terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

O REFERENDO BRITÂNICO


          Com o acordo forçado dos governos dos restantes 27 Estados membros, Cameron conseguiu consagrar para o seu país um regime excepcional no seio da UE que se traduz pura e simplesmente no seguinte: O RU beneficiará de todas as decisões comunitárias que o seu governo considerar benéficas para o país e rejeitará todas aquelas que o seu governo considerar prejudiciais para o RU. Uma espécie de opting-out genérico, à la carte ou à vontade do freguês, confome as linguas que definam a aleivosia. Imaginem se a moda pega. Seria o fim imediato da UE como a conhecemos.
          Contudo, em vez de suscitar desagrado ou mesmo rejeição por parte dos europeistas mais aguerridos, não. Parece que toda a gente ficou muito contente com o resultado das conversações que Cameron impôs aos seus pares no último Conselho europeu. É que, dizia ele, se não se conseguir chegar a um acordo que satisfaça a maioria dos ingleses, o governo britanico não terá pé para defender a recusa do Brexit no próximo referendo. E assim sendo, o Brexit tornar-se-á inevitável, agora que os Trabalhistas foram de novo conquistados pela extrema-esquerda anti-europeia. A isto chama-se vulgarmente chantagem, conceito muito utilizado pelos ingleses durante a sua atribulada história.
          A escandalosa derrota da solidariedade europeia às mãos duma Inglaterra ávida do protagonismo que lhe vem escapando na razão directa do sucesso da integração europeia na resolução da crise financeira, obra ainda inacabada mas de enorme e decisivo folgo, veio levantar a questão de saber se os problemas britanicos devem influenciar ou não o percurso europeu no sentido da integração desta Europa dividida entre federalistas e governamentalistas, entre apoiantes duma integração plena que envolva refugiados económicos e aqueles que a rejeitam, em suma, entre os que querem uma Europa dividida em capelinhas ou os que querem uma Europa unida e forte capaz de ombrear com as grandes potencias deste mundo globalizado e competitivo. Compreende-se a relutancia britanica em aceitar partilhar com alemães e franceses as decisões conducentes à condução da Europa e à resolução dos problemas europeus, que são a extensão dos mesmos problemas que afligem o RU.  Só não se compreende a forma brutal e sem alternativa como o PM britanico "obrigou" os seus parceiros a beneficiar os ingleses, como uma "homenagem" à coragem inglesa demonstrada na Guerra contra os boches alemães e contra os seus colaboracionistas franceses. A guerra já lá vai há muito tempo e nem a França nem sobretudo a Alemanha de hoje tem algo que ver com a Alemanha nazi ou com os pétanistas franceses.
          Estou convencido de que o referndo britanico vai ser negativo, como têm sido todos os que põem em causa a pertença do RU à UE. Os ingleses são um povo sábio, genericamente culto e preferem pertencer à UE com vantagens do que sair dela sem vantagem nenhuma. Mas se porventura os loucos tomarem conta do RU e apesar do que digo votarem a favor duma saida do país da UE, então sim, a UE estará acabada e com ela Portugal e os países em dificuldades. Não será navegando sózinho neste mar encapelado de dividas e de alçapões que Portugal conseguirá sobreviver. Nessa altura, teremos que estar muito juntos e não haverá mais espaço para fantasias, senão seremos comidos pelos lobos que espreitam gulosos este cantinho à beira-mar plantado.

                         ALBINO  ZEFERINO                                              23/2/2016
         

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