Parece não haver qualquer duvida de que Portugal
precisa neste momento da União europeia mais do que nunca. Talvez seja
por isso que Mário Soares ainda não tenha sido apupado como parece
estar a pedir com as disparatadas crónicas que ainda vai escrevendo
aqui e acolá. Mas será que a União precisa de Portugal tanto como ele
dela? Não creio que o amor seja recíproco. A Europa precisa de
Portugal tanto quanto precisa da Grécia, da Irlanda ou de Chipre,
apenas na medida em que a saída da União de qualquer um destes países
se traduziria no desmoronar dum ambicioso projecto de decadas, que
está colado ainda com cuspo. Para Portugal, porém, a pertença à União
europeia tem sido a sua salvação. Sem a ajuda financeira de que
beneficiam, os tugas já tinham desaparecido do mapa, como
desapareceram os celtas e os visigodos que por aqui cirandaram há anos
até à sua desagregação.
Portugal não produz nem vende nada para a Europa
que lhe seja indispensável. Sapatos, texteis, vinhos, componentes
automóveis, etc. encontram-se em qualquer lado tão bons e mais baratos
do que aqui. Os serviços estão cada vez piores e mais caros e
património transaccionável há cada vez menos. As famosas praias
continuam bravas e ventosas para o gosto dos europeus habituados às
calmarias mediterranicas e o nível de sofisticação dos serviços
turisticos vai de mal a pior (como tudo, de resto). Para sobreviver
para além do necessário ao que a Europa precisa, há que fazer mais.
Mas o quê? perguntarão os (poucos) esforçados tugas que se esmifram em
manter o país de pé. Pois mudar de rumo, direi eu. Concentrar-mo-nos
naqueles países que realmente precisam de nós para além da preservação
da ideia europeia. Quais países? perguntarão os incrédulos. Todos
aqueles relativamente aos quais Portugal ainda representa qualquer
coisa que lhes diga algo e ao mesmo tempo que lhes possa ser útil nos
respectivos processos de desenvolvimento. Estou a pensar em alguns
países africanos e sul-americanos onde Portugal ainda representa
alguma coisa, em certos países árabes, sobretudo norte-africanos e no
sueste asiático. Há que criar pólos de expansão (como os hubs
aeronauticos) que sirvam de extensão multiplicadora da nossa presença.
Macau, Timor, CaboVerde, Moçambique, Austrália, Goa, Bombaim, certos
Estados do Brasil onde Portugal ainda conta, Angola (mediante
contrapartidas), certos Estados (ou regiões) norte-americanas onde
haja fortes comunidades portuguesas (S.Diego, Massachussets, Rhode
Island). No tempo dos descobrimentos, a politica exterior portuguesa
fazia-se a partir de Londres (a maior praça financeira mundial), de
Antuérpia (onde Damião de Gois instalou a primeira feitoria
portuguesa) e do interior do Brasil (onde o Padre António Vieira e os
seus jesuitas instalaram as suas missões). Mais tarde foi Goa e o
Padroado do Oriente e a instalação da colónia do Cabo na África do
Sul.
Queira o nosso ministro dos Negócios Estrangeiros
alargar as suas vistas e aproveitar o que ainda nos resta de prestígio
por esse mundo fora e talvez assim consigamos sair deste fosso com
alguma dignidade, de cabeça erguida e de mãos nos bolsos (não vergados
como varas verdes e de palma da mão para cima mendigando esmolas dos
ricos que nem para nós se dignam olhar). A Europa não precisa de nós
para se recompor (só quer que não lhes estraguemos os esquemas)
portanto não contemos com ela para grandezas. Se quisermos que nos
olhem com admiração e respeito, então façamos o que for preciso para
endireitar o país (sem o país direito nada se poderá fazer) e
preparemos a nossa estrutura diplomática com ambição e com meios para
mostrarmos lá fora quem somos e que continuamos dignos de representar
um país que foi grande mas, por agora ser pequeno, não se envergonha
do que fez nem das portas que abriu aos outros.
ALBINO ZEFERINO
24/12/2012
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