quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

A NOVA NORMALIDADE


          Foi desta forma prosaica que o actual vice-primeiro ministro definiu a situação deste país nas vésperas do fim da ajuda financeira extraordinária de que Portugal vem beneficiando desde há 3 anos. O que Portas quiz dizer aos portugueses foi que não pensassem que a saída da troika (limpa, com manchas ou com sequelas) iria proporcionar de novo a bandalheira inconsciente com que Sócrates e sus muchachos anestesiaram os tugas para poderem na confusão enriquecer criminosamente à custa alheia.
          As diversas reacções à noticia do FMI de que afinal o fim da intervenção formal da troika não irá excluir a continuidade duma politica prudente e restritiva até que se consiga (conseguir-se-á?) chegar aos 2,5% de déficit inicialmente previstos no memorando de entendimento e nunca alcançados por este governo hesitante e prolixo, reflectem todas o desapontamento saloio duma sociedade cansada, inconsciente e afastada das duras realidades do mundo de hoje. Comunistas e outros esquerdistas clamam indignados que afinal quem vai ter que suportar a continuação dos sacrificios, que tolamente pensavam ter terminado, serão sempre os mesmos: o povo e as classes dependentes. Os ricos, esses, continuarão a passear-se nos seus Porsches e a comerem marisco nos restaurantes da moda, enquanto a plebe se terá que contentar com ervas e sardinhas requentadas, frequentando os decadentes serviços publicos e sofrendo com o desemprego que teima em não desaparecer.
          Pensarão estas almas que uma vez a troika pelas costas voltariamos à bandalhice que nos conduziu a esta situação sacrificada? Feita a vontade aos gajos que nos sustentaram, poderiamos de novo ficar entregues a quaisquer seguros sócretinos delapidadores do pouco que produzimos para o entregar de mão beijada à furia devastadora dos subsidios e aos esquemas criminosos dos chicos-espertos que medram neste Portugal dos pequeninos? Não creio, como Portas bem definiu, que o que nos passou tenha carácter excepcional e que por isso possa ser interpretado como um inconveniente passageiro.
          O século XXI está trazendo uma nova normalidade à vida em sociedade. Todos ficaram mais magros com a crise, tendo que apertar o cinto para as calças não cairem. Normal é pagar por aquilo que se recebe (sejam produtos do supermercado, seja transporte ou saude publicos, seja luz eléctrica ou telenovelas) e receber por aquilo que se produz (seja trabalho manual, intelectual ou até especulativo). Anormal é receber sem nada fazer, ser atendido sem esperar, ou exigir beneficios sem ter direito a eles. Esquecemo-nos que há cem anos enfrentavamos uma guerra mundial e há duzentos uma invasão militar estrangeira. Seria preferivel viver nesses tempos? Eu acho que não.

                                    ALBINO ZEFERINO                    20/2/2014
         
         

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