sexta-feira, 30 de novembro de 2012

O SINDICALISMO EM PORTUGAL

Portugal não tem uma grande tradição sindicalista. 
A ausencia de importantes unidades industriais com massas gigantescas 
de operariado que estiveram na origem do sindicalismo no sec. XIX na 
maioria dos países industrializados foi sempre uma caracteristica 
portuguesa no principio desse movimento. O sindicalismo nasceu como 
arma de defesa colectiva dos trabalhadores contra os excessos 
capitalistas do sec.XIX. Organizando o operariado como uma força de 
trabalho colectiva que se opunha ao capital, os sindicatos tiveram um 
papel importante na definição de regras justas na relação do trabalho 
nas sociedades industriais. Portugal era nessa altura um país 
essencialmente agrícola e o trabalho nesse sector sempre se regeu mais 
em função das colheitas e do tempo. Só mais tarde com a organização da 
agricultura surgiram os primeiros sindicatos no sector, mas nunca com 
a importancia e a força que detinham os sindicatos dos sectores 
industriais. 
A industrialização em Portugal surgiu com Salazar 
só nos anos 40 sob o regime corporativo, que organizou o trabalho em 
função de sectores de actividade retirando aos sindicatos livres 
qualquer capacidade reivindicativa. Foi assim só depois do 25 de abril 
que nasceu em Portugal o movimento sindical que hoje conhecemos, que 
utiliza as greves como arma de defesa dos interesses dos trabalhadores 
e de participação activa na politica. É por isso que as duas centrais 
sindicais existentes em Portugal estão intimamente ligadas (eu diria 
mesmo dependentes) aos partidos politicos de base operária que as 
apoiam. Foi através do movimento sindical que muitas das chamadas 
"conquistas da revolução" se concretizaram, aproveitando a confusão 
social que se seguiu à revolução, com a colaboração politica dos 
sucessivos governos na sua maioria de esquerda. Só a partir da adesão 
de Portugal à então Comunidade europeia em 1986 é que os sindicatos 
começaram a agir efectivamente como organizações laborais por força da 
sua inclusão nas organizações sindicais comunitárias. A UGT nasceu 
nessa altura contra a vontade da CGTP que assim viu a sua hegemonia 
comprometida, mantendo-se contudo como a mais importante força 
sindical portuguesa. Foi através da CGTP que surgiram as primeiras 
convenções colectivas de trabalho que fixaram as regras laborais em 
Portugal e que ainda hoje detém uma capacidade de mobilização capaz de 
paralizar sectores inteiros da economia nacional. 
Num momento de viragem do panorama economico-social 
em Portugal (alguns chamam-lhe "refundação") é natural que as 
organizações sindicais (sobretudo a CGTP) se mostrem desesperadas ao 
verem comprometido todo o esforço feito no sentido de controlar o 
mundo laboral, com a eliminação progressiva dos beneficios (alguns 
espurios e até imorais) que as centrais sindicais conseguiram obter 
para os seus associados. Em íntima articulação com o partido comunista 
(que orienta a CGTP apesar da sua escassa representação parlamentar) a 
CGTP tem reagido, organizando greves e manifestações de rua sem 
cessar, na tentativa de manter vivo no espírito dos portugueses a 
capacidade reivindicativa do povo, sempre pronto a reagir a medidas 
que lhe são objectivamente dolorosas. 
Por muito que o governo deseje manter a legalidade 
constitucional vigente há quase 40 anos (seria agora o momento 
adequado para se fazer uma revisão constitucional que facilitasse a 
necessária recuperação social e económica do país) não me parece 
aceitável que se permita que um escasso numero de trabalhadores 
privilegiados comprometa a acção regeneradora do governo no seu 
esforço de sanear sectores produtivos essenciais para a retoma 
económica de Portugal. Refiro-me concretamente aos escassos trezentos 
e tal estivadores do porto de Lisboa que declararam greve ilimitada ao 
trabalho (cumprem os serviços minimos indispensáveis para evitar a 
requisição civil) alegando não prescindir dos acréscimos salariais de 
que gozam há anos, comprometendo o enorme esforço realizado por 
milhares de outros trabalhadores que conseguiram pela primeira vez 
desde há dezenas de anos fazer aumentar as exportações portuguesas. Do 
mesmo modo se pode argumentar relativamente aos cerca de oitocentos 
trabalhadores dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo que, com a sua 
atitude reivindicativa, impedem o saneamento duma empresa falida, que 
custa milhões de euros ao erário publico. Neste contexto incluo ainda 
os trabalhadores dos caminhos de ferro portugueses que igualmente 
gozam de salários inflacionados e não prescindem desse privilégio, tal 
como o estão fazendo a maioria dos portugueses que aceitaram 
patrioticamente colaborar na regeneração financeira do país, 
organizando greves sucessivas de cada vez que sentem perigo na 
estabilidade dos seus chorudos ordenados . Estas e outras atitudes por 
parte de cidadãos portugueses que concordam com abaixamentos salariais 
para os outros mas que não estão dispostos a abdicar da totalidade dos 
seus, devem ser denunciadas e combatidas, sejam simples trabalhadores 
manuais, sejam técnicos altamente qualificados, sejam gestores de topo 
ou titulares de orgãos de soberania. A propósito, porque razão são os 
deputados poupados aos cortes salariais? Não virá o dinheiro para eles 
todo do mesmo sitio? 

ALBINO ZEFERINO 
30/11/2012 

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