A poucos meses do fim do ciclo da intervenção formal da troika nos assuntos portugueses, renasce a esperança dos optimistas num regresso - comumente aceite como mitigado - às delícias do livre arbitrio lusitano na gestão deste país velho de anos, mas novo de esperança renovada num futuro glorioso de regresso ao passado dissoluto e inconsciente. Já se fazem grandes planos onde gastar os milhões que a burocracia comunitária vai lançar sob a forma de QREN`s nas mãos ávidas dos responsáveis locais pela coisa publica. Desenganem-se porém os mais incautos, pois por muito boa vontade que os burocratas europeus manifestem na nossa reconversão, as fiscalizações comunitárias vieram para ficar e não vamos (felizmente) poder gastar um centimo que seja desse dinheiro sem os vistos dos fiscais europeus. Por essa razão será indiferente aos europeus quem ganhe as próximas legislativas em Portugal. O dinheiro que para cá vier dos cofres comunitários continuará a ser fortemente escrutinado e condicionado. Não pensem os ávidos socialistas que, despedida a actual troika, poderão começar a esfregar as mãos de contentes na doce prespectiva duma próxima renovada bandalheira governativa à Sócrates. Tudo será como dantes, quartel general, não em Abrantes, mas em Bruxelas e Berlim.
Importante para o futuro da Europa comunitária serão, isso sim, as próximas eleições europeias marcadas para maio próximo. Em Portugal (e nos países sulistas em geral, os chamados "beggars") a consciencia europeia situa-se prioritariamente na maior ou menor disponibilidade dos parceiros pagadores em relaxar relativamente à forma como são consumidos os fundos que para cá mandam. Para a malta da esquerda, quanto maior for o relaxe mais porreiraça é a UE. Para a direita, quanto maior for a vigilancia, menos risco há que os malandros que nos governam se governem a eles próprios. As instituições europeias são como os elefantes: quanto mais velhos, mais malandros. E como a Europa comunitária já fez 70 anos, muito dificil será enganá-la. A questão é se ela se deixa enganar nas suas próprias contradições.
Tradicionalmente dividido em dois grandes blocos ideológicos, o Parlamento europeu (o tal que vai a votos em maio) alterna a sua cada vez maior influencia nas instancias comunitárias entre o PSE (socialistas europeus) e o PPE (populares de direita). Os extremos eram até agora irrelevantes. Porém a crise (que a todos tocou mais ou menos esturturalmente) abriu frechas neste rotativismo perguiçoso onde o ideal comunitário se movimenta, fazendo aparecer os extremos com maior nitidez (e sobretudo perigo). As diversas sondagens até hoje feitas (em Portugal, cujo povinho ainda se excita apenas com as eleições nacionais, a coisa não tem tido relevancia mediática) dão uma subida exponencial da extrema direita, à custa dos partidos tradicionais do centro, penalizados pelos anos de governação descuidada na Europa e nos seus Estados membros e que levaram os europeus à crise. O risco que a UE corre é o do desmembramento deste equilibrio politico no Parlamento europeu entre PSE e PPE, que tem conduzido a UE nesta sua marcha lenta mas segura em direcção ao federalismo, única forma de preservar os valores pelos quais os europeus se guiam.
Se, na sequencia da próxima consulta eleitoral, surgir no quotidiano parlamentar europeu uma força europeia reconhecidamente eurocéptica, que consiga bloquear sistematicamente os dificeis consensos atingidos através de cedencias negociais permanentes entre as duas grandes facções tradicionais europeias, o processo integrador europeu pára e a UE, as suas politicas comuns e o seu euro, arriscam-se a desaparecer do panorama politico mundial, arrastando o continente europeu para um período de trevas e de confusão, próprios do inferno que Dante tão bem descreveu na sua obra de referencia.
ALBINO ZEFERINO 2/2/2014
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