segunda-feira, 27 de junho de 2011

REVOLUÇÃO NO MNE

   A chegada de Paulo Portas às Necessidades já começou a agitar os coraçõezinhos das andorinhas que por lá fazem ninho. O estardalhaço das audiencias com os representantes dos partidos que o novo ministro organizou (qual putativo chefe do governo) logo no primeiro dia do seu consulado foi significativo das intenções reformistas que o ministro tenciona imprimir na nova gestão da politica externa portuguesa. Nada de igual se tinha visto desde que Melo Antunes usou há 35 anos o vetusto Palácio das Necessidades para reuniões politicas meio secretas com os revolucionários abrilistas no rescaldo da famigerada revolução do 25 de abril. Numa atitude cheia de significado, Portas disse sem falar que quem manda é ele e que não vai precisar da máquina para nada a não ser para protocoladas e liturgias diplomáticas. 
          Tambem o discreto anuncio dos seus secretarios de estado antecipa para os mais atentos destas coisas a estratégia que o novel ministro pretende imprimir à Casa. Europa e o incremento das exportações vão ser as áreas privilegiadas do governo neste sector. A nomeação de um amigo politico para os assuntos europeus indica que Portas vai dispensar a horda de diplomatas maçons e socialistas que Amado plantou nos lugares chave da diplomacia portuguesa. A Cova da Moura e a Reper serão certamente os primeiros alvos. Seguir-se-á a Direcção politica, as grandes embaixadas e as representações junto das mais importantes organizações internacionais. O que Portas quer é tornar-se conhecido na Europa olhando para o futuro (coisa que Barroso na anterior encarnação governativa impediu), indo colocar as suas peças nos lugares chave para tal desiderato. Como (tirando Teotónio Pereira e poucos mais) não há CDS`s nas Necessidades, Portas (como bom politico que é) vai espalhar os seus amigos do partido pelos diversos postos que melhor sirvam os seus intentos. Uma técnica que não é nova e que foi abundantemente usada por outro importante seu antecessor nos idos de 1974 (recordo que a certa altura contei 16 embaixadores amigalhços de Soares ao mesmo tempo em Embaixadas).  Olhando o panorama atrever-me-ia a pensar que Reper e OCDE estarão nas prioridades do ministro, deixando a ONU para depois de cumprido o mandato de Portugal no Conselho de Segurança (para o ano que vem). Para o ano vagará tambem Paris (o intocável Seixas reforma-se) e Berlim. Madrid e Washington são feudos do Barroso e Londres e a NATO acabam de ser preenchidas. As sempre dificeis negociações com Cavaco vão ficar simplificadas, pois Portas vai ter uma moeda de troca decisiva que será Brasilia para onde Fezas Vital (actual assessor diplomático do Presidente) quer ser nomeado.
          A junção da cooperação com as comunidades portuguesas e entregando-as ao anterior chefe de gabinete de Passos Coelho no partido, demonstra o desinteresse de Portas nos dois sectores ( África nunca foi aposta de Portas e o CDS não tem expressão na emigração). O PSD pelo contrário elegeu 3 dos 4 deputados pela emigrção e Passos é africano.
          Quanto ao AICEP (ver artº anterior) a questão vai fiar mais fino. Apostaria que Portas vai prudentemente começar apenas por nomear um dos seus amigos politicos para a presidencia e só depois (conforme o andar da carruagem) irá decidir se integra o Aicep no MNE ou vice-versa.  Certo, certo (direi eu) é que os coraçõezinhos dos diplomatinhas mais sensiveis não vão parar de bater descompassadamente tão cedo.
 
                                                      ALBINO ZEFERINO   25/6/2011
         

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