Já vai dando para perceber que o desenvolvimento
desta crise onde Portugal está metido é mais do que uma crise. É
visivel cada vez mais nitidamente que se trata de uma mudança no
registo político vigente há quase 40 anos, que ficou caracterizado por
um processo evolutivo no sentido de uma aproximação à Europa,
abandonada que foi a politica africana que se baseou essencialmente na
chamada colonização portuguesa, substracto de um império colonial que
de facto nunca existiu. À especificidade dessa politica
consubstanciada na famosa frase de Salazar do "orgulhosamente sós"
sucedeu o seguidismo europeu, com a adopção indiscriminada (e não
negociada) de regras feitas por e para países mais desenvolvidos do
que nós, na esperança de que pudessemos recuperar dessa maneira o
atraso geracional que nos separava da Europa desenvolvida. Só que o
desenvolvimento não surge instantaneamente por decreto e mais de 25
anos passados desde a adesão de Portugal à então CEE, continuamos
atrasados relativamente à maioria dos nossos parceiros comunitários.
Com o estalar da crise europeia vieram ao de cima
(qual caixa de Pandora que se abre) todas as vulnerabilidades do
atrapalhado e confuso quadro constitucional portugues, amanhado à
pressa por um punhado de aprendizes da politica que nasceram depois da
revolução de 1974, onde se confundem principios de raiz marxista com
procedimentos democráticos importados indiscriminadamente da Europa do
norte, alguns incompativeis entre si e portanto limitadores de um
processo progressivo de desenvolvimento que muito atrasaram a
recuperação da sociedade portuguesa, que se desejava rápida e
ordenada. Desta amálgama de interesses contraditórios que se instalou
em Portugal resultou, não uma recuperação do tempo perdido na
tentativa de manutenção de um sistema politico-económico arcaico e sem
saída, mas uma travagem no desejado processo de desenvolvimento que a
opção europeia prometia. O desmantelamento de importantes sectores
produtivos e o desprezo dos principios de sã convivencia, aliados a
politicas isoladas de alto teor tecnológico e de aculturação
deficiente, criou uma sociedade desconexa onde a procura de dinheiro
fácil e de posições de importancia passaram a ser os únicos objectivos
de vida dos portugueses, menosprezando um processo de desenvolvimento
harmonioso e articulado para a sociedade.
A intervenção estrangeira no sentido do saneamento
das finanças publicas portuguesas tem vindo a destapar uma a uma estas
incongruencias onde a nossa sociedade se move, tornando cada vez mais
dificil uma recuperação sem sequelas e desenhando o futuro de Portugal
menos risonho do que aquele que a CEE nos oferecia em 1986. A
necessidade de uma liberalização forçada da economia portuguesa vai
certamente fazer empobrecer os portugueses no seu todo, com a
alienação de sectores lucrativos e o progressivo abandono dos centros
de decisão das estratégias empresariais em Portugal. Este penoso
processo vai necessariamente reflectir-se na cedência progressiva de
soberania nacional, primeiro na economia e depois na politica. A venda
da EDP, da GALP, da ANA, da TAP e de outras empresas de carácter
monopolista a entidades estrangeiras não se limita a deixar a estas a
definição das estratégias que mais convenham aos seus novos donos. Vai
tambem influenciar as decisões de natureza politica que estão
subjacentes às suas actividades empresariais e nesta medida limitar a
soberania do governo portugues nestes sectores. Não estranhemos assim
que surjam decisões governativas nem sempre compreensiveis para o
cidadão portugues, mas que resultam de necessarias negociações
permanentes entre as autoridades portuguesas e os estrangeiros donos
de empresas instaladas em Portugal e que servem os portugueses.
O governo portugues terá assim que estar
permanentemente atento às acções por vezes nefastas das estratégias
desenvolvimentistas dos donos estrangeiros das empresas privatizadas
que privilegiarão a obtenção de lucros à defesa dos interesses dos
utentes portugueses, fazendo alianças com outros interessados que
obstaculizem eventuais danos a causar aos cidadãos portugueses. Nisto
consisitirá o essencial da governação futura de Portugal e menos na
impossivel manutenção de postos de trabalho inuteis ou na concessão de
subsidios supérfulos impostos por convenções colectivas de trabalho
caducas. A soberania cada vez se defende menos com armas.
ALBINO ZEFERINO
8/9/2012
Sem comentários:
Enviar um comentário