Pergunta simples de formular, porém dificil de
responder. A malta da esquerda diz que estamos destruindo tudo aquilo
que esforçadamente conseguimos através de uma luta de 40 anos contra
as forças da reacção; a direita afirma que ainda não se conseguiu
sanear o país da bandalheira que o 25 de abril nos legou e que é
necessário que o governo actue com mais energia e determinação. O
governo, por seu turno, sustenta que está cumprindo zelosamente o
memorando da troika para ter dinheiro para gerir este país
intelectualmente controverso e este povo intrinsecamente rebelde (mas
pacífico). O certo é que todos parecem apontar num sentido: ninguém
sabe realmente para onde vamos.
Por tradição (ou por tendência natural) os
governos em Portugal acabam por dentro. Ou seja, apodrecem. Ninguem os
faz cair com receio de que os seguintes ainda sejam piores. Só quando
eles próprios desistem e caem (por apodrecimento ou de inanição) é que
se estabelece uma crise que termina por eleições antecipadas 6 meses
depois. Veja-se os diversos governos do Soares, o do Guterres, o do
Barroso-Santana e mais recentemente o do Sócrates. O do Passos não vai
ser excepção. Pelo caminho que as coisas levam não creio porém que
este governo caia antes das contas do 1º trimestre do próximo ano. Só
nessa altura as pessoas sentirão que os sacrificios enormes que este
orçamento lhes exige não valeram a pena. Aí o governo ainda pode
mandar tocar uma musiquinha que adormeça os mais timoratos. E então
até diria mesmo que o governo será capaz de durar até às eleições
autárquicas de outubro. Depois disso, só se conseguir transformar a
enorme derrota que vai sofrer em uma qualquer vitória que se traduza
em mais massa pr´á malta. O que não será fácil mas não é impossivel de
acontecer. Aos europeus não lhes interessa que Gaspar seja
substituido, pelo que tudo farão para que este governo subsista na sua
composição inicial, que é a que mais garantias lhes oferece de
recuperarem o dinheiro que cá puseram. Atrever-me-ia assim a vaticinar
que o actual governo continuará em funções até ao fim do período
durante o qual estaremos subordinados ao memorando da troika. Depois
disso já não haverá razões para continuar. Ou conseguiu reformar o
país (ou refundar como preferem dizer os ministros) e então voltará a
ganhar as eleições legislativas normais (eventualmente por maioria
absoluta) para prosseguir o bom trabalho no sentido do progresso
nacional, ou então não conseguiu dar a volta a este país disfuncional
e perde escandalosamente as eleições para uma esquerda forte que
conservará o poder por muitos e longos anos. E neste caso (muito
provável, a meu ver) caberá ao partido socialista desempatar.
Admitindo que não conseguirá uma maioria absoluta por si só, terá que
procurá-la, por imposição da troika (como fez na Grécia) à sua direita
ou à sua esquerda, tentando conseguir um partido com quem se coligar.
Se escolher o Bloco (que, neste caso, subirá) a relação com a troika
(e com a UE) tomará contornos contenciosos e portanto será mais
dificil e menos previsivel. Se escolher o PSD (com ou sem o CDS) então
a coisa será mais simples. Haverá uma renegociação da dívida com
prazos de pagamento mais suaves e mais dilatados (demoraremos mais
tempo a recuperar e não atingiremos o nível de desenvolvimento
ambicionado) e eventualmente um 2º resgate financeiro com novo
memorando e um período mais longo de proteccionismo internacional.
Poderemos assim concluir que a resposta à
pergunta sugerida pelo título desta crónica caberá aos portugueses: ou
sustentam o actual governo permitindo que ele saneie (refunda) o país,
ou não. Se não, haverá eleições (antecipadas ou não) e um governo
socialista de novo (comas suas contradições e as eternas disputas
ideológicas internas) apoiado à esquerda ou à direita conforme
prevaleça nos socialistas a corrente social-democrática ou a corrente
marxista nas suas fileiras. Voilá!
ALBINO ZEFERINO
7/12/2012
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