Em democracia todas as opiniões são livres. Sejam
as dos inteligentes ou as dos burros. As dos ignorantes ou as dos
letrados. Devem é ser sérias e reflectir verdadeiramente aquilo que os
seus autores pensam e sentem. De contrário são perversas. Enganam os
leitores, fazendo-lhes crer que a realidade é uma quando de facto é
outra. Em politica diz-se prosaicamente que são opiniões demagógicas.
Ora a demagogia é a doença da democracia. Uma opinião defendida com
demagogia é perversa porque leva os leitores ou ouvintes a acreditar
em falsidades em vez de os convencer da sua razão com argumentos
lógicos, verdadeiros e críveis.
Vem isto a propósito duma crónica publicada na
revista "Visão" desta semana assinada por um ilustre académico que
virou político, mas daqueles que querem experimentar de tudo. Da
extrema-direita à extrema esquerda. Diz o dito-cujo do alto da sua
sapiência que "manter ou deixar aprofundar um fosso enorme entre ricos
e pobres era dividir a Cidade contra si mesma e por isso abrir as
portas à revolução ou à tirania". A partir desta verdade lapalissiana,
o douto autor da tal crónica espraia o seu confuso raciocinio através
de citações pseudo-filosóficas até chegar à constituição francesa de
1791, saída da famosa Revolução, para ressaltar as virtudes do sistema
geral dos Socorros Públicos, que recolhia as crianças abandonadas e
dava trabalho aos pobres, terminando com um desabafo pessoal entre
parentesis: quem nos dera ao menos isto! Continuando o seu desvairado
raciocinio, o excelso professor critica o pensamento conservador
anglo-saxónico tal como Edmund Burke o descreveu nas suas "Reflexões
sobre a Revolução em França", onde este ressalta as virtudes do
liberalismo económico, terminando com uma citação da obra de Burke,
onde ele diz :"Para além disso, quanto menos o Estado fizer, melhor; o
resto fica nas mãos de Deus". O tom crítico que o distinto cronista
visionário assume relativamente ao pensamento conservador britânico de
Burke (1729-97) comparando-o com a Doutrina Social da Igreja, conforme
definida no Concílio Vaticano II, mais de 200 anos depois, demonstra a
demagogia presente nesta crónica, que deliberadamente tenta confundir
os seus leitores ao concluir magistralmente: "Por isso, os católicos
que ainda não a tiverem feito, vão ter de fazer rapidamente a sua
opção". Nem um empedrenido marxista faria melhor.
ALBINO ZEFERINO
22/12/2012
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