sábado, 21 de março de 2020
O CORONAVIRUS E O FUTURO
A violencia com que esta epidemia está a atacar o mundo e as subitas alterações à vida das pessoas que tem provocado, leva-me a pensar que, quanto mais tempo demorar o combate à sua contenção, mais este flagelo será a origem duma profunda transformação dos velhos hábitos e costumes próprios da nossa forma de viver. Senão vejamos!
As determinações governamentais para a contenção da disseminação do virus no mundo inteiro (umas mais profundas, outra mais céleres e outras ainda, mais certeiras do que as outras) vão todas no mesmo sentido: isolamento dos infectados, quarentena dos mais vulneráveis, tratamento dos mais doentes, enterro dos mortos, fecho de escolas, proibição de aglomerações e sobretudo elaboração de estatisticas comparativas do avanço da epidemia nos diversos países e regiões, como se estivessemos numa partida de futebol, a ver quem mete mais golos. Sobre o grau de avanços cientificos na descoberta da vacina salvadora? Nada! Sobre o esforço do investimento na investigação cientifica nesta área? Nada! Sobre as expectativas da evolução da tragédia? Tambem nada! Só palpites. Talvez esteja dominada dentro de dois ou tres meses; Talvez acabe expontâneamente; Talvez apareça, por milagre, uma vacina salvadora; Há até uns curiosos que estão a alertar a malta para o surgimento duma nova vaga do virus até ao final do ano. Credo! Pois se ainda não foi atingido o pico desta!
Para desviar as atenções, as preocupações vão agora no sentido da preservação das democracias, dos empregos para a vida, das poupanças individuais, dos negócios de vão de escada, dos privilégios politicos, do salvamento do mundo através do ambiente, enfim, da preservação do status quo que o coronavirus está a pôr em causa. Esta gente ainda não percebeu que esta pandemia está a mudar o mundo! O previsor de catástrofes Roubini prevê que a Europa poderá sair mais forte desta crise, ou então ficar devastada. Este não faz por menos: ou ganhamos todos, ou perdemos todos!
A meu ver, o mundo continuará com os seus problemas estruturais, mas será diferente na sua organização. As democracias, por exemplo, continuarão formalmente. Mas serão mais dirigistas. As pessoas não serão obrigadas a fazer o que os governos determinam à força, como era dantes nas chamadas ditaduras (do proletariado como na URSS, ou orgânicas como na Alemanha de Hitler ou na Itália de Mussolini), mas sim através do convencimento (chame-se-lhe propaganda, lábia, ignorância, ou o que se quiser). Basta um discurso bem elaborado e sobretudo bem dito para convencer uma maioria de imbecis. A educação será diversificada: os programas pedagógicos nos colégios privados (mais caros e selectivos) serão diferentes dos das escolas publicas (mais generalistas e intelectualmente mais acessiveis). Igualmente na saude haverá dois niveis: a saude privada com os seus hospitais privados (mais cara e menos acessivel a quem não tenha seguros de saude mais abrangentes) e a saude publica (nos hospitais publicos, sempre cheios e com filas de espera, mas de graça). O trabalho deixará de ser para a vida (fixo, permanente, cheio de direitos e com poucos deveres) dando lugar ao trabalho flexivel (ou precário), mais dinâmico e competitivo, favorecendo a produtividade e a criação de riqueza. Os Estados tenderão a diminuir as suas competências em favor do sector privado, comprovadamente mais vocacionados para o lucro através da competitividade. O papel dos sindicatos voltará às suas origens históricas, defendendo apenas os interesses meramente laborais dos seus associados junto do patronato e abandonando as acções claramente do âmbito da politica (manifestações laborais com objectivos politicos e com apoios politicos organizados para o efeito). O teletrabalho (já instalado em vários países europeus) será a regra e apenas as funções que impliquem a presença fisica do trabalhador no local de trabalho prevalerão.
A UE caminhará resolutamente para uma federação de Estados independentes entre si mas dependentes de politicas comuns de âmbito comunitário, decididas em conjunto mas aplicadas individualmente por cada um dos Estados e sempre obedecendo aos mesmos principios. Para assegurar o cumprimento das determinações comunitárias serão criadas forças policiais de âmbito comunitário (como o FBI, a CIA, a DEA e outras forças equivalentes nos EUA) e será aumentado o âmbito de acção dos tribunais da UE que passarão a ser tribunais de recurso dos EM.
Deste modo, cada país será livre de aderir isoladamente a cada uma das politicas comuns da UE. Desde que adira (mediante adesão formal para cada politica) será considerado EM (nessa politica). Haverá assim vários niveis de adesão para cada país (a chamada politica dos circulos concêntricos), que poderá incluir, a diversos níveis, vários países, uns mais comunitarizados do que outros.
ALBINO ZEFERINO 21/3/2020
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