sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

O ARCO DA GOVERNAÇÃO


          Terá a governação portuguesa um arco? É ele abatido ou simplesmente curvo? E sendo curvo, qual é a amplitude da sua curvatura? Abarcará a totalidade dos cidadãos ou apenas alguns deles? Neste ultimo caso, quais deles? Os que ficarem fora do arco nunca poderão governar? Qual será o limite da curvatura do arco da governação portuguesa? A estas e a outras questões conexas conviria ser procurada resposta.
          Esta questão do arco da governação surgiu quando alguns dos espertos (à espanhola, bem entendido) da politica lusitana se capacitaram de que eram sistematicamente excluidos das negociatas e das concertações politicas resultantes das governações alternadas do PSD e do PS (o chamado rotativismo governativo, originalidade politica de inspiração britanica, iniciada ainda nos tempos da monarquia constitucional). Só sendo do PS ou do PSD, algum politico poderia aspirar a colher os beneficios da governação, fazendo parte do famoso arco. Daí ter surgido o conceito, como sendo a linha separadora dos putativos beneficiários das benesses, dos simples espectadores da politica lusitana.
          Fica assim explicada a forma original e arrevezada como Costa resolveu surripiar o poder ao vencedor das ultimas eleições. Em Portugal já não basta ganhar a maioria dos votos dos eleitores. É necessário conseguir formar um governo "dentro do arco da governação". Só que esse arco mudou de amplitude com Costa. Apercebendo-se de que a UE tinha deixado de constituir o eixo em redor do qual se moviam as negociações para a formação das maiorias governativas, Costa resolveu alterar a amplitude do arco da governação em Portugal (com a oposição declarada do Presidente da Republica, diga-se de passagem) chamando os partidos de protesto (como eram designados os excluidos do arco) para seus apoiantes. Criou assim um novo arco da governação fora do euro e da UE que está a alastrar para além do governo e a legitimar toda e qualquer politica que porventura venha a calhar impor em determinado momento.
          O mesmo argumento da nova e da velha politica ouve-se na campanha eleitoral para a eleição do Presidente da Republica. Nóvoa personifica a nova politica, a do "fora do arco", descomprometida, um pouco anárquica, livre de perconceitos e de compromissos, anti-establishment e mais moderna e fracturante com os conceitos dogmáticos da vida em sociedade. Belém e sobretudo Marcelo, são os candidatos do velho arco, comprometidos com as politicas corruptas e venais, que conduziram ao caos e à austeridade e limitadoras da nova visão apolitica das coisas. Vamos lá a ver se a mudança do "arco" protagonizada por Costa no governo faz caminho no resto das instituições politicas do país, transformando este jardim à beira mar plantado numa nova Grécia sem travões e sem rumo.

                                  ALBINO  ZEFERINO                                     8/1/2016

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