sábado, 26 de outubro de 2013
PARTIR OS DENTES À REACÇÃO
Já nos idos de 1975, os comunistas portugueses apregoavam estridentes por todo o país a necessidade patriótica de partir os dentes à reacção, que alguns atarantados coitados exibiam perante o feroz assalto que o PC (e os seus satélites) lançava sobre as pachorrentas instituições plantadas no país pelo Estado Novo, décadas antes. 40 anos passados, de novo se nota esta revolucionária atitude perante as medidas reformistas que o governo confusamente quer implementar, seguindo obedientemente as orientações determinadas pela troika.
Animados pela vitória eleitoral nas ultimas autárquicas, onde os comunistas retomaram algumas das Câmaras que pensavam perdidas para sempre, o secretário-geral do PC e o presidente da Intersindical falam em renacionalizações de empresas e em alternativas aos cortes salariais através dum novo aumento dos impostos sobre os chamados ricos, como a melhor forma de fazer saír Portugal da crise que o assola.
Esquecem-se, porém, que os tempos são outros e que a verdadeira saída da crise não depende de medidas internas de redistribuição de rendimentos, mas sim do saneamento das instituições do Estado de forma a permitir maiores poupanças e menos gastos. Já lá vai o tempo das mariscadas com o dinheiro das empresas nacionalizadas criadas por outros e dos jeeps e das casas com piscina compradas com o dinheiro que vinha da Europa para o saneamento do país. O problema hoje é um problema de subsistencia e já não uma questão de afectação da titularidade dos escassos bens disponíveis. Temos que produzir mais e melhor para criar mais riqueza nacional que nos permita evitar o crescente recurso aos empréstimos externos para subsistir neste mundo cada vez mais globalizado.
A reacção hoje está naqueles que, tentando impedir com greves e paralizações de trabalho, se avance num verdadeiro saneamento das instituições nacionais, reduzindo despesas com actividades excessivas e que se criem condições para que Portugal possa produzir mais e melhores bens transaccionáveis. Enquanto os nossos credores não estiverem convencidos dessa possibilidade, não estaremos em condições de regressar normalmente aos mercados e portanto continuariamos sujeitos à vigilância de terceiros. A isto se chama intervencionismo do Estado, que é o mesmo do que antes se chamava protecionismo. Estamos sob protectorado da UE e do FMI e, ou fazemos o que eles nos mandam, ou somos levados por eles à falência. É claro que uma situação destas não se poderá prolongar indefinidamente, pois a construcção europeia não espera por nós. Já durante a nossa intervenção, a Croácia foi admitida como 30º membro da UE e a Letónia entrou na zona euro. A continuarmos o nosso caminho descendente, qualquer dia a UE desiste de nós como parceiro (pois cada vez menos mostramos poder cumprir os critérios comunitários de pertença ao maior bloco comercial do mundo) lançando Portugal num caminho perigosissimo, que nos irá necessariamente conduzir a um isolamento internacional, semelhante ao da Albania e do Kosovo, onde pontificam os gangs guerrilheiros que controlam o país com os seus golpes e as suas arbitrariedades.
Será isto que querem os comunistas portugueses e os seus seguidores? Não será por acaso que já não existem partidos comunistas organizados na maioria dos países europeus (apenas na Grécia e na parte correspondente à antiga Alemanha comunista, que ainda não conseguiu integrar-se totalmente na grande Alemanha) pois o marxismo já deu provas de inexequibilidade e o leninismo morreu com Lenine. Ou será que o PC já não é marxista como o PS, que meteu o marxismo na gaveta?
Não defendo, como antes faziam os marxistas em Portugal, que devam ser partidos os dentes àqueles que não pensam como nós, mas creio que algumas medidas mais energicas que lhes façam ver que não é tolerável usarem a democracia onde os deixam viver (eles nunca permitiram, como se sabe, outros partidos nos países que antes dominaram) para exercerem arbitrariamente os direitos que a Constituição confere aos cidadãos, contra o país que é de todos e não apenas de um grupelho de reaccionários que nunca foi eleito para funções de governo nacional, nem tem responsabilidades nacionais de qualquer natureza.
ALBINO ZEFERINO 26/10/2013
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