Nesta época natalícia quase a terminar mais um ano
é costume fazerem-se balanços. Nas empresas, nas vidas, nas familias,
nos propósitos de cada um e até na acção dos governos. Antigamente não
era costume escrutinar a acção dos governos de tão perto e tão
esmiuçadamente como agora. Hoje critica-se diariamente a acção dos
ministros por dá cá aquela palha com a cobertura despudorada e
superficial da imprensa (eles preferem chamar-lhe "em directo") sem
cuidados analiticos ou comparados que possam dar aos destinatários das
noticias uma ideia generica e global da acção governativa. Irei hoje,
à laia de balanço anual, tentar fazer uma comparação desapaixonada
entre o país que os socialistas nos deixaram e aquele que hoje existe.
Começando por uma área onde só os obstinados não
reconhecem as melhorias, é óbvio que a saúde em Portugal melhorou
muito. Do exercicio incontrolado do sistema nacional de saúde, onde o
acesso generalizado aos cuidados de saude era proporcionado
automaticamente sem qualquer triagem clinica ou preocupação
terapeutica, arrastando despesas incontroláveis para o erário publico
e para a subsistencia do próprio SNS, passou-se para uma situação
onde, sem pôr em causa as virtualidades do sistema, existe um controle
adequado nas prestações de cuidados de saúde a todos os níveis
(urgencias, consultas externas, tratamentos ambulatórios,exames
clinicos, horários das consultas, listas de espera, organização dos
centros de saúde,fiscalização do fornecimento medicamentoso,
reorganização da gestão hospitalar, renegociação das parcerias
publico-privadas na saúde, controle na actividade médica, etc.etc.)
que se reflectiram em poupanças substanciais no sector e que
permitiram a subsistencia do próprio sistema, sem perda de qualidade
para os utentes, nem diminuição do seu carácter universal.
Na educação (outro dos sectores mais gastadores
do Estado) se verificaram melhorias substanciais. Foi resolvida a
questão da colocação e da avaliação dos professores que tanta celeuma
provocou durante o governo anterior. Nunca mais se ouviu falar da
FENPROF e do seu Mário Nogueira, nem das greves barulhentas na 5 de
outubro, nem das greves nas escolas. O sistema de ensino foi
reestruturado, acabou-se com o escandalo do "parque escolar" e com a
espúria fundação do computador Magalhães, a rede escolar foi
redimensionada, a autonomia universitária foi regulamentada (o
escandalo das faculdades- fundação foi eliminado) e nasceu um sistema
de colaboração permanente entre a investigação universitária e as
empresas. Muito mais ainda poderá ser feito neste dominio, mas o certo
é que o ministro vai por bom caminho.
Na segurança social enfrentou-se pela primeira
vez sem subterfugios ou tergiversações o verdadeiro problema deste
importante sector, que consiste na sustentação financeira do próprio
sistema. Enquanto que antes (do tempo da luminária com cara de gorila
mal disposto do Ferro Rodrigues) as preocupações se reduziam ao
alastramento da concessão do subsidio de reinserção social (qual
mancha de óleo), concedido sem critério a qualquer amigo ou amigo de
amigo que se comprometesse a votar no PS, sem curar da cobertura
orçamental dessa despesa deliberadamente incontrolada (o recurso aos
empréstimos externos era a solução milagrosa para todas as loucuras
socialistas), o actual governo procura encontrar uma solução estável
para o magno problema do aumento da despesa com as prestações sociais
(que cresceram ao ritmo da taxa de desemprego) sem comprometer a
concessão das mesmas aos que delas efectivamente necessitam.
Na área das instituições próprias da soberania, a
segurança publica melhorou substancialmente, a defesa está em fase de
reestruturação (em função do novo conceito de defesa nacional), os
negócios estrangeiros estão adaptando-se aos novos mercados e à
mudança de paradigmas internacionais e apenas a Assembleia da
Republica não conseguiu ainda reestruturar-se (tanto no numero
excessivo de deputados que exibe, como na sua composição organizativa
excessivamente cara, vg. restaurante, ajudas de custo, subsidios de
deslocação generalizados, meios de transporte proporcionados pelo
Estado, excesso de pessoal de apoio aos gabinetes parlamentares,
outsourcing despesista, etc. etc.). Do mesmo modo, este governo ainda
não conseguiu reduzir substancialmente as despesas com as autarquias
locais. Enredado em preocupações eleitoralistas, o governo ainda não
tomou firme a determinação inevitável de reestruturar a organização
administrativa do país no sentido de uma racionalização (leia-se
redução do numero) das autarquias locais e das suas competencias.
Tambem a presidencia da Republica exibe demasiadas despesas para as
competencias que detém. A subsidiarização parcial e pontual dos
assessores presidenciais nos momentos em que o presidente deles
necessitasse e a redução das mordomias presidenciais (criados,
seguranças, motoristas, residencias, assessores e consultores a tempo
inteiro, secretárias, jardineiros, casa civil e militar, etc. etc.)
seriam medidas apropriadas à situação de penuria em que o país se
encontra.
No campo da justiça (verdadeiro barómetro do grau
de desenvolvimento cívico de um povo) a coisa ainda não está tratada,
apesar das promessas da esforçada ministra que se desdobra em
declarações de intenção, mas que na realidade ainda nada de
substancial conseguiu mudar. As resistencias às mudanças
progressivamente anunciadas pela ministra (mas sempre adiadas),
protagonizadas pelas poderosas organizações sindicais de juizes e de
procuradores, que não querem prescindir das regalias de que gozam,
desde que se convenceram de que cada um deles individualmente
representa um dos poderes do Estado (sem perceberem que a abstracção
do conceito apenas pretende consagrar que o poder judicial é
independente dos outros poderes do Estado), não têm permitido
erradicar as pérfidas epidemias da corrupção, do abuso de poder, da
discriminação entre arguidos, da violação do segredo de justiça, da
deficiente organização jurisdicional do país, enfim, da justiça em
geral, enleada em teias de interesses tecidas pelos partidos politicos
nestes anos de democracia mal enjorcada. Aqui o balanço é claramente
negativo, mais pelo compadrio com as forças obstaculizadoras, do que
pelas intenções da esforçada ministra que é sabedora, esforçada e
tenaz. Mas não o suficiente.
No sector económico do Estado tambem pouco tem sido
feito. A deficiente organização governativa do sector, com vários
ministros a mexerem no mesmo saco (ainda por cima de partidos e
orientações politicas diferentes dentro do governo), que despejam
sobre os sobrecarregados secretários de Estado matérias da maior
sensibilidade politica (como as privatizações, por exemplo) não tem
ajudado nada à necessária reestruturação do país. A eliminação de
institutos publicos inuteis, bem como a privatização ou eliminação de
empresas publicas deficitárias (como as dos transportes, da
radiodifusão, da banca do Estado e outras) não tem obedecido a
qualquer estratégia, mais parecendo constituir cada uma delas uma
novela televisiva com actores variados, desde o tradicional vilão ao
heroi que fica com a gaja boa no final. A recente incursão do ministro
da Economia na área reservada do das Finanças a propósito da proposta
de redução drástica do IRC (como quem descobre a pólvora em plena
batalha) é boa prova do que afirmo, sobretudo depois do fiasco da
tentativa desajeitada de alterar a TSU.
Finalmente, nas Finanças a obra do ministro Gaspar
tem sido notável. Fazer baixar em escassos 2 anos o nível de
endividamento portugues, que há decadas não parava de subir, é obra.
Como tambem tem sido obra a renegociação permanente com a troika das
condições impostas pelos nossos credores no sentido de aligeirar o
esforço de adaptação do país às novas condições de sobrevivencia.
Pouco se tem falado deste trabalho permanente e exaustivo que a equipa
de Gaspar (onde se destaca o secretário de Estado Moedas) tem feito em
favor da recuperação do país. Não tem sido porem tão bem sucedido o
resultado do trabalho no esforço para o abaixamento do defice. A
dificuldade sentida no corte dos gastos pelo lado da despesa publica
tem vindo a sobrecarregar desnecessariamente a factura fiscal dos
cidadãos, o que traz consigo efeitos negativos na imagem do governo. A
negociação permanente com o parceiro da coligação sobre as estratégias
a seguir no que se refere aos cortes pelo lado da despesa não tem
permitido a fluidez desejada na adaptação do défice orçamental às
regras comunitárias. Mesmo assim, o défice baixou mais de 3 pontos
percentuais em 2 anos e as projecções apontam para que se atinjam os
valores calculados para o final da legislatura. Tambem a reconversão
do funcionalismo publico, não só no seu redimensionamento, mas
sobretudo na requalificação dos seus elementos, tem sofrido alguns
atrasos causados maioritariamente pelos sindicatos do sector, que
mostram pouca sensibilidade na abordagem global da situação.
Last but not least, o primeiro-ministro tem
demonstrado uma determinação a toda a prova. Num país de governação
muito dificil, Passos Coelho tem demonstrado uma maturidade inesperada
num homem tão jovem e politicamente inexperiente como ele era.
Conseguiu entrar na intimidade e nas boas graças da chefe da Europa
onde estamos inseridos e de quem dependemos cada vez mais. Delineou e
executou uma estratégia de alianças intercontinentais notável. A sua
aproximação à China e a Angola já está a produzir frutos e quem sabe
se a longo prazo não nos confira um papel de distribuidor de jogo para
o que sempre fomos dotados. O povo portugues é desconfiado e não gosta
de mudanças rápidas. Salazar compreendeu isso muito bem e depressa.
Talvez por isso tenha ficado 48 anos no poder. Passos Coelho não
ambicionará certamente a tanto. Mas o que ambiciona é deixar Portugal
mais direito e escorreito do que quando o recebeu. E por este andar
acredito que o faça. Feliz Ano Novo!
quinta-feira, 27 de dezembro de 2012
segunda-feira, 24 de dezembro de 2012
ATÉ QUE PONTO A EUROPA PRECISA DE PORTUGAL?
Parece não haver qualquer duvida de que Portugal
precisa neste momento da União europeia mais do que nunca. Talvez seja
por isso que Mário Soares ainda não tenha sido apupado como parece
estar a pedir com as disparatadas crónicas que ainda vai escrevendo
aqui e acolá. Mas será que a União precisa de Portugal tanto como ele
dela? Não creio que o amor seja recíproco. A Europa precisa de
Portugal tanto quanto precisa da Grécia, da Irlanda ou de Chipre,
apenas na medida em que a saída da União de qualquer um destes países
se traduziria no desmoronar dum ambicioso projecto de decadas, que
está colado ainda com cuspo. Para Portugal, porém, a pertença à União
europeia tem sido a sua salvação. Sem a ajuda financeira de que
beneficiam, os tugas já tinham desaparecido do mapa, como
desapareceram os celtas e os visigodos que por aqui cirandaram há anos
até à sua desagregação.
Portugal não produz nem vende nada para a Europa
que lhe seja indispensável. Sapatos, texteis, vinhos, componentes
automóveis, etc. encontram-se em qualquer lado tão bons e mais baratos
do que aqui. Os serviços estão cada vez piores e mais caros e
património transaccionável há cada vez menos. As famosas praias
continuam bravas e ventosas para o gosto dos europeus habituados às
calmarias mediterranicas e o nível de sofisticação dos serviços
turisticos vai de mal a pior (como tudo, de resto). Para sobreviver
para além do necessário ao que a Europa precisa, há que fazer mais.
Mas o quê? perguntarão os (poucos) esforçados tugas que se esmifram em
manter o país de pé. Pois mudar de rumo, direi eu. Concentrar-mo-nos
naqueles países que realmente precisam de nós para além da preservação
da ideia europeia. Quais países? perguntarão os incrédulos. Todos
aqueles relativamente aos quais Portugal ainda representa qualquer
coisa que lhes diga algo e ao mesmo tempo que lhes possa ser útil nos
respectivos processos de desenvolvimento. Estou a pensar em alguns
países africanos e sul-americanos onde Portugal ainda representa
alguma coisa, em certos países árabes, sobretudo norte-africanos e no
sueste asiático. Há que criar pólos de expansão (como os hubs
aeronauticos) que sirvam de extensão multiplicadora da nossa presença.
Macau, Timor, CaboVerde, Moçambique, Austrália, Goa, Bombaim, certos
Estados do Brasil onde Portugal ainda conta, Angola (mediante
contrapartidas), certos Estados (ou regiões) norte-americanas onde
haja fortes comunidades portuguesas (S.Diego, Massachussets, Rhode
Island). No tempo dos descobrimentos, a politica exterior portuguesa
fazia-se a partir de Londres (a maior praça financeira mundial), de
Antuérpia (onde Damião de Gois instalou a primeira feitoria
portuguesa) e do interior do Brasil (onde o Padre António Vieira e os
seus jesuitas instalaram as suas missões). Mais tarde foi Goa e o
Padroado do Oriente e a instalação da colónia do Cabo na África do
Sul.
Queira o nosso ministro dos Negócios Estrangeiros
alargar as suas vistas e aproveitar o que ainda nos resta de prestígio
por esse mundo fora e talvez assim consigamos sair deste fosso com
alguma dignidade, de cabeça erguida e de mãos nos bolsos (não vergados
como varas verdes e de palma da mão para cima mendigando esmolas dos
ricos que nem para nós se dignam olhar). A Europa não precisa de nós
para se recompor (só quer que não lhes estraguemos os esquemas)
portanto não contemos com ela para grandezas. Se quisermos que nos
olhem com admiração e respeito, então façamos o que for preciso para
endireitar o país (sem o país direito nada se poderá fazer) e
preparemos a nossa estrutura diplomática com ambição e com meios para
mostrarmos lá fora quem somos e que continuamos dignos de representar
um país que foi grande mas, por agora ser pequeno, não se envergonha
do que fez nem das portas que abriu aos outros.
ALBINO ZEFERINO
24/12/2012
precisa neste momento da União europeia mais do que nunca. Talvez seja
por isso que Mário Soares ainda não tenha sido apupado como parece
estar a pedir com as disparatadas crónicas que ainda vai escrevendo
aqui e acolá. Mas será que a União precisa de Portugal tanto como ele
dela? Não creio que o amor seja recíproco. A Europa precisa de
Portugal tanto quanto precisa da Grécia, da Irlanda ou de Chipre,
apenas na medida em que a saída da União de qualquer um destes países
se traduziria no desmoronar dum ambicioso projecto de decadas, que
está colado ainda com cuspo. Para Portugal, porém, a pertença à União
europeia tem sido a sua salvação. Sem a ajuda financeira de que
beneficiam, os tugas já tinham desaparecido do mapa, como
desapareceram os celtas e os visigodos que por aqui cirandaram há anos
até à sua desagregação.
Portugal não produz nem vende nada para a Europa
que lhe seja indispensável. Sapatos, texteis, vinhos, componentes
automóveis, etc. encontram-se em qualquer lado tão bons e mais baratos
do que aqui. Os serviços estão cada vez piores e mais caros e
património transaccionável há cada vez menos. As famosas praias
continuam bravas e ventosas para o gosto dos europeus habituados às
calmarias mediterranicas e o nível de sofisticação dos serviços
turisticos vai de mal a pior (como tudo, de resto). Para sobreviver
para além do necessário ao que a Europa precisa, há que fazer mais.
Mas o quê? perguntarão os (poucos) esforçados tugas que se esmifram em
manter o país de pé. Pois mudar de rumo, direi eu. Concentrar-mo-nos
naqueles países que realmente precisam de nós para além da preservação
da ideia europeia. Quais países? perguntarão os incrédulos. Todos
aqueles relativamente aos quais Portugal ainda representa qualquer
coisa que lhes diga algo e ao mesmo tempo que lhes possa ser útil nos
respectivos processos de desenvolvimento. Estou a pensar em alguns
países africanos e sul-americanos onde Portugal ainda representa
alguma coisa, em certos países árabes, sobretudo norte-africanos e no
sueste asiático. Há que criar pólos de expansão (como os hubs
aeronauticos) que sirvam de extensão multiplicadora da nossa presença.
Macau, Timor, CaboVerde, Moçambique, Austrália, Goa, Bombaim, certos
Estados do Brasil onde Portugal ainda conta, Angola (mediante
contrapartidas), certos Estados (ou regiões) norte-americanas onde
haja fortes comunidades portuguesas (S.Diego, Massachussets, Rhode
Island). No tempo dos descobrimentos, a politica exterior portuguesa
fazia-se a partir de Londres (a maior praça financeira mundial), de
Antuérpia (onde Damião de Gois instalou a primeira feitoria
portuguesa) e do interior do Brasil (onde o Padre António Vieira e os
seus jesuitas instalaram as suas missões). Mais tarde foi Goa e o
Padroado do Oriente e a instalação da colónia do Cabo na África do
Sul.
Queira o nosso ministro dos Negócios Estrangeiros
alargar as suas vistas e aproveitar o que ainda nos resta de prestígio
por esse mundo fora e talvez assim consigamos sair deste fosso com
alguma dignidade, de cabeça erguida e de mãos nos bolsos (não vergados
como varas verdes e de palma da mão para cima mendigando esmolas dos
ricos que nem para nós se dignam olhar). A Europa não precisa de nós
para se recompor (só quer que não lhes estraguemos os esquemas)
portanto não contemos com ela para grandezas. Se quisermos que nos
olhem com admiração e respeito, então façamos o que for preciso para
endireitar o país (sem o país direito nada se poderá fazer) e
preparemos a nossa estrutura diplomática com ambição e com meios para
mostrarmos lá fora quem somos e que continuamos dignos de representar
um país que foi grande mas, por agora ser pequeno, não se envergonha
do que fez nem das portas que abriu aos outros.
ALBINO ZEFERINO
24/12/2012
domingo, 23 de dezembro de 2012
OPINIÕES PERVERSAS
Em democracia todas as opiniões são livres. Sejam
as dos inteligentes ou as dos burros. As dos ignorantes ou as dos
letrados. Devem é ser sérias e reflectir verdadeiramente aquilo que os
seus autores pensam e sentem. De contrário são perversas. Enganam os
leitores, fazendo-lhes crer que a realidade é uma quando de facto é
outra. Em politica diz-se prosaicamente que são opiniões demagógicas.
Ora a demagogia é a doença da democracia. Uma opinião defendida com
demagogia é perversa porque leva os leitores ou ouvintes a acreditar
em falsidades em vez de os convencer da sua razão com argumentos
lógicos, verdadeiros e críveis.
Vem isto a propósito duma crónica publicada na
revista "Visão" desta semana assinada por um ilustre académico que
virou político, mas daqueles que querem experimentar de tudo. Da
extrema-direita à extrema esquerda. Diz o dito-cujo do alto da sua
sapiência que "manter ou deixar aprofundar um fosso enorme entre ricos
e pobres era dividir a Cidade contra si mesma e por isso abrir as
portas à revolução ou à tirania". A partir desta verdade lapalissiana,
o douto autor da tal crónica espraia o seu confuso raciocinio através
de citações pseudo-filosóficas até chegar à constituição francesa de
1791, saída da famosa Revolução, para ressaltar as virtudes do sistema
geral dos Socorros Públicos, que recolhia as crianças abandonadas e
dava trabalho aos pobres, terminando com um desabafo pessoal entre
parentesis: quem nos dera ao menos isto! Continuando o seu desvairado
raciocinio, o excelso professor critica o pensamento conservador
anglo-saxónico tal como Edmund Burke o descreveu nas suas "Reflexões
sobre a Revolução em França", onde este ressalta as virtudes do
liberalismo económico, terminando com uma citação da obra de Burke,
onde ele diz :"Para além disso, quanto menos o Estado fizer, melhor; o
resto fica nas mãos de Deus". O tom crítico que o distinto cronista
visionário assume relativamente ao pensamento conservador britânico de
Burke (1729-97) comparando-o com a Doutrina Social da Igreja, conforme
definida no Concílio Vaticano II, mais de 200 anos depois, demonstra a
demagogia presente nesta crónica, que deliberadamente tenta confundir
os seus leitores ao concluir magistralmente: "Por isso, os católicos
que ainda não a tiverem feito, vão ter de fazer rapidamente a sua
opção". Nem um empedrenido marxista faria melhor.
ALBINO ZEFERINO
22/12/2012
as dos inteligentes ou as dos burros. As dos ignorantes ou as dos
letrados. Devem é ser sérias e reflectir verdadeiramente aquilo que os
seus autores pensam e sentem. De contrário são perversas. Enganam os
leitores, fazendo-lhes crer que a realidade é uma quando de facto é
outra. Em politica diz-se prosaicamente que são opiniões demagógicas.
Ora a demagogia é a doença da democracia. Uma opinião defendida com
demagogia é perversa porque leva os leitores ou ouvintes a acreditar
em falsidades em vez de os convencer da sua razão com argumentos
lógicos, verdadeiros e críveis.
Vem isto a propósito duma crónica publicada na
revista "Visão" desta semana assinada por um ilustre académico que
virou político, mas daqueles que querem experimentar de tudo. Da
extrema-direita à extrema esquerda. Diz o dito-cujo do alto da sua
sapiência que "manter ou deixar aprofundar um fosso enorme entre ricos
e pobres era dividir a Cidade contra si mesma e por isso abrir as
portas à revolução ou à tirania". A partir desta verdade lapalissiana,
o douto autor da tal crónica espraia o seu confuso raciocinio através
de citações pseudo-filosóficas até chegar à constituição francesa de
1791, saída da famosa Revolução, para ressaltar as virtudes do sistema
geral dos Socorros Públicos, que recolhia as crianças abandonadas e
dava trabalho aos pobres, terminando com um desabafo pessoal entre
parentesis: quem nos dera ao menos isto! Continuando o seu desvairado
raciocinio, o excelso professor critica o pensamento conservador
anglo-saxónico tal como Edmund Burke o descreveu nas suas "Reflexões
sobre a Revolução em França", onde este ressalta as virtudes do
liberalismo económico, terminando com uma citação da obra de Burke,
onde ele diz :"Para além disso, quanto menos o Estado fizer, melhor; o
resto fica nas mãos de Deus". O tom crítico que o distinto cronista
visionário assume relativamente ao pensamento conservador britânico de
Burke (1729-97) comparando-o com a Doutrina Social da Igreja, conforme
definida no Concílio Vaticano II, mais de 200 anos depois, demonstra a
demagogia presente nesta crónica, que deliberadamente tenta confundir
os seus leitores ao concluir magistralmente: "Por isso, os católicos
que ainda não a tiverem feito, vão ter de fazer rapidamente a sua
opção". Nem um empedrenido marxista faria melhor.
ALBINO ZEFERINO
22/12/2012
segunda-feira, 17 de dezembro de 2012
AS REFORMAS E OS REFORMADOS
A propósito do orçamento do Estado para 2013 e nas
reacções que se verificaram aos cortes que prevê nas pensões,
ocorreu-me pensar um pouco mais sobre este fenómeno. À primeira vista
parecem justificadas essas reacções perante a ferocidade com que o
legislador parece atirar-se às reformas acima de 1500€ mensais,
classificadas por este na categoria de milionárias. Num país onde o
salário minimo não chega aos 500€ e o ordenado médio não passa dos mil
euros, uma pensão acima de 1500€ poderá parecer um luxo. Mas não é! Na
maioria dos países europeus sócios de Portugal na UE, 1500€ mensais
são pouco mais do que o salário minimo nacional. E é com esses países
que Portugal se quer comparar e com eles constituir um mesmo modelo de
desenvolvimento. O que estará mal então? Aparentemente será o nível
dos salários em Portugal. Porém se se diz (e com razão) que os
portugueses ganham mais do que produzem, onde ficamos? Como podemos
exigir maiores reformas se aceitamos a evidência da necessidade de
reduzir o nível salarial dos portugueses? A meu ver, esta é mais uma
prova da disfuncionalidade do regime social existente em Portugal. Não
é possivel ganhar menos do que os outros enquanto se trabalha (pagando
naturalmente menos impostos) e depois receber pensões compensatórias
no fim da vida.
Enquanto não for reformado o sistema das pensões
em Portugal, introduzindo na cabeça das pessoas que o seu sustento
depois de reformados não pode (nem deve) caber exclusivamente às
caixas de pensões, tal como o Estado não pode (nem deve) garantir
emprego para todos, nem saúde gratuita para todos, nem educação de
borla para todos, o que há a fazer é moralizar o sistema. Aqueles que
manifestamente estão recebendo aquilo que não merecem, devem
devolvê-lo; os que não recebem o equivalente ao que descontaram, devem
por seu turno ser compensados. E isto é fácil de fazer através dos
impostos. Por isso, a tal ferocidade legislativa deverá ser conduzida,
a meu ver, duma maneira menos cega e mais dirigida àqueles que a
merecem. Porque razão um tipo que trabalhou (mesmo que tenha sido bom)
um par de anos no Parlamento ou no governo ou seja lá onde tiver sido,
recebe por isso uma choruda pensão? Não seria preferivel que recebesse
apenas uma pensão pelo tempo efectivo trabalhado em determinado sitio,
independentemente dos biscates que tenha feito noutros sitios
(normalmente em regime de requisição ou destacamento para não perder a
antiguidade nem o lugar de origem, obrigando à contratação dum
eventual para fazer o seu lugar e que normalmente por lá ficava mesmo
quando o titular regressava)? Temos centenas senão milhares de
exemplos destes (de malta que usufrui de duas, tres ou mesmo quatro
pensões simultaneamente) e que ainda por cima se queixam. São estes
que devem ser feroz e impiedosamente punidos pelas situações que eles
próprios criaram (atribuindo-se a si próprios pensões chorudas à custa
de outros que recebiam pensões miseráveis comparadas com as suas) ou
tornando-se indispensáveis para exercer determinada tarefa que
qualquer outro faria melhor do que eles.
O conceito de Estado social (ou socialista) não é
em si próprio inconveniente numa sociedade evoluida. Deverá é ser
entendido não como uma panaceia para todos os males da sociedade, mas
sim como condutor de caminhos ou orientador de decisões individuais
próprias de sociedades evoluidas. O contrário é próprio de Estados
atrasados, ditatoriais ou oligarquicos, que devem ser combatidos e
excluidos da comunidade de nações.
ALBINO
ZEFERINO 17/12/2012
reacções que se verificaram aos cortes que prevê nas pensões,
ocorreu-me pensar um pouco mais sobre este fenómeno. À primeira vista
parecem justificadas essas reacções perante a ferocidade com que o
legislador parece atirar-se às reformas acima de 1500€ mensais,
classificadas por este na categoria de milionárias. Num país onde o
salário minimo não chega aos 500€ e o ordenado médio não passa dos mil
euros, uma pensão acima de 1500€ poderá parecer um luxo. Mas não é! Na
maioria dos países europeus sócios de Portugal na UE, 1500€ mensais
são pouco mais do que o salário minimo nacional. E é com esses países
que Portugal se quer comparar e com eles constituir um mesmo modelo de
desenvolvimento. O que estará mal então? Aparentemente será o nível
dos salários em Portugal. Porém se se diz (e com razão) que os
portugueses ganham mais do que produzem, onde ficamos? Como podemos
exigir maiores reformas se aceitamos a evidência da necessidade de
reduzir o nível salarial dos portugueses? A meu ver, esta é mais uma
prova da disfuncionalidade do regime social existente em Portugal. Não
é possivel ganhar menos do que os outros enquanto se trabalha (pagando
naturalmente menos impostos) e depois receber pensões compensatórias
no fim da vida.
Enquanto não for reformado o sistema das pensões
em Portugal, introduzindo na cabeça das pessoas que o seu sustento
depois de reformados não pode (nem deve) caber exclusivamente às
caixas de pensões, tal como o Estado não pode (nem deve) garantir
emprego para todos, nem saúde gratuita para todos, nem educação de
borla para todos, o que há a fazer é moralizar o sistema. Aqueles que
manifestamente estão recebendo aquilo que não merecem, devem
devolvê-lo; os que não recebem o equivalente ao que descontaram, devem
por seu turno ser compensados. E isto é fácil de fazer através dos
impostos. Por isso, a tal ferocidade legislativa deverá ser conduzida,
a meu ver, duma maneira menos cega e mais dirigida àqueles que a
merecem. Porque razão um tipo que trabalhou (mesmo que tenha sido bom)
um par de anos no Parlamento ou no governo ou seja lá onde tiver sido,
recebe por isso uma choruda pensão? Não seria preferivel que recebesse
apenas uma pensão pelo tempo efectivo trabalhado em determinado sitio,
independentemente dos biscates que tenha feito noutros sitios
(normalmente em regime de requisição ou destacamento para não perder a
antiguidade nem o lugar de origem, obrigando à contratação dum
eventual para fazer o seu lugar e que normalmente por lá ficava mesmo
quando o titular regressava)? Temos centenas senão milhares de
exemplos destes (de malta que usufrui de duas, tres ou mesmo quatro
pensões simultaneamente) e que ainda por cima se queixam. São estes
que devem ser feroz e impiedosamente punidos pelas situações que eles
próprios criaram (atribuindo-se a si próprios pensões chorudas à custa
de outros que recebiam pensões miseráveis comparadas com as suas) ou
tornando-se indispensáveis para exercer determinada tarefa que
qualquer outro faria melhor do que eles.
O conceito de Estado social (ou socialista) não é
em si próprio inconveniente numa sociedade evoluida. Deverá é ser
entendido não como uma panaceia para todos os males da sociedade, mas
sim como condutor de caminhos ou orientador de decisões individuais
próprias de sociedades evoluidas. O contrário é próprio de Estados
atrasados, ditatoriais ou oligarquicos, que devem ser combatidos e
excluidos da comunidade de nações.
ALBINO
ZEFERINO 17/12/2012
terça-feira, 11 de dezembro de 2012
VÃO-SE OS ANEIS MAS FIQUEM OS DEDOS
Neste processo de saneamento financeiro em que
estamos em resultado da intervenção estrangeira a que ficamos
sujeitos, surgiu a necessidade do Estado se ver livre dos "elefantes
brancos" que consomem as suas finanças em prol duma grandeza que há
muito perdemos, mas que nos custa reconhecer. Refiro-me concretamente
à TAP e à RTP. Verdadeiras instituições nacionais, estas duas empresas
publicas deixaram de fazer sentido já há longos anos, nunca tendo
havido coragem de assumir a sua morte fisica. Servindo de empregadoras
do Estado em substituição da Sacor e da Cidla dos anos 60 e 70, o
regime saído de abril nunca equacionou o seu encerramento logo que a
evidencia se impôs na sequência da abertura das televisões privadas em
Portugal e da liberalização do espaço aéreo na Europa, antes optando
pelo gasto inutil a que a preservação de tais abantesmas obrigava,
sonhando muito à portuguesa que o mau tempo passaria e que a TAP e a
RTP se voltariam a impôr como fénixes no Portugal imperial renascido.
Num país em franco desenvolvimento
compreender-se-ia uma despesa deste tipo encarada como gasto de
prestígio (tal como são justificadas as despesas denominadas
orçamentalmente como "encargos gerais da Nação" ou o foram os chamados
"adiantamentos à Coroa" nos tempos da monarquia) , mas numa fase de
contracção financeira dolorosa como a que o país hoje atravessa,
compreendem-se mal as reacções saloias ao encerramento daqueles
verdadeiros sugadores publicos, sem vantagem para ninguem a não ser
para os vagabundos que neles avidamente se penduram na busca da esmola
salvadora a que estão habituados há muito tempo, como se de coisa de
sua propriedade se tratasse. O que interessa que o comprador da TAP se
apresente como um obscuro colombiano ou o da RTP seja uma mal-afamada
empresa financeira? O que nos interessará é ver-mo-nos livres daqueles
trambolhos que há muito já não deveriam fazer parte do panorama
nacional. Quer a TAP, quer a RTP, já não valem hoje nada. Enterradas
em dívidas monumentais (apelidadas já de históricas) são entidades sem
valor que só interessam a inescrupulosos empresários que lhes buscam
valores ocultos antes de as encerrarem.
Tivesse havido a visão que faltou aos acanhados
governantes da época e estes problemas não existiriam hoje. Não
esperemos por soluções que não existem. Removamos corajosamente os
podres que outros nos deixaram. Mas façamos algo para que não nos
confundam com os que cobardemente deixaram andar situações
politicamente correctas mas financeiramente insustentáveis para um
pobre país enredado num imbróglio de muito dificil saída. Vão-se os
aneis, mas ao menos que fiquem os dedos.
ALBINO ZEFERINO
11/12/2012
estamos em resultado da intervenção estrangeira a que ficamos
sujeitos, surgiu a necessidade do Estado se ver livre dos "elefantes
brancos" que consomem as suas finanças em prol duma grandeza que há
muito perdemos, mas que nos custa reconhecer. Refiro-me concretamente
à TAP e à RTP. Verdadeiras instituições nacionais, estas duas empresas
publicas deixaram de fazer sentido já há longos anos, nunca tendo
havido coragem de assumir a sua morte fisica. Servindo de empregadoras
do Estado em substituição da Sacor e da Cidla dos anos 60 e 70, o
regime saído de abril nunca equacionou o seu encerramento logo que a
evidencia se impôs na sequência da abertura das televisões privadas em
Portugal e da liberalização do espaço aéreo na Europa, antes optando
pelo gasto inutil a que a preservação de tais abantesmas obrigava,
sonhando muito à portuguesa que o mau tempo passaria e que a TAP e a
RTP se voltariam a impôr como fénixes no Portugal imperial renascido.
Num país em franco desenvolvimento
compreender-se-ia uma despesa deste tipo encarada como gasto de
prestígio (tal como são justificadas as despesas denominadas
orçamentalmente como "encargos gerais da Nação" ou o foram os chamados
"adiantamentos à Coroa" nos tempos da monarquia) , mas numa fase de
contracção financeira dolorosa como a que o país hoje atravessa,
compreendem-se mal as reacções saloias ao encerramento daqueles
verdadeiros sugadores publicos, sem vantagem para ninguem a não ser
para os vagabundos que neles avidamente se penduram na busca da esmola
salvadora a que estão habituados há muito tempo, como se de coisa de
sua propriedade se tratasse. O que interessa que o comprador da TAP se
apresente como um obscuro colombiano ou o da RTP seja uma mal-afamada
empresa financeira? O que nos interessará é ver-mo-nos livres daqueles
trambolhos que há muito já não deveriam fazer parte do panorama
nacional. Quer a TAP, quer a RTP, já não valem hoje nada. Enterradas
em dívidas monumentais (apelidadas já de históricas) são entidades sem
valor que só interessam a inescrupulosos empresários que lhes buscam
valores ocultos antes de as encerrarem.
Tivesse havido a visão que faltou aos acanhados
governantes da época e estes problemas não existiriam hoje. Não
esperemos por soluções que não existem. Removamos corajosamente os
podres que outros nos deixaram. Mas façamos algo para que não nos
confundam com os que cobardemente deixaram andar situações
politicamente correctas mas financeiramente insustentáveis para um
pobre país enredado num imbróglio de muito dificil saída. Vão-se os
aneis, mas ao menos que fiquem os dedos.
ALBINO ZEFERINO
11/12/2012
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