quinta-feira, 20 de setembro de 2012

O CONSELHO DE ESTADO

Tal como nos tempos do PREC, o Conselho de Estado 
de amanhã vai servir para justificar as medidas drásticas (portanto de 
consequencias imprevisiveis) que competem ao único orgão unipessoal da 
nossa Republica, mas a quem falta a coragem para as tomar sozinho. Ao 
sujeitar o primeiro-ministro ao vexame de uma explicação impossivel 
para uma acção desastrada, o presidente da Republica vai provocar o 
terramoto que nos vai fazer aproximar perigosamente da Grécia. Um ano 
depois dos acontecimentos dramáticos ocorridos em Atenas, eis que 
Lisboa (sempre atrasada em relação aos outros) vai pelo mesmo caminho 
incerto que os gregos escolheram ao recusar veemente e violentamente 
as ajudas que recebem dos seus credores. 
Não nos admiremos, pois, se as coisas daqui para 
diante passarem a ser mais evidentes do que até agora aparentavam. A 
desculpa do desemprego crescente, da crise na segurança social e na 
saude, já sem falar na confusão do ensino, serviam como panaceias para 
a aplicação indolor da medicação que nos foi receitada. Agora as 
máscaras cairam e o doente será amarrado à cama para que as 
enfermeiras lhe possam facilmente fazer engorgitar as pilulas que o 
vão salvar duma morte certa, pois enquanto as dividas não estejam 
pagas o doente não pode morrer. 
Relacionar esta crise com a democracia, ou melhor, 
fazendo depender a sua solução dela própria, é pura utopia, só 
defendida pelos costumados liricos do regime que ainda não perceberam 
que o sistema montado em 1974 já acabou. A democracia europeia 
(sobretudo em tempos de crise) é apenas uma desculpa para obrigar os 
mais débeis a fazerem o que os mais fortes querem sem necessidade de 
os invadir ou de os mandar para os fornos crematórios. 
Tentemos perceber as novas regras em que nos fazem 
dançar agora, sob pena de cairmos ainda mais no ridiculo e de 
obrigarmos os nossos carrascos a nos imporem cada vez mais claramente 
a sua vontade. 

ALBINO ZEFERINO 
20/9/2012 

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