domingo, 23 de dezembro de 2012

OPINIÕES PERVERSAS

Em democracia todas as opiniões são livres. Sejam 
as dos inteligentes ou as dos burros. As dos ignorantes ou as dos 
letrados. Devem é ser sérias e reflectir verdadeiramente aquilo que os 
seus autores pensam e sentem. De contrário são perversas. Enganam os 
leitores, fazendo-lhes crer que a realidade é uma quando de facto é 
outra. Em politica diz-se prosaicamente que são opiniões demagógicas. 
Ora a demagogia é a doença da democracia. Uma opinião defendida com 
demagogia é perversa porque leva os leitores ou ouvintes a acreditar 
em falsidades em vez de os convencer da sua razão com argumentos 
lógicos, verdadeiros e críveis. 
Vem isto a propósito duma crónica publicada na 
revista "Visão" desta semana assinada por um ilustre académico que 
virou político, mas daqueles que querem experimentar de tudo. Da 
extrema-direita à extrema esquerda. Diz o dito-cujo do alto da sua 
sapiência que "manter ou deixar aprofundar um fosso enorme entre ricos 
e pobres era dividir a Cidade contra si mesma e por isso abrir as 
portas à revolução ou à tirania". A partir desta verdade lapalissiana, 
o douto autor da tal crónica espraia o seu confuso raciocinio através 
de citações pseudo-filosóficas até chegar à constituição francesa de 
1791, saída da famosa Revolução, para ressaltar as virtudes do sistema 
geral dos Socorros Públicos, que recolhia as crianças abandonadas e 
dava trabalho aos pobres, terminando com um desabafo pessoal entre 
parentesis: quem nos dera ao menos isto! Continuando o seu desvairado 
raciocinio, o excelso professor critica o pensamento conservador 
anglo-saxónico tal como Edmund Burke o descreveu nas suas "Reflexões 
sobre a Revolução em França", onde este ressalta as virtudes do 
liberalismo económico, terminando com uma citação da obra de Burke, 
onde ele diz :"Para além disso, quanto menos o Estado fizer, melhor; o 
resto fica nas mãos de Deus". O tom crítico que o distinto cronista 
visionário assume relativamente ao pensamento conservador britânico de 
Burke (1729-97) comparando-o com a Doutrina Social da Igreja, conforme 
definida no Concílio Vaticano II, mais de 200 anos depois, demonstra a 
demagogia presente nesta crónica, que deliberadamente tenta confundir 
os seus leitores ao concluir magistralmente: "Por isso, os católicos 
que ainda não a tiverem feito, vão ter de fazer rapidamente a sua 
opção". Nem um empedrenido marxista faria melhor. 

ALBINO ZEFERINO 
22/12/2012 

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