domingo, 8 de março de 2020
A POLITICA E O FUTEBOL
Diz-se com razão que politica e futebol andam juntos. Andam juntos porque são duas faces da mesma moeda. E essa moeda chama-se desenvolvimento. Vejamos então como é que isso se explica.
Nos países ditos desenvolvidos (França, Reino Unido, Alemanha, Holanda, Suécia, Itália, etc.) onde o futebol é considerado uma actividade económica e não apenas socio-cultural, como nos países menos desenvolvidos (por cá, por exemplo, a personalidade de cada pessoa é definida pela opção clubista de cada um dos avaliados), o mundo do futebol é muito mais dinâmico. A discussão dos primeiros lugares dos campeonatos nacionais não é feita sistematicamente entre os 2 ou 3 clubes do costume (em Portugal, Benfica, Porto e Sporting) mas o campeão nacional muda todos os anos de entre a quase totalidade dos clubes que disputam as respectivas ligas. Não há os clubes de 1ª de 2ª e de 3ª categorias, ou seja, os que ganham sempre, os que às vezes ganham e os que nunca ganham. Não há os derbis, nem as finais antecipadas (que fazem parar o país como se ficassemos todos em estado de sítio) que mobilizam multidões e perturbam a ordem publica, sendo tema de telejornais de todas as televisões durante dias seguidos. O futebol é encarado nesses países como um desporto qualquer, sem carácter exclusivo nem hegemónico, onde os adeptos vibram como cá mas sem que isso faça perigar a sua dignidade e as suas rotinas diárias. Pelo contrário, nos países menos desenvolvidos, um jogo de futebol entre os grandes é como se fosse uma batalha entre facções desentendidas onde se disputa o futuro da Nação. Os dias de derbi são muito mais agitados do que os dias de eleições. As reacções dos adeptos vitoriosos são incomparavelmente mais barulhentas e perigosas do que as dos eleitores dos partidos vencedores de eleições, sem embargo dos resultados eleitorais terem consequências muito mais profundas na vida das pessoas do que os resultados do futebol.
Mas, tal como na politica, o futebol move milhões e afecta decisivamente as vidas de algumas pessoas. Os preços dos jogadores (e agora tambem dos treinadores) são escandalosos face às dificuldades que passam a generalidade das pessoas nas suas vidas dificeis, mas que curiosamente não suscitam nem criticas nem inquéritos (jornalisticos ou publicos) sobre o valor das transacções ou a proveniencia dos milhões nelas envolvidos. De onde vêem, para onde vão? Quem os recolhe e quem os proporcionou? Ninguem se interessa, nem ninguem questiona. Só se sabe que o jogador X comprou uma casa milionária ou um carro espanpanante, ou que o agente Y embolsou mais Z milhões numa intermediação futebolistica que trouxe esperança e alegria a muitos adeptos. Tudo certo. Tal como o sol nascer de manhã ou a lua estar cheia à noite. Na politica as coisas são porem melhor escrutinadas porque nem toda a gente aceita que um politico vindo das berças (vêm quase todos) fique rico de repente e passe a frequentar os meios sociais que poucos anos antes desconhecia existirem ou lhe eram vedados. Mas mesmo assim a corrupção medra como a água entre as pedras e torna-se dificil destapar o corrupto. Se se puxa por um lado descobre-se-lhe os pés; se se puxa por outro descobre-se-lhe a cabeça. Assim é melhor não puxar muito pelo lençol, senão fica tudo às claras.
O campeonato portugues de futebol deste ano está ao rubro, pois as equipas que vulgarmente se conformavam ou em ficar no 3ª ou no 4ª lugares da tabela classificativa, ou mesmo as que sistematicamente lutavam nos ultimos lugares para não baixar de divisão, estão a aproximar-se perigosamente dos chamados 3 grandes, querendo mostrar-lhes que o campeonato não é só deles e que há que contar até ao ultimo jogo com todos para a disputa do titulo de campeão nacional. Ora isto é bom, desportivamente e socialmente. Desportivamente porque mostra que quase todos os clubes estão em condições de conseguir o que só alguns (mais ricos, mais bem relacionados, mais protegidos) habitualmente vêem conseguindo; e socialmente porque a democracia parece ter chegado ao futebol que se tem tornado apesar de tudo mais aberto e mais acessivel aos bons jogadores e aos treinadores mais promissores. Oxalá que este progresso seja sinal de que finalmente (atavés do futebol) Portugal se está a aproximar dos países europeus mais desenvolvidos. Mesmo assim este ano não creio que o campeonato escape ainda ao Porto ou ao Benfica. Para o próximo veremos.
ALBINO ZEFERINO 8/3/2020
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