ESTAMOS A VER-NOS GREGOS PARA NOS ENDIREITARMOS

          Com a eleição presidencial ultrapassada e portanto encerrado o ciclo iniciado em Setembro passado com as eleições legislativas, seria de pensar que, agora sim, iriamos entrar em velocidade de cruzeiro em direcção ao tal mundo novo que Nóvoa apregoava. Mas não! Tudo parece estar a regredir para os tempos do famigerado Sócrates onde, de originalidade em originalidade, eramos diariamente surpreendidos com medidas surpreendentes que nos iam pacatamente empurrando para baixo na escala classificativa das empresas de rating.
          Agora com Costa ao leme, a situação está na mesma. Sem Orçamento aprovado (nem sequer ainda foi para Bruxelas) vamos entrar no segundo mes do ano funcionando em duodécimos, sem plano de crescimento nem definição de estratégia. O que já se fez (e bem à pressa) foi ir aprovando na Assembleia os compromissos espurios resultantes da coligação parlamentar de esquerda que nos governa, não venham surpresas de Bruxelas que estraguem os arranjinhos feitos por Costa com os blocos e os comunas de serviço.
          Assim não! Até parece que estamos aqui para nos enganarmos uns aos outros. O governo quer enganar Bruxelas com projectos orçamentais utópicos e, à falta de orçamento, a Assembleia engana os eleitores com aprovações de medidas avulsas retiradas dos arranjinhos que Costa engendrou para enganar o Bloco e o PC na sua ânsia de ser Primeiro Ministro à força. Estamos a ver-nos gregos para sair desta espiral de disparates em que todos julgam estar a enganar o parceiro através de pequenas vitórias que fatalmente vão conduzir o país à derrota.
          Qual a posição de Portugal face aos grandes problemas que afligem o mundo de hoje? O que pensa o governo da questão dos refugiados? E a do aquecimento global? O que têm feito as autoridades portuguesas para implementar a necessária (mas dificil) reforma bancária europeia conduzida pelo Banco central europeu? Que garantias dá o governo portugues de reformar o Estado para o tornar mais ágil e eficiente na prossecução dos objectivos a que se comprometeu em Bruxelas? Que medidas alternativas estão previstas para evitar que o famigerado tribunal constitucional impeça ou obstaculize as medidas necessárias ao harmonioso e progressivo processo intergrador europeu? Que estratégia está definida pelo governo para que as indispensáveis (e inevitáveis) negociaçoes permanentes com as entidades europeias decorram com normalidade e em proveito dos cidadãos portugueses? De que modo pretende o governo portugues transmitir às entidades europeias a confiança necessária para continuar a beneficiar da boa vontade dos credores internacionais?
          Todas estas questões e outras mais permanecem sem resposta porque a coligação preversa de interesses que permitiu a posse formal deste governo fantoche não consegue dar-lhes resposta, sob pena de cair no dia seguinte. O que se terá passado na cabeça do Presidente para ter dado posse a um governo inviável? Enquanto a situação em Espanha saida das recentes eleições legislativas não estiver resolvida, Bruxelas vai deixando aboborar a nossa, não surjam ideias que influenciem negativamente nuestros hermanos. Mas resolvida a questão espanhola, não haja duvidas. Ou entramos na linha, ou teremos novas eleições a prazo. Quer Marcelo as deseje quer não.

                           ALBINO  ZEFERINO                                          31/1/2016