terça-feira, 1 de outubro de 2013
O POVO É QUEM MAIS ORDENA
Os resultados eleitorais de domingo passado nas autárquicas portuguesas foram decepcionantes. Em primeiro lugar porque votaram apenas pouco mais de metade dos eleitores inscritos, o que legitima os resultados das eleições apenas a metade. Significa que metade das pessoas a quem foi perguntado quem deveria mandar nas autarquias, se está nas tintas para isso. Será isso suficiente para legitimar o poder daqueles que foram eleitos? Mesmo dos que se arrogam terem sido eleitos pela maioria dos votantes do seu circulo? Não creio.
Em segundo lugar, porque os grandes vencedores foram os chamados independentes. Nunca em 35 anos de eleições livres, tantos independentes foram eleitos para a direcção das autarquias. A democracia para ter sucesso tem que estar enquadrada nos partidos. Senão é a anarquia quem reina. Já pensaram como decorrerão as reuniões do governo com os autarcas independentes para a definição das estratégias autárquicas a nível nacional? E a discussão sobre a lei das finanças locais? Que partidos apoiarão os candidatos independentes? Vai ser muito confuso, sobretudo num país com dificuldades financeiras como é o nosso.
Em terceiro lugar, a banhada eleitoral sofrida pelo PSD não augura um futuro muito risonho para o governo, numa altura em que se começavam a revelar sinais de alguma recuperação económica (embora ainda muito tímida). Até que ponto o ufano Portas se manterá agarrado a uma barca com sinais evidentes de afundamento a prazo? Não será estrategicamente agora o momento do CDS começar a descolar da coligação? Os bons resultados autárquicos do CDS (que passou do taxi para o minivan) a isso sugerem. Vamos lá a ver como decorrerão as votações parlamentares do próximo orçamento do Estado, para o mes que vem.
Em quarto lugar, a votação no alternativo PS de Seguro não foi suficientemente expressiva para tranquilizar as hostes socialistas quanto a uma futura governação descansada. Tudo indica que a desejada maioria absoluta não será atingida nas próximas legislativas, pelo que o recurso ao CDS do sinuoso Portas não deverá poder ser dispensado. Ou seja, continuaremos a ser governados por um governo provisório.
Finalmente, na esquerda não alinhada, o PC subiu (eu diria que vertiginosamente, ficando a controlar de novo o país ao sul do Tejo) com os inconvenientes que isso acarreta em termos de unidade nacional, num dos momentos mais delicados para a sobrevivencia de Portugal como país soberano e independente. Por seu turno, o famigerado Bloco de Esquerda esvaziou-se, embora eu não creia que Seguro consiga nas próximas eleições legislativas secar por completo os desiludidos do PS, ao ponto de anular o Bloco de Esquerda no Parlamento.
Veremos como o futuro se apresentará a Portugal. Não creio que haja condições para evitar um 2º resgate financeiro, nem que eventuais concessões nas taxas do defice ou na extensão dos prazos da divida (que creio serem inevitáveis) venham melhorar a vida dos portugueses nos próximos anos. Pelo contrário, julgo que Seguro e o seu PS terão ainda mais que penar quando cheguem ao governo, do que o PSD de Passos tem sofrido.
ALBINO ZEFERINO 1/10/2013
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