segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

ATÉ QUE PONTO A EUROPA PRECISA DE PORTUGAL?

Parece não haver qualquer duvida de que Portugal 
precisa neste momento da União europeia mais do que nunca. Talvez seja 
por isso que Mário Soares ainda não tenha sido apupado como parece 
estar a pedir com as disparatadas crónicas que ainda vai escrevendo 
aqui e acolá. Mas será que a União precisa de Portugal tanto como ele 
dela? Não creio que o amor seja recíproco. A Europa precisa de 
Portugal tanto quanto precisa da Grécia, da Irlanda ou de Chipre, 
apenas na medida em que a saída da União de qualquer um destes países 
se traduziria no desmoronar dum ambicioso projecto de decadas, que 
está colado ainda com cuspo. Para Portugal, porém, a pertença à União 
europeia tem sido a sua salvação. Sem a ajuda financeira de que 
beneficiam, os tugas já tinham desaparecido do mapa, como 
desapareceram os celtas e os visigodos que por aqui cirandaram há anos 
até à sua desagregação. 
Portugal não produz nem vende nada para a Europa 
que lhe seja indispensável. Sapatos, texteis, vinhos, componentes 
automóveis, etc. encontram-se em qualquer lado tão bons e mais baratos 
do que aqui. Os serviços estão cada vez piores e mais caros e 
património transaccionável há cada vez menos. As famosas praias 
continuam bravas e ventosas para o gosto dos europeus habituados às 
calmarias mediterranicas e o nível de sofisticação dos serviços 
turisticos vai de mal a pior (como tudo, de resto). Para sobreviver 
para além do necessário ao que a Europa precisa, há que fazer mais. 
Mas o quê? perguntarão os (poucos) esforçados tugas que se esmifram em 
manter o país de pé. Pois mudar de rumo, direi eu. Concentrar-mo-nos 
naqueles países que realmente precisam de nós para além da preservação 
da ideia europeia. Quais países? perguntarão os incrédulos. Todos 
aqueles relativamente aos quais Portugal ainda representa qualquer 
coisa que lhes diga algo e ao mesmo tempo que lhes possa ser útil nos 
respectivos processos de desenvolvimento. Estou a pensar em alguns 
países africanos e sul-americanos onde Portugal ainda representa 
alguma coisa, em certos países árabes, sobretudo norte-africanos e no 
sueste asiático. Há que criar pólos de expansão (como os hubs 
aeronauticos) que sirvam de extensão multiplicadora da nossa presença. 
Macau, Timor, CaboVerde, Moçambique, Austrália, Goa, Bombaim, certos 
Estados do Brasil onde Portugal ainda conta, Angola (mediante 
contrapartidas), certos Estados (ou regiões) norte-americanas onde 
haja fortes comunidades portuguesas (S.Diego, Massachussets, Rhode 
Island). No tempo dos descobrimentos, a politica exterior portuguesa 
fazia-se a partir de Londres (a maior praça financeira mundial), de 
Antuérpia (onde Damião de Gois instalou a primeira feitoria 
portuguesa) e do interior do Brasil (onde o Padre António Vieira e os 
seus jesuitas instalaram as suas missões). Mais tarde foi Goa e o 
Padroado do Oriente e a instalação da colónia do Cabo na África do 
Sul. 
Queira o nosso ministro dos Negócios Estrangeiros 
alargar as suas vistas e aproveitar o que ainda nos resta de prestígio 
por esse mundo fora e talvez assim consigamos sair deste fosso com 
alguma dignidade, de cabeça erguida e de mãos nos bolsos (não vergados 
como varas verdes e de palma da mão para cima mendigando esmolas dos 
ricos que nem para nós se dignam olhar). A Europa não precisa de nós 
para se recompor (só quer que não lhes estraguemos os esquemas) 
portanto não contemos com ela para grandezas. Se quisermos que nos 
olhem com admiração e respeito, então façamos o que for preciso para 
endireitar o país (sem o país direito nada se poderá fazer) e 
preparemos a nossa estrutura diplomática com ambição e com meios para 
mostrarmos lá fora quem somos e que continuamos dignos de representar 
um país que foi grande mas, por agora ser pequeno, não se envergonha 
do que fez nem das portas que abriu aos outros. 

ALBINO ZEFERINO 
24/12/2012 

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