sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

QUEM NÃO DEVE NÃO TEME


          Parafraseando a nossa única glória mundial que parece estar a ser perseguida pelo fisco, qual justiceiro impiedoso dos pobres diabos desconhecidos roídos de inveja dos milhões que o miúdo arrecada a dar pontapés certeiros no amor-próprio de cada um de nós, não devemos temer as investidas rancorosas dos maldizentes quando nada devemos a ninguem. Se o contrário tambem fosse verdadeiro, então deveriamos tremer de medo se estivessemos a dever algo a alguém. Parece assim que os portugueses, que devem montões de dinheiro aos estrangeiros, deveriam estar a tremer de medo. Mas, curiosamente, tal não acontece. Os tugas devedores agem como se de sólidos solventes se tratassem, invectivando os credores desesperados para aceitarem renegociações de divida, como se isso fosse uma forma como outra qualquer de satisfazer os seus compromissos financeiros.
         Ainda recentemente, um dos lideres de um dos grupos politicos que apoiam esta geringonça a quem os palhaços deste circo de macacos chamam de governo da Nação, se indignou, alto e bom som, pelo facto do soi-disant primeiro ministro ter dito na televisão lusitana que agora não era o momento de falar nessas coisas desagradáveis, pois deveria esperar-se pelas eleições alemãs lá mais para o fim do ano que vem, para eventualmente falar dessas coisas desagradáveis. Como se os alemães devessem interromper as suas naturais preocupações com o futuro do seu país, para se debruçarem sobre o eterno problema portugues do pagamento das suas eternas dividas, como se esse problema (que é portugues e não alemão) devesse ser resolvido pelos alemães e sobretudo quando aos portugueses mais lhes apetecesse.
          Vem esta lenga-lenga a propósito da situação financeira em Portugal que, governo após governo, se vem deteriorando progressivamente. E não se diga que estou exagerando, pois apesar dos indices deste ano estarem melhores do que os do ano passado, das pessoas estarem mais soltas e menos deprimidas, de já se notarem uns gastozitos a mais nas lojas e nos restaurantes cheios de estrelas michelin que rebentam por aí, até de já sermos bons em matemática comparados com os romenos e com os bulgaros e nunca o déficit publico ter registado, em 40 anos de democracia, valores tão baixos como este ano, o certo é que o raio da divida sobe em vez de descer e os juros teimam em continuar altos. Haverá alguma má-vontade contra nós? Ou foi mau-olhado mesmo?
          A verdade é porém outra. Cruel é certo, mas impiedosa. Os credores não acreditam nesta "recuperação" lusitana. Mas porquê? Se até os turistas aumentaram, os barcos do amor não param de atracar nas nossas docas e o petróleo até baixou. Esquecem-se estas almas (ou fazem por isso para enganar o indigena) de que os efeitos das politicas restritivas como aquelas que a troika nos impôs demoram algum tempo a aparecer e que esse tempo chegou agora depois da geringonça ter aparecido.                 Estamos então safos de mais sacrificios, perguntarão os ingénuos? Não, direi eu. A politica de revisão das medidas que permitiram este desafogo, a que se vem dedicando o actual governo como compensação dos apoios politicos (sobretudo parlamentares) prestados pelos partidos esquerdistas ao governo em funções, vai produzir efeitos mais tarde (depois das próximas eleições autárquicas do ano que vem) determinando um novo periodo de estagnação e quiçá uma definitiva e dolorosa travessia do deserto. Mas isso será rosário de outra paróquia, com outro governo mais à direita com o apoio dum PSD mais dócil (e minoritário) e com o apoio duma nova Merkel (saida duma 4ª reconduçao coligada com o SPD) mais amiga dos pobrezinhos e dos desvalidos, chamem-se eles refugiados ou periféricos.
Não esqueçam que o Costa nasceu com o rabo virado para a lua.

               ALBINO  ZEFERINO                                                                   9/12/2016

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