terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

PRENUNCIO DE UMA MORTE ANUNCIADA


          Decididamente a Europa não consegue sair deste novelo preverso em que está enrolada. Foi a crise financeira de 2008, é a crise bancária que lhe sucedeu, são os refugiados do sul e do leste que não cessam de acorrer às fronteiras Schengen, é a ameaça britânica do isolamento, é a probabilidade da eleição de Le Pen em França, são os putativos sucesores de Obama que não sabem nem querem saber da Europa e é sobretudo a falta de vontade em continuar no caminho da união expressa nas urnas europeias. Desde a Hungria e a Polónia que elegeram governos anti-europeus, até às frentes de esquerda na Grécia, em Portugal e provavelmente em Espanha, que sempre manifestaram reservas substanciais à integração europeia, tudo indica que o desmantelamento duma obra genial começada há 70 anos está a tomar forma.
          O Observador de ontem cita a propósito Joschka Fischer (ex-dirigente dos verdes alemães e ex-ministro federal dos Negócios Estrangeiros) num texto em que reflecte sobre os efeitos do desaparecimento gradual da Pax Americana: "Welcome to the Twenty-First Century". Diz Fischer: "The bleak prospect of European suicide is no longer unthinkable. What will happen if German Chancelor Angela Merkel is brought down by her refugee policy, if the United Kingdom leaves the European Union, or if the French populist Marine Le Pen captures the presidency? A plunge into the abyss is the most dangerous outcome imaginable, if not the likeliest."
          Não querendo antecipar tão horroroso desfecho para esta Europa unida com cuspo, fico porem apreensivo quando constato que grande parte dos países membros desta União de boas vontades (pois por enquanto a UE não passa disso) estão a criar defesas em volta de si proprios, em vez de se esforçarem por criar entre si politicas unitárias que possam, em conjunto e harmonizadas entre todos, fazer frente a estes e outros desafios que ameaçam a unidade deste continente sacrificado, que outrora deu novos mundos ao mundo e civilizou a humanidade inteira. Não é possivel baixar os braços quando alguns fanáticos inconscientes põem em causa séculos de civilização e de cultura para afirmarem alarvemente os instintos básicos pelos quais pautam as suas inuteis vidas e destroem a obra de gerações inteiras de geniais construtores de civilizações.

                           ALBINO ZEFERINO                                           2/2/2016

2 comentários:

  1. 3 Europas, 3 Religiões, 3 culturas talvez mesmo 4, geografia divisora, porque haveria de dar certo agora? O que mudou fundamentalmente para que desta vez funcionasse? A crença ingénua no progresso contínuo e na mudança fundamental do Homem é como o OE 2016: Uma questão de fé...

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  2. Sumula brilhante duma visão pessimista. A morte está sempre anunciada pois faz parte da vida. Há é que a levar com fé e com esperança num futuro melhor.

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