domingo, 3 de maio de 2015

A CRISE EUROPEIA



                Agora que a Fénix renascida parecia estar em vias de domesticação, eis que suge no horizonte uma nova ameaça à paz e à tranquilidade que a Europa precisa para se recompor dos abalos que vem sofrendo neste principio de século exigente e um pouco imprevisivel. Refiro-me ao Brexit (agora que o Grexit parece estar a passar de moda) como a designação que alguns cómicos puseram à onda de indignação nacionalista que nasceu no coração do antigo Império britânico, encabeçada por um tal Farage que, qual Le Pen nos seus melhores tempos, tenta desencaminhar os brits para um abandono rebelde (porém anunciado) da Grã-Bretanha da União europeia, desencantados com o caminho que a UE está a levar.
                É bem verdade que ainda não será possivel cantar vitória enquanto os gregos não tiverem entrado pacata e ordeiramente no redil, mas aproveitar-se deste afrouxamento da tensão (trazido pelas medidas de "quantitative easing" implementadas pelo esforçado Draghi, a partir do seu gabinete de Frankfurt) para mostrar as garras, não é próprio dum país civilizado e civilizador como é o caso da Grã-Bretanha e dos seus competentes dirigentes. Esta luta reflecte o auge do momento das grandes decisões onde a União Europeia se encontra, no sentido de definir para onde este conjunto de países quer ir, se para uma federação à americana, se para uma união de Estados, como parece quererem os britanicos. Uma e outra das decisões não são alternativas ao desenvolvimento do magnifico projecto lançado pelos visionários de 1957. A opção pela união de Estados, apenas solidários nas politicas comuns e pouco dispostos a abdicar dum nacionalismo bacoco onde a globalização mundial impõe novas soluções regionais integracionistas, não chega. Os países europeus para subsistirem devem fazer um esforço para se unirem cada vez mais e cada vez mais profundamente, sem olhar a interesses particulares ou paroquiais e abdicando de manifestações de soberania antiquadas e hoje inuteis, desajustadas e despropositadas. Dir-se-á que desta forma desaparecerá o espírito europeu, fruto de culturas por um lado díspares mas ao mesmo tempo complementares ou derivadas umas das outras, espírito esse que constitui a riqueza e a originalidade da União europeia.
               Mas direi eu (e outros) que é precisamente para não "apagar" essa diversidade cultural caracteristica da Europa de hoje (aí estaremos todos de acordo), que é necessário prosseguir na construcção duma Europa forte e solidária, capaz de ombrear com os outros grandes grupos de países ou continentes, na busca duma civilização onde toda a Humanidade se reveja sem necessidade de voltar a tentar subjugar uns e outros para poder subsistir. Não se pense que sem a guerra civil norte-americana teria sido possivel construir aquele magnifico país como hoje o conhecemos. Não propugno mais guerras civis na Europa (já chegaram as que houve), mas afirmo que, sem uma vontade supranacional, desprovida de complexos históricos e sociológicos, não será possivel progredir na construcção da única obra susceptivel de evitar o desaparecimento, a mais ou menos curto prazo, da civilização europeia como a conhecemos desde o principio dos séculos. Neste mundo complexo e hostil, onde cada dia surgem novas manifestações de cuidado, não há outra forma de subsistir senão unindo esforços e capacidades para manter viva a ideia duma Europa firme e forte. Pensarmos que a opção é a de nos unirmos mais ou menos é um erro que pode vir a custar-nos caro. Se não subsistirmos como entidade una e firmemente disposta a assim permenecermos, não pensemos que poderemos subsistir muito mais tempo beneficiando dos privilégios de que gozamos como povos civilizados e civilizadores. Mais cedo do que possamos pensar, os vizinhos povos asiáticos descerão à planicie europeia e construirão (à força certamente) um bastião euro-asiático que possa fazer frente aos outros grupos continentais no dominio do universo. Podemos estar certos disso, infelizmente.

                                    ALBINO ZEFERINO                                                        3/5/2015

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