A PRIVATIZAÇÃO DE PORTUGAL
Em maré de privatizações, sejamos pragmáticos e
olhemos um pouco para mais longe do que a nossa vista alcança. A ideia
de privatizar o que é publico (ou seja de todos) para passar a ser só
de um ou de alguns assenta na premissa de que o bem a privatizar será
melhor gerido (ou seja que se retira mais beneficios dele) por só um
ou por só alguns do que por todos (ou seja, pelo Estado ou como quem
diz pelo governo). Esta premissa não é porem pacificamente aceite por
todos. Daí que haja quem seja contra as privatizações (normalmente a
malta de esquerda) defendendo que se o bem é de todos não deve ser
entregue só a um ou a alguns em prejuizo de todos. Sobretudo quando o
bem em causa pouco vale e da sua privatização não resultam mais valias
palpáveis. Enquanto se faziam as privatizações da EDP, da GALP, da PT
e de grandes empresas publicas, a questão permanecia na esfera
politica. Ninguem contestava o valor económico do acto. Quando a
privatização chegou às empresas publicas falidas (RTP, TAP, CP, BPN e
outras) o Zé povinho começou a interrogar-se sobre qual a vantagem em
entregar empresas que, apesar de falidas, funcionavam bem e davam
satisfação à malta. Pois aqui é que a porca torce o rabo. Ao entregar
(vender propriamente não, pois ninguem dá nada por elas) essas
empresas falidas aos privados, o Estado livra-se das despesas
incomportáveis que elas acarretam para se manterem em funcionamento.
Ou seja, oferece um bem sem contrapartida que não seja a redução da
despesa publica. O Zé povinho porem não compreende o que é uma despesa
publica. Para ele o Estado é um poço sem fundo de onde sai sempre
dinheiro para sustentar esses elefantes brancos herdados de outros
tempos. Haverá assim que encontrar uma razão pela positiva para
justificar a entrega desses bens colectivos a terceiros.
E onde se vai buscar essa razão mobilizadora das
boas vontades da malta? Não trazendo vantagens à vista desarmada
(vista curta, miudinha) há que alargar os horizontes da visão do Zé
povinho encontrando razões justificativas da cedência de bens
colectivos a troco de outras coisas menos prosaicas do que o dinheiro.
E que coisas poderão ser essas? O orgulho nacional, a grandeza
colectiva, a importancia internacional, por exemplo. Vamos buscar a
TAP para exemplificar. A TAP só vale pelos seus direitos de tráfego.
Os aviões não são seus (estão em leasing), os aeroportos são da ANA, a
manutenção (antiga joia da coroa) já foi vendida aos brasileiros e à
TAP só restam os 15 sindicatos e o numerosissimo pessoal que a empresa
sustenta. Se a TAP for entregue por exemplo aos angolanos, aos
brasileiros, à AVIANCA colombiana ou aos Emiratos árabes unidos, o hub
da empresa portuguesa continuará em Lisboa e servirá como placa
giratória intercontinental aumentando a importancia do aeroporto de
Lisboa que hoje se limita a gerir pouco mais do que o tráfego de
emigrantes de e para a Europa. Entregar a TAP à Lufthansa ou à British
(que é como quem diz à Iberia) é substituir os aviões da TAP pelos
dessas companhias europeias transformando o aeroporto de Lisboa num
aeroporto periférico europeu onde aterrarão os voos low cost dessas
grandes companhias.
Quanto à RTP o raciocinio é o mesmo. A RTP não
vale nada pois as suas dividas à banca são superiores aos seus activos
e as suas despesas de funcionamento ultrapassam em mais de 3 vezes a
receita da publicidade. Ceder a RTP a empresas portuguesas é acabar
com a estação, que na primeira oportunidade será vendida a terceiros
que a desmembrarão para ficar com a sua publicidade. A RTP deverá ir
para uma empresa de um país de lingua portuguesa (de preferencia
angolano, pois os brasileiros são mais poderosos e falam um portugues
diferente do nosso) que use a RTP como meio de penetrar na Europa
através de Portugal, como nós um dia quisemos penetrar em África
através de Angola. A lingua portugesa seria beneficiada, a RTP não
seria desmantelada e poderiamos usar essa maior e decisiva aproximação
estruturante a Angola junto dos nossos parceiros europeus como uma
mais-valia importante.
Em tempos de guerra não se limpam armas. Há que
pensar em grande e encontrar dentro das soluções que se nos apresentam
aquelas que melhor servem o país e com ele o Zé povinho que muito tem
penado e que merece que se olhe por ele.
ALBINO
ZEFERINO 3/9/2012
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