terça-feira, 18 de fevereiro de 2014
O PROGRAMA CAUTELAR
A cerca de tres meses do fim do programa de ajuda financeira externa que tem permitido a Portugal sobreviver neste ambiente de incertezas futuras que a crise internacional trouxe a este principio de século conturbado, tem-se falado muito na vantagem de nos submetermos a novo programa de apoio finaceiro internacional, desta vez mais suave e menos profundo do que o actual, mas de qualquer maneira um programa que condicionaria a completa e total soberania que um Estado independente deve ter sobre os seus destinos. Dir-se-ia que estamos à espera da decisão do árbitro para ver se ganharemos o jogo com a sua ajuda.
Efectivamente, as ajudas (como decorre do seu próprio conceito) só serão prestadas se forem solicitadas. E para o serem deverão ser justificadas. A grande questão é assim decidir sobre se a nossa capacidade de crescimento é suficientemente robusta para prescindir de uma ajuda que (tal como a rede que impede que o equilibrista morra, se cair desamparado) impedirá que voltemos à tragédia da austeridade que a crise e o Sócrates nos impuseram. Temos crescido (até mais do que previsto) e algo se reformou (apesar do muito que ainda ficou por fazer) mas será que essas vitórias serão suficientes para tranquilizar os nossos credores quanto à efectiva capacidade que Portugal tem que evidenciar no pagamento do muito que deve ao estrangeiro? Infelizmente não creio.
Receio porém que as malfadadas eleições periódicas que a nossa democracia nos impõe (e que por vontade de alguns inconscientes deveriam até ser mais frequentes) nos levem a fazer (neste caso a decidir) disparate. Torna-se irresistivel, quer para o governo, quer para a oposição, a tentação de usar esta questão para fins eleitoralistas, esgrimindo demagogicamente argumentações contra e a favor do programa cautelar, conforme convém a um e a outro lado (uns dias sim, outros não). Ao governo convém mostrar serviço feito, o que significa anunciar que prescinde da ajuda porque Portugal ficou limpo de quaisquer maleitas que a ajuda serviria para colmatar. À oposição interessa "vender" que, se for preciso pedir a ajuda que seja o actual governo a pedi-la, pois isso significa que o trabalho ficou mal feito.
Certo porém é que (tal como na Irlanda) os partidos politicos da governação deveriam unir-se na decisão patriótica de pedir ou de prescindir da ajuda cautelar, em função das necessidades objectivas do país. Porém, o que acontece é que o PS se desliga dessa "obrigação moral" invocando não desejar ficar responsável por eventuais precalços que a continuação da ajuda (mesmo mitigada) possa trazer ao país; o PSD, por seu turno, quer que o ónus do pedido seja compartilhado com o PS, de contrário prefere não o fazer para não acarretar com toda a responsabilidade de uma decisão precipitada.
Tudo isto parece um jogo de tácticas num momento crucial para o futuro deste pobre país, envolvido numa crise vinda de fora e à qual não teve, nem habilidade, nem capacidade para escapar. Sejamos sérios e honestos. Cumpramos as nossas obrigações de governantes e de governados, de situacionistas ou de oposicionistas, de direitas ou de esquerdas, mas todos a favor do país a que pertencemos, nós, os nossos pais e os nossos filhos. Haja juizo!
ALBINO ZEFERINO 18/2/2014
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