sábado, 27 de fevereiro de 2016

A DESMISTIFICAÇÃO DO BREXIT


          E se apesar de tudo os britânicos votarem mesmo maioritariamente na saida da UE? Será a priori um grande desaire para os europeistas e uma revolução anunciada para a continuidade pacifica e pachorrenta da construcção europeia. A GB não é a Grécia nem é Portugal e por conseguinte conseguirá resisistir por si só a essa provação. O eterno isolamento britanico do velho continente já vem de longe. Mas e a UE? Subsistirá sem a GB? Sim, mas tambem.
          Está claro que o afastamento dum grande país do processo decisório europeu fará moça no habitual ram-ram bruxelense e o desmantelamento dos laços burocráticos já criados com as instituições europeias não será nem fácil nem instantâneo. As reacções serão de diversa ordem: primeiramente mediáticas. O abandono da UE por referendo de um País determinante para os destinos europeus será considerado por muitos como a passagem da certidão de óbito dum processo integrador que atingiu o seu fim. Muitos, da esquerda à direita cantarão loas. Mas será mesmo assim? Não creio.
          Terá tambem consequências financeiras. O RU, embora não seja país pagador, contribui através de mecanismos próprios para o desenvolvimento do processo europeu. E mesmo que os laços não se desfaçam de todo (a GB não passaria a ser inimiga da UE e dos seus EM pelo facto de abandonar a organização) a continuidade da colaboração britânica pontual e casuistica não ficaria em causa. Ou seja, não seria dramático nesta perspectiva.
          Noutras áreas sentir-se-iam certamente tambem reflexos dessa desagregação. A GB deixaria de colaborar na politica externa e de segurança da UE, na PAC, na politica de fronteiras e na ajuda ao desenvolvimento. Mas tudo isto poderia ficar regulado bilateralmente, como acontece com a Suiça e com a Noruega. Tambem não seria dramático.
          E para os bifes? Seria assim tão bom como Farage, Boris, Gove e outros apergoam? É certo que a GB deixaria de gastar dinheiro com a UE (embora, repito, não seja um contribuinte liquido) mas tambem deixaria de receber a solidaridade dos outros em áreas que fazem arranjo, como nos refugiados ou no controle do mercado financeiro, por exemplo. Enfim, a contabilidade material será complexa de estabelecer. O grande prejuizo seria o isolamento. Não é, a meu ver, afastando-se do seu habitat natural (tal como pretendem os nacionalistas catalães ou escoceses) que os nacionalistas fazem progredir o seu país, neste mundo cada vez mais globalizado pela informática e pelos negócios. Acho que o futuro dos países europeus está na UE e é dentro dela que individuos, empresas e instituições poderão progredir. Não fora dela.
          A saida da GB da UE traria tambem vantagens para o processo integrador. Primeiramente desapareceriam os obstáculos institucionais que britanicos e outros sistemáticamente colocam ao aprofundamento da integração europeia. Depois, a saida da GB da UE constituiria uma experiencia que outros criticos do processo europeu observariam com maior cuidado e menos ligeireza. Que vantagens trouxe? Que inconvenientes determinou? Só vendo. Considero que, tal como nas cirurgias curativas dos carcinomas onde a ablação dos tecidos infectados permite ao paciente continuar a sua vida normal sem obstáculos nem privações, a saída da UE de países que não querem que o processo integrador avance, permitirá a este avançar com maior desenvoltura e rapidez para estádios mais avançados de cooperação institucional inter-estadual capazes de fortalecer a UE e os EM que a compõem.
         Penso porém que o pragmatismo britânico vai prevalecer e que esta questão do Brexit será em breve ultrapassada e esquecida por uns tempos.

                 ALBINO ZEFERINO                                                    27/2/2016

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