Muito se tem falado ultimamente da privatização da
RTP como se de uma novidade se tratasse. Desde que há mais de um ano
Portugal está submetido a uma intervenção internacional que o assunto
estava previsto com um unico objectivo: suster a hemorragia financeira
que o funcionamento da estação televisiva do Estado representa para o
erário publico. Todos os dias o Estado portugues gasta (através dos
impostos que cobra aos seus cidadãos) milhares de euros do orçamento
do Estado para que o ecran das televisões dos lares portugueses possa
mostrar as alarvidades do Fernando Mendes, as noticias requentadas do
Rodrigues dos Santos ou os jogos de futebol entre o Estoril-Praia e o
Rio Ave. Contas feitas, cada graçola televisiva do Mendes sai mais
cara a cada um de nós do que uma ida ao recreativo de Alguidares de
Baixo para ver o homem ao vivo, ou um golo em camara lenta televisiva
custa a cada portugues mais do que assistir da bancada central à
totalidade do jogo do Sporting em Alvalade enrolado no cachecol e com
gritaria à mistura.
Quando há mais de meio século a televisão nasceu
em Portugal não havia outro meio que não fosse o Estado para arcar com
essa despesa. Assim se foi criando nos espíritos simples dos
portugueses o conceito ridiculo do serviço publico para justificar uma
despesa que mais ninguem alem do Estado tinha capacidade para
suportar. A troco desse encargo o governo passou a utilizar este
poderoso meio propagandistico para fazer politica através dele. Como
uma bola de neve, a uma cada vez maior politização deste influente
meio audiovisual corresponderam maiores gastos na sofisticação
técnica, na contratação de apoiantes politicos, na escolha de
coberturas, na aquisição de conteudos e em apoios financeiros nem
sempre muito claros. Quem não se recorda do momento histórico quando
foi cortado o pio televisivo ao obscuro e barbudo capitão Clemente na
noite do contra-golpe do 25 de novembro de 1975, quando este perorava
na RTP as virtudes do comunismo para milhares de confundidos
portugueses que o ouviam (e viam) embasbacados na sua alarvidade? Sem
a televisão do Estado não teria havido 25 de novembro e talvez hoje
não estivessemos como estamos.
Com a abertura ao sector privado das televisões
deixou de fazer sentido a existência de um canal do Estado concorrente
com as televisões privadas cujo objectivo já não era exclusivamente
politico mas fundamentalmente o de ganhar dinheiro através da
publicidade. Retirar aos politicos um meio fácil e expedito de
comunicar com as gentes era porém muito dificil sem uma imposição
estrangeira. Foi assim necessária a intervenção da troika para que a
privatização da RTP ocorresse. Tarefa ingrata para o governo que a tem
que por em prática. Nunca se chegará a acordo entre os partidos pelo
melindre que este exercício representa e poderá mesmo vir a revelar-se
a mais complicada entre todas as reformas a executar. Não nos iludamos
com os argumentos esgrimidos pelas oposições usando demagogicamente o
conceito de serviço publico que a Constituição politica estupida e
desnecessariamente acolheu no seu extenso articulado. O serviço
publico é definido pelo governo caso a caso e significa sobretudo o
livre acesso do canal ao governo quando este entender necessario
comunicar com os governados assuntos de interesse publico. Esse acesso
deverá ficar ressalvado nas condições da privatização. Nem mais nem
menos.
ALBINO ZEFERINO
1/9/2012
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