sábado, 21 de março de 2015

PERSPECTIVAS E REALIDADES


          Aproximando-se o final de um ciclo politico com a realização das próximas eleições legislativas (as verdadeiras, as que contam porque escolhem caminhos) parece-me interessante perspectivar as realidades que hoje se nos apresentam. E quais são essas realidades? A primeira delas é a lição que estamos colhendo da rebeldia da Grécia face aos ditames europeus e que deverá servir-nos de exemplo futuro na escolha do novo governo que sairá das eleições do próximo outono. Se quisermos alinhar na contestação da realidade (somos um país endividado e portanto dependente da vontade dos nossos credores) a par da Grécia e de outros liricos, então deveremos preparar-nos para nova dose de austeridade ou pior ainda para privações efectivas de dinheiro e de condições objectivas para prosseguirmos o caminho iniciado vai já para 30 anos. Caso prefiramos manter o low profile e aproveitar o trabalho iniciado (mas longe de estar terminado) por Passos Coelho y sus muchachos (já infectados pelo fascinio do poder e portanto muito gastos e sem iniciativa) deveremos preparar-nos para nova vida mais recatada e simples do que aquela que muitos ambicionam e que uma verdadeira recuperação económica exige. E com quem?
          Na primeira hipótese, será com Costa y los suyos. Dentro do PS os que apoiam verdadeiramente Costa (e com quem ele poderá contar) são os antigos socretinos, ansiosos por recuperar o poder e poder esquecer o Sócrates. Mas, porém, sem maioria, Costa terá que se apoiar noutros. E esses outros não serão nem PSD nem CDS. Será a Mortágua e os jovens turcos do PC que vão apoiar Costa. Teremos assim em Portugal um Syrisa ao contrário. Uma frente de esquerda (ou frente popular, como antes se chamava) que nos empurrará para fora do sistema onde há 30 anos conseguimos entrar com muito esforço e preserverança. Costa e o seu PS darão a cara e a Mortágua e o seu bloco darão o litro. E o Junker dar-nos-à na cabeça.
          Na segunda hipótese, será com Maria Luis e os seus quadrilheiros. Verdadeira Pasionaria do equilibrio orçamental, será alçada à cabeça do grupo do centro direita (mas já sem Passos nem Portas, queimados pela Tecnoforma e pelos submarinos, respectivamente) para, a troco de umas festinhas na moleirinha por parte dos seus pares do Eurogrupo, impor um férreo regime de abstinência neste pobre país endividado por anos de roubalheiras e de abusos. Como se vê, as alternativas que se nos apresentam não são brilhantes.
          De quem foi a culpa? Eu diria que de todos os que permitiram que os Sócrates e os Ricardos Salgados deste mundo tomassem o poder que lhes abriu o caminho para fazerem as vilezas de que são acusados. Não nos esqueçamos que Sócrates ganhou a maioria dos votos dos portugueses por duas vezes sucessivas e numa das vezes por maioria absoluta (ou seja, juramos a pés juntos que aquele era o nosso homem). E o Salgado punha e dispunha dos governos do Barroso e do Sócrates (a um dava-lhe ordenado e a outro empréstimos a fundo perdido). Não nos queixemos portanto de estarmos agora a sofrer os refluxos da nossa inconsciência colectiva e da nossa ignorância atávica.
          Em qualquer dos casos as coisas importantes já estão definidas. O sistema bancário portugues ficará dividido entre os espanhois do Santander e os angolanos do BPI/BCP, com a Caixa nacionalizada a segurar as pontas. O resto está nas mãos dos chineses (Fosum e Three Gorges), dos franceses (Vinci e Altice) e a TAP logo se verá se ficará para a Ryannair ou para a Easyjet. Seja quem for que ficar a governar pouca margem de manobra terá. Mesmo os impostos serão comunitarizados em breve e deixaremos de poder decidir quem os paga e como os paga. Tudo virá de fora. É esta a realidade dos nossos tempos e serão estas as perspectivas com que poderemos contar.

                              ALBINO ZEFERINO                                             21/3/2015

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