O direito à greve, constitucionalmente consagrado e comumente aceite como uma conquista da revolução de 1974, tem sido abundantemente usado pelos sindicatos portugueses desde 1974, após 50 anos de interdição governamental, como uma forma de pressão sobre os patrões no sentido de fazer respeitar os direitos dos trabalhadores. Só que por vezes essa pressão extravasa o circunscrito circulo laboral onde constitucionalmente se insere para penetrar escandalosamente na área politica do Estado, prejudicando as populações nos seus direitos colectivos e nas suas expectativas de vida. Refiro-me concretamente às greves orquestradas politicamente pelos sindicatos com o claro objectivo de pressionar o Estado-patrão a desviar-se do rumo politico traçado pelo governo do momento, sem curar dos interesses da população que prejudica com a realização dessas mesmas greves.
Sabendo que não existe alternativa ao governo portugues para o cumprimento escrupuloso e sem desfalecimentos do plano de resgate que nos foi imposto, que contempla a privatização de sectores económicos tradicionalmente nas mãos do Estado e portanto reféns da politica e dos partidos que a dirigem, aos sindicatos não lhes resta outra atitude para defenderem utópicamente aquilo a que se habituaram a chamar de conquistas da revolução (que não passaram de puros esbulhos ao sector privado anterior a 1974) do que reclamarem através de greves selvagens e sem qualquer conteudo sindical o seu desespero e frustração pela complicada situação económica e politica em que o país se encontra e que lhes vai retirar importancia e poder. Os sectores mais fustigados são o dos transportes publicos (controlados desde sempre pela Intersindical e pelo PC), o da saúde (com os poderosos sindicatos dos médicos e dos farmaceuticos por detrás, a quem não interessa o desmantelamento do lucrativo SNS), o dos professores (feudo tradicional do PC que não quer perder o controlo da escola publica) e o dos juizes e dos procuradores (que não querem perder a autonomia para aplicarem a justiça social conforme aos seus interesses pessoais e corporativos).
Será que é legitimamente ético que o governo permita sem reagir que a população seja globalmente prejudicada por acções pretensamente sindicais mas cujo conteudo é manifestamente politico e perturbador do dificil caminho que Portugal e os portugueses terão que percorrer para sairem deste buraco que começou a ser cavado precisamente por estes que agora não querem deixar fechá-lo?
ALBINO ZEFERINO 1/6/2011
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