. O primeiro é proporcionar uma coligação governativa estável ao centro suficientemente ampla que permita uma revisão constitucional definitiva que possa encaminhar Portugal para a senda do progresso económico e do desenvolvimento social consistentes com as regras europeias e as imposições comunitárias. Só assim Marcelo Rebelo de Sousa ficará na História de Portugal como deseja e se vem preparando desde jovem.

                             ALBINO ZEFERINO                              13/12/2015
       
       

1 comentário:

  1. Excelente biografia do nosso pré-Presidente. O homem parece que desta vez vai lá. Não há duas sem tres.

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