sábado, 20 de fevereiro de 2016

PORTUGAL E A GUERRA NA EUROPA


          Sem embargo do enorme esforço e determinação dos construtores da Europa de hoje, comumente conhecida por União Europeia, o certo é que essa Europa progressista, nascida no pós-guerra e fruto de visionários esclarecidos, acabou. Embora a sua certidão de óbito só tivesse sido passada quando da crise financeira de 2008, curiosamente provocada pelos desmandos norte-americanos associados ao imobiliário, o final desta Europa de Monet, de Schumann e de outros já era esperado a partir do ultimo alargamento, este por sua vez resultante da détente europeia de 1989. Incapazes de integrar-se no movimentado e sinuoso mundo da globalização, os países do Leste europeu dificilmente se vêm ajeitando às numerosas directivas, regulamentos e avisos emanados da burocrática Bruxelas, apesar do esforço que os respectivos governos têm revelado. Cansados de lutar, alguns destes países viraram à direita, sempre com o espectro comunista na memória. Mas não apenas estes novos países do ultimo alargamento se ressentem, mas outros países periféricos desse mundo novo (agora já com mais de meio século) começaram tambem a sentir dificuldades em acompanhar o ritmo desenvolvimentista dos países originários da UE mais desenvolvidos. Começou assim uma guerra de várias frentes, com vários protagonistas e com várias estratégias em confronto.
          Conscientes de que a sua sobrevivencia nesta guerra de interesses e de influencias económicas depende da melhor ou pior forma como a integração alemã resultar, os alemães apostaram na integração europeia como corolário dessa mesma integração alemã que, apesar dos enormes esforços dos vários governos que se vêm sucedendo na nova Alemanha, experimenta dificuldades ainda não completamente ultrapassadas. Em contrapartida, o declinio que a França tem vindo a registar desde a queda de Mitterand e o cada vez maior isolamento da Grã-Bretanha relativamente às questões europeias, têm permitido que a Alemanha assuma o comando das operações em Bruxelas. Temos assim uma primeira e mais importante frente desta guerra europeia, que resulta do confronto dos grandes países entre si para controlarem a UE em seu próprio beneficio. Por um lado, a Alemanha, cuja estratégia é a sobrevivencia dum país grande e unido, capaz de ser a referencia europeia na arena mundial globalizada. Por outro lado, a França, em vias de islamização acelerada, a perder vigor e importancia, com a ameaça da extrema-direita anti-europeia cada vez mais à espreita, não quer perder o seu estatuto de país decisor nas grandes questões europeias. Finalmente, a Grã-Bretanha, com a guerra contra o IRA resovida e de novo a dar cartas nos mercados financeiros, não quer perder os pergaminhos de grandeza que, com a ajuda americana, conseguiu ganhar enfrentando corajosamente a invasão nazi. Esta é a frente de combate essencial na guerra europeia, mas não é a nossa frente de combate.
          Outra frente desta guerra europeia é a guerra contra a evidência, protagonizada pelos paises mais débeis que foram sujeitos às agruras da austeridade. Essa é a nossa guerra. A Grécia primeiro e agora Portugal enfrentam um problema sério de sobrevivência enquanto países soberanos e autónomos. O excessivo endividamento externo e a dificuldade crónica no controle do défice publico destes dois países europeus são fenómenos da maior importancia no contexto comunitário. Uma vez admitidos no seio dos países do euro, gregos e portugueses obrigaram-se perante os restantes membros do euro-grupo a sujeitarem-se a regras orçamentais muito rigorosas que têm a ver prioritariamente com a saude da própria moeda comum. Não aceitando a posteriori a submissão a essas regras, Portugal (e a Grécia) coloca-se numa posição muito melindrosa, pois com a sua atitude, compromete não só o futuro do país, como sobretudo (aos olhos dos seus parceiros do euro-grupo) o futuro do próprio euro como moeda de referencia mundial. Não se trata portanto, como muitos querem fazer crer, de uma qualquer estratégia malévola dirigida contra os portugueses (ou contra os gregos) por serem pobrezinhos. O que os países do euro-grupo não querem é que portugueses e (ou ) gregos venham dar cabo duma estratégia essencial para a preservação da UE como organização charneira nos destinos do mundo globalizado de hoje. Para isso são necessárias reformas profundas e urgentes nos respectivos países, que põem em causa interesses adquiridos e formas de ver o mundo diferentes daqueles a que portugueses (e gregos) estão habituados, por anos e anos de incompetencia e de aleivosia governativas, que deixaram Portugal (e a Grécia) pelas ruas da amargura e que agora alguns não querem reconhecer nem aceitar. A soberania não se recebe, nem se herda. A soberania impõe-se através de  trabalho árduo, sério e proficuo, reconhecido por todos os que por nós se interessam e não se conquista com falsas promessas ou reivindicações balofas. Isso é troçar dos portugueses e julgar que todos somos estupidos e calões. Queira o novo Presidente da Republica assumir esta luta que terá consigo, estou certo disso, a maioria dos portugueses. Esta é a nossa guerra!

       ALBINO  ZEFERINO                                                                                      20/2/2016

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