Se alguma coisa estas manifestações populares
anti-governamentais representaram foi sem dúvida uma mudança no
registo político dos portugueses. A reacção às anunciadas novas
medidas de austeridade, nomeadamente o abaixamento da TSU à custa dos
trabalhadores, foi o pretexto para os realinhamentos políticos que se
avizinham à luz do novo figurino saído desta violenta crise que
aparentemente começa a mostrar sinais de cedência. A cada vez maior
probabilidade de Obama continuar como presidente dos Estados Unidos e
a travagem no crescimento dos novos países emergentes vieram dar
alguma margem para que a velha Europa se recomponha afastando o
espectro do desmembramento da moeda única e consequentemente do
projecto europeu em construção.
A coligação governamental está desfeita não tanto
pelas diferentes perspectivas de encarar a governação dos líderes dos
dois partidos que a compõem mas sobretudo pelas novas linhas de força
que atravessam a sociedade portuguesa e que requerem uma diferente
composição partidária. O PSD está partido com os liberais à direita e
os sociais democratas à esquerda cada vez mais distanciados uns dos
outros e o CDS - porventura menos esfacelado - tenta aglutinar os
demo-cristãos à sua esquerda com os velhos radicais integristas à
direita. Tambem o PS - ainda lambendo as feridas causadas pelos
sócretinos - não consegue disfarçar o antagonismo entre os
sociais-democratas à sua direita e os marxistas saudosos da guerra
fria que lhes dava razão de existir. Enquanto o PCP não morrer
(animado pelos jovens turcos descobertos pelo velho leão operário
Jerónimo) os marxistas socialistas resistirão às investidas bloquistas
agora mais civilizadas sob a batuta do inteligente Semedo. Mas quando
o PC e Mário Soares desaparecerem, o PS (tal como existe) desaparecerá
tambem dando lugar a um partido forte que aglutinará a metade
esquerdista da sociedade portuguesa à volta dos intelectuais do BE. É
isto o que a nova convergência de esquerda quer recriar. Á direita o
grande partido deixará de ser o PSD para dar lugar a um grande partido
liberal com os jovens turcos do CDS aliados aos saudosistas liberais e
deixando os verdadeiros sociais democratas de fora.
É isto que se está a desenhar para o futuro e que
será a consequencia politica desta crise. Entretanto et pour cause a
coligação manter-se-á por mais uns meses até que a situação
internacional permita maior folga nas exigencias da troika e que o
novo ciclo comece a despontar.
ALBINO ZEFERINO 21/9/2012
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