domingo, 22 de março de 2015

PORTUGAL A VOL D´OISEAUX


          Portugal foi sempre um país em construcção. Desde a sua fundação que se começou a expandir para sul à custa dos mouros. Terminada a conquista territorial, ensaiamos a descoberta do mar até chegarmos à divisão do mundo com os espanhois no tratado de Tordesilhas (que ninguem conhece além de nós). Veio depois a expansão ultramarina até à invasão espanhola que nos cortou as asas e nos ia engolindo não fosse a decadência dos Austrias. De novo independentes, esforçamo-nos por mostrar ao mundo que eramos capazes de progredir sozinhos (afinal precisamos do Brasil para essa tentativa). Após o liberalismo e da perda do Brasil começou a decadência, da qual só nos apercebemos com o ultimato ingles. A partir daí foi o desastre completo. Vieram depois a republica e mais tarde os cravos e o definitivo abandono do sonho impossivel. Hoje somos mais um entre muitos à espera de Godot. Assim se passaram quase mil anos entre soluços lamurientos de vidas tristes e arrastadas intercaladas por periodos de aparente desafogo e glória, produto dos fogos fátuos de que a nossa história é fértil. O que temos hoje além dessas memórias de grandezas passadas e efémeras?
          Teremos que mudar os nossos paradigmas se quisermos sobreviver neste mundo cão de permanentes desassossegos e de globalização acelerada. Sózinhos não conseguiremos, como nunca antes conseguimos. Sem os ingleses não teria havido glória em Aljubarrota, nem paz em Évora Monte. Só que agora o que mais poderemos ambicionar é uma paz partilhada com os outros europeus que nos acompanham nesta caminhada inacabada chamada União europeia. Por isso digo que é preciso fazer ver a esta pobre gente lusa que, por muito que nos aproximemos de angolanos, brasileiros, chineses ou outros amigos novos, é na UE que reside o nosso futuro. E mesmo assim não podemos esquecer-nos que, para nós, UE significa Espanha. É através da Espanha que recebemos a energia de que necessitamos e é através da Espanha que chegamos ao centro da UE. Saimos da Espanha e é com a Espanha que conseguiremos manter a nossa identidade nacional. Nunca contra ela. Sem interiorizarmos esta realidade nunca mais conseguiremos perder este complexo de inferioridade que nos vem dos tempos do isolacionismo. Ser portugues não é gritarmos aos quatro ventos que somos independentes há quase mil anos. Ser portugues (como ingles, estónio ou croata) é conseguir que a nossa identidade como povo antigo e nobre seja reconhecida no seio duma entidade maior e mais poderosa que tambem faz parte de nós e conosco conta para se desenvolver.

                         ALBINO ZEFERINO                                                    22/3/2015

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