domingo, 22 de março de 2020

ESTE MUNDO NÃO É PARA VELHOS


          À medida que os dias passam e a informação flui, podem começar já a detectar-se alguns elementos de facto que caracterizam esta feroz pandemia que nos assola. O primeiro dos quais, talvez mesmo o elemento essencial da nova peste, é que a doença ataca mais os velhos do que os novos. As defesas orgânicas dos mais velhos estão diminuidas (tal como a generalidade dos seus sistemas orgânicos, como seja, a sua capacidade respiratória, a sua atenção, a sua visão, o seu ouvido, etc.), em suma, a sua energia vital não é a mesma do que quando eram mais novos. Deste modo, o virus ataca os velhos mais forte e mais intensamente do que ataca os mais novos (os que estão como se diz "na força da vida"). Parece mesmo que nos mais novos o virus entra e sai do seu corpo quase sem eles darem por isso, enquanto que nos mais velhos ele entra insidiosa e subrepticiamente sem cerimónias nem pré-aviso e aloja-se no corpo deles sem que haja maneira de o expulsar, até que o corpo do velho pára de viver. A descrição do fenómeno é tão brutal quanto a evidência dos numeros conhecidos de mortes pelo novo e desconhecido coronavirus parece mostrar.
          Este facto já conhecido, leva os mais preocupados com o trágico fenómeno, a traçarem estratégias de erradicação da epidemia (na falta de vacinas salvadoras, que tardam) que fundamentalmente se podem dividir em duas: uma é a do combate (quase bélico) travado nos hospitais contra a doença (que não tem conseguido suster a sua disseminação geral, à excepção, parece que, da China), acompanhada duma quarentena forçada dos ainda não contaminados, que (apesar de, até agora, ter sido bem recebida pelas populações assustadas) só poderá produzir resultados úteis, se for aplicada com determinação por uma força publica eficaz, o que a democracia não permite (fecho militarizado das fronteiras terrestres, aéreas e maritimas) e por um confinamento obrigatório nas residencias ou nos locais de trabalho de toda a gente, sem excepção.
          Dado que esta estratégia não tem conseguido resultados palpáveis até agora (bem pelo contrário, o numero de infectados e de mortos não cessa de aumentar), surgiu uma nova estratégia que se traduz no confinamento obrigatório dos velhos acima dos 70 anos (os mais vulneráveis ao contágio e portanto os mais atingidos pela morte, porque menos resistentes aos anti-virus conhecidos), deixando a restante população ser infectada pelo virus, com uma taxa de mortes previsivel e controlável. Deste modo, a epidemia seria erradicada a prazo, logo que 60 ou 70 por cento da população tivesse sido infectada e curada (e portanto tendo ficado imune ao virus).
          Esta solução (aparentemente sedutora) não oferece a meu ver garantias de sucesso, uma vez que é por enquanto desconhecida a reacção do virus (que é mutável e insidioso) a um contágio generalizado e tambem me parece dificil (se não impossivel) conter sem oposição todos os velhos a esse confinamento obrigatório efectivo e absoluto.
          Em conclusão, poderá dizer-se que, sem velhotes, a coisa teria mais hipóteses de ser debelada, deixando o virus à solta e assumindo matematicamente a perda de X % de mortos para que Y % da população possa sobreviver. Dilema preverso!


                    ALBINO  ZEFERINO                                                      22/3/2020

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