quarta-feira, 16 de outubro de 2013

O CÍRCULO VICIOSO


          Portugal foi apanhado num cículo vicioso cada vez mais estreito, que aperta os portugueses progressivamente com mais força. São os impostos que sobem, as prestações sociais e os ordenados que descem e a vida que se torna cada vez mais complicada para cada vez mais gente. Todos os dias se ouvem mais queixumes e mais vontade de sair deste filme, que se poderia chamar "o caminho para a perdição". Alguns abandonam o país e com ele as esperanças. Outros, desesperados, pensam em suicidar-se. Outros ainda, abandonam os seus principios de vida ordeira e conformista, para encararem formas extremas de reacção.  Efectivamente, isto vai mal e não se vê como sair deste redemoinho tenebroso que nos vai arrastando para uma morte certa num afogamento aterrorizador.
          Como chegamos a este ponto? Como foi possivel deixar-mo-nos arrastar nesta torrente de disparates que nos levou a esta situação? Seremos assim tão ignorantes que não compreendemos a tempo que, gastando mais dinheiro do que aquele de que dispunhamos, poderiamos sobreviver a uma crise que abalou o mundo civilizado e nos deixou no estado de indigência em que nos encontramos? Alguns dirão que a culpa foi do vizinho que não soube orientar-se, outros queixam-se dos patrões malandros e outros ainda da preguiça endémica dos trabalhadores portugueses. Finalmente há os que se queixam de tudo e de todos, excepto deles próprios e da sua inconsciencia estrutural. O certo é que estamos mal e não se vê meio de melhorar.
          Ao aumento de desempregados e de carenciados, responde-se com subsidios de miséria, que aumentam a dívida pública e não resolvem a situação social.  À falta de preparação da generalidade da população, atira-se-lhe com estágios profissionais que não servem para nada, aumentando a frustração dos que os frequentaram. Às falências em série das PME`s, acena-se-lhes com créditos bonificados que as endividam ainda mais. Ao aumento dos abandonos escolares, constroem-se mais escolas e colocam-se mais professores desempregados. Às listas de espera para as consultas, oferecem-se médicos de familia imprepados e centros de saúde inoperantes. Aos fogos florestais, aumenta-se os meios aéreos. À impossibilidade de conter o défice publico, privatizam-se as joias da coroa. 
          Enquanto não se acordar numa reforma do Estado (e do país) que consiga cortar este círculo vicioso que, à medida que se vai esteitando, nos conduzirá inevitavelmente a um afogamento atroz, nada que se vá fazendo evitará o desastre. Para isso teremos que mobilizar o país (como outros já o fizeram) e em conjunto acordar na forma de conter esta hemorragia que a breve trecho nos liquidará. Haverá que fazer sacrificios, é certo, mas se a eles corresponder uma solução credível e continuada para a saída desta penosa crise que nos assola a todos, ninguém de boa-vontade e sensata (como é a maioria dos portugueses) se recusará a suportá-los. Agora, exigir sacrificios (alguns deles sobrehumanos) às pessoas, sem que elas vejam resultados palpáveis dos seus esforços, é decerto o caminho mais directo para o desastre. Que forma ele tomará, não sei. Mas não será certamente benevolente.

                                    ALBINO ZEFERINO                                16/10/2013
         

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