sexta-feira, 21 de setembro de 2012

EM POLÍTICA O QUE PARECE É

Se alguma coisa estas manifestações populares 
anti-governamentais representaram foi sem dúvida uma mudança no 
registo político dos portugueses. A reacção às anunciadas novas 
medidas de austeridade, nomeadamente o abaixamento da TSU à custa dos 
trabalhadores, foi o pretexto para os realinhamentos políticos que se 
avizinham à luz do novo figurino saído desta violenta crise que 
aparentemente começa a mostrar sinais de cedência. A cada vez maior 
probabilidade de Obama continuar como presidente dos Estados Unidos e 
a travagem no crescimento dos novos países emergentes vieram dar 
alguma margem para que a velha Europa se recomponha afastando o 
espectro do desmembramento da moeda única e consequentemente do 
projecto europeu em construção. 
A coligação governamental está desfeita não tanto 
pelas diferentes perspectivas de encarar a governação dos líderes dos 
dois partidos que a compõem mas sobretudo pelas novas linhas de força 
que atravessam a sociedade portuguesa e que requerem uma diferente 
composição partidária. O PSD está partido com os liberais à direita e 
os sociais democratas à esquerda cada vez mais distanciados uns dos 
outros e o CDS - porventura menos esfacelado - tenta aglutinar os 
demo-cristãos à sua esquerda com os velhos radicais integristas à 
direita. Tambem o PS - ainda lambendo as feridas causadas pelos 
sócretinos - não consegue disfarçar o antagonismo entre os 
sociais-democratas à sua direita e os marxistas saudosos da guerra 
fria que lhes dava razão de existir. Enquanto o PCP não morrer 
(animado pelos jovens turcos descobertos pelo velho leão operário 
Jerónimo) os marxistas socialistas resistirão às investidas bloquistas 
agora mais civilizadas sob a batuta do inteligente Semedo. Mas quando 
o PC e Mário Soares desaparecerem, o PS (tal como existe) desaparecerá 
tambem dando lugar a um partido forte que aglutinará a metade 
esquerdista da sociedade portuguesa à volta dos intelectuais do BE. É 
isto o que a nova convergência de esquerda quer recriar. Á direita o 
grande partido deixará de ser o PSD para dar lugar a um grande partido 
liberal com os jovens turcos do CDS aliados aos saudosistas liberais e 
deixando os verdadeiros sociais democratas de fora. 
É isto que se está a desenhar para o futuro e que 
será a consequencia politica desta crise. Entretanto et pour cause a 
coligação manter-se-á por mais uns meses até que a situação 
internacional permita maior folga nas exigencias da troika e que o 
novo ciclo comece a despontar. 


ALBINO ZEFERINO 21/9/2012 

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