sábado, 28 de março de 2015

O CONCEITO ESTRATÉGICO NACIONAL


          Desde sempre que os portugueses se preocuparam em definir o conceito estratégico nacional como se, sem ele, não fosse possivel viverem em paz e sossego. Mas afinal em que consiste esse tão importante e indispensável conceito? Eu diria que o que os portugueses procuram é algo que os guie nas suas vidas, à falta de capacidade e de determinação para saberem o que querem. O portugues médio é inconsistente nas suas convicções, é medroso em manifestar as suas opiniões e receia assumir responsabilidades. Daí a preocupação saloia na procura de um conceito (ou de um plano) que sirva a todos (e que seja comumente aceite) para orientarem as suas vidinhas.
          Já no principio da nacionalidade, a determinação, a valentia e a manha de Afonso Henriques e dos seus sucessores traçou o conceito estratégico nacional que consistiu, como se sabe, na conquista territorial à custa dos mouros. Mais tarde, definido o território nacional, a estratégia nacional passou a ser a descoberta de novas terras a partir das viagens maritimas. Interrompida esta estratégia pela perda da soberania para os espanhois, voltamos a ter estratégia a partir de 1640 com a reconquista da independencia. A estratégia de então passou a ser a exploração dos territórios ultramarinos. A partir do ultimato ingles, acabou essa estratégia e Portugal entrou em crise, sem estratégia definida nem objectivos desenvolvimentistas. Salazar voltou a definir uma estratégia que assentou na neutralidade na Guerra mundial e na defesa do ultramar portugues como parcelas do território nacional. Com a revolução dos cravos, surgiu novo conceito estratégico nacional assente em tres premissas: democratização, descolonização e desenvolvimento. A democratização ficou-se pela elaboração duma nova constituição politica, a descolonização traduziu-se na entrega pura e simples dos territórios ultramarinos aos movimentos independentistas comunistas que os reivindicavam e o desenvolvimento surgiu apenas com a adesão à então CEE, em 1986.
          E agora, passados 40 anos da última definição duma estratégia nacional, qual é a nossa estratégia? Eu diria que a estratégia hoje deixou de ser nacional. À falta de coragem e de determinação dos governos (eu diria até falta de conteúdo programático) passaram a existir tantas estratégias quantos os partidos politicos que existem. Para os europeistas, a estratégia é mantermo-nos na União europeia. Para os anti-europeistas, é sairmos da União europeia. Para os monetaristas, há os que defendem a permanencia no euro e os que desejam que saiamos da zona do euro. Para os socialistas, a estratégia é a defesa do Estado como motor do desenvolvimento nacional, enquanto que para os liberais é a libertação do Estado das responsabilidades económicas através da privatização. Para os comunistas, depois da queda do comunismo na antiga União soviética, ainda não percebi que estratégia nacional defendem na realidade (a não ser retirar o dinheiro aos ricos para o dar aos pobres).
         Enquanto não assentarmos em conjunto para onde queremos ir, como o faremos e quando, não poderemos ter veleidades em continuarmos a ser respeitados pelos outros e a desenharmos um futuro risonho para todos onde nos possamos orgulhar de ser portugueses e de proclamarmos a nossa soberania e independencia nacional.

ALBINO ZEFERINO                                                     28/3/2015

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