sábado, 9 de fevereiro de 2013


                                                           

                                                               A SENHORA EUROPA


                    Apesar das baixas expectativas sobre o resultado do Conselho europeu que tratou do orçamento comunitário até 2020, o certo é que Merkel conseguiu averbar mais uma vitória às muitas que o seu europeísmo tem demonstrado durante esta crise. Não desistindo teimosamente pela noite fora, conseguiu aproximar britânicos e franceses, nortistas e sulistas, ocidentais e orientais, de forma a chegar a um compromisso que, embora ténue, fosse aceite por todos. Pelas noticias que nos chegavam pelas televisões parecia que se tinha atingido um impasse inultrapassavel, com os britânicos a ameaçarem sair da União se lhes fosse retirado o cheque compensatório, os franceses a clamar não desistir da sua política agrícola comum, os nórdicos a quererem empurrar os PIIGS para fora da União e os do Leste a reclamarem o seus fundos perdidos.
                    Dirão os pessimistas que o acordo alcançado não vale nada, pois o menor denominador comum sobre que assenta não permite qualquer progresso em relação ao impasse em que a Europa está desde o inicio da crise. Eu diria, pelo contrário, que foi mais um passo (embora pequeno, reconheço) no sentido de uma  maior integração europeia. Ao evitar o insucesso da reunião, Merkel, não só demonstrou uma notável capacidade de liderança (própria dos seus antecessores mais notáveis na chancelaria alemã do pós-guerra) como reforçou a convicção dos mais cépticos sobre a firme determinação que a move de guiar a Europa no sentido de uma indispensável integração que não a afaste dos centros de decisão internacionais.
                   Para Portugal e para o seu governo foi naturalmente mais uma vitória (pequena é certo, mas vitória) que permitirá a continuação da ajuda financeira europeia sem sobressaltos e a saude do euro,  mantendo viva a esperança de que a salvação do inferno algum dia chegará.  Aos poucos e poucos, cedendo pouco às oposições e preservando teimosamente a estratégia que o levou ao poder, Passos Coelho tem demonstrado uma notável capacidade de resistencia (quiçá ultrapassando a de Sócrates que, sem saber ler nem escrever, durou quase 7 anos) que o levará certamente até ao fim da legislatura, mesmo com uma previsível derrota nas autárquicas. Dir-se-á que a autofagia do partido socialista o tem ajudado, apesar do seu ministro adjunto a quem o liga um incómodo cordão umbilical inquebrável, bem como a fraca reacção popular às agressões ao Estado social herdado do abrilismo. Merkel compreende bem o drama de Passos, mas já lhe deixou claro que só o aguentará enquanto ele prosseguir com as indispensáveis reformas estruturais que evitem uma repetição das locuras sócretinas. Só depois disso assegurado teremos direito a apoios ao desenvolvimento que nos permitam sair deste poço. Será isto tão dificil assim de perceber?

                                                    ALBINO ZEFERINO                9/2/2013    


                   

Sem comentários:

Enviar um comentário