domingo, 7 de fevereiro de 2016

O MURO DA VERGONHA



          Em 1961, o então Presidente da antiga Alemanha Democrática ou do Leste, Erich Hoennecker, mandou erigir um muro de 145 Kms, dividindo a antiga capital do Reich alemão em duas partes, uma correspondendo à zona soviética de Berlim, capital da RDA, e outra correspondente às zonas britânica, norte-americana e francesa, que ficou conhecida por Berlim ocidental, ou zona livre do comunismo. A capital da RFA tinha sido transferida, em 1949, para Bona. A zona livre de Berlim era administrada pela RFA e beneficiava do regime verdadeiramente democrático vigente na RFA. A construcção desse muro intransponivel deu origem a um verdadeiro cerco de Berlim ocidental pelas forças autoritárias do comunismo. O muro passou a chamar-se "muro da Vergonha", pois dividia os cidadãos berlinenses, consoante o lado em que residiam, entre o comunismo e o capitalismo. De um lado, Berlim era desenvolvido, alegre e rico, do outro, Berlim era uma cidade parada no tempo, sem luz e sem esperança para os que ficaram com a desdita de aí morarem. Não podiam passar para o outro lado senão eram abatidos sem aviso pela policia da RDA, a famosa "Stasi". Muitos morreram na tentativa de saltarem o muro, outros, muito poucos, foram conseguindo fugir, iludindo os ferozes algozes comunistas, que disparavam contra eles impiedosamente. Esta situação durou, como se sabe, até 1989, quando, por força da perestroika e na sequência dum movimento expontâneo da população berlinense de ambos os lados, o muro foi abatido e o comunismo foi irradiado da Alemanha, ficando o país de novo unido, como felizmente hoje ainda está.

          A Alemanha, de novo unida, erigiu-se, a partir de então, como o motor da União europeia, graças ao enorme esforço económico e social que a RFA empreendeu na integração politica e económica entre as duas partes do país, que ainda hoje perdura. O alargamento da UE aos países do Leste europeu foi tambem uma das consequencias desse esforço integrador patrocinado pelo eixo franco-alemão e foi assim que a Europa de hoje se transformou numa potencia mundial de primeira grandeza. Foi na sequência desse movimento que surgiram os novos tratados europeus de Maastricht, de Nice, de Schengen e de Lisboa, que deram novo corpo à unidade europeia e que devolveram ao continente europeu o seu actual estatuto de lider mundial, a par dos EUA.

          Contudo, com o aparecimento do terrorismo internacional, após os ataques às torres gémeas em Nova Yorque, consubstanciado na Al-Qaeda e depois no ISIS, e em consequencia disso, com o surgimento em força da imigração árabe e muçulmana em direcção à Europa, a situação na UE mudou radicalmente. A própria integração europeia, em fase de concretização lenta e diferenciada, começou a ser contestada, sobretudo pelos países membros mais atrasados (isto é, por aqueles cuja integração mais esforços reclama). É o que se verificou com a Grécia e com Portugal e tambem com a Itália e com a Espanha e com vários países do leste europeu. A crise financeira de 2008 atingiu em força as populações europeias menos preparadas e começaram a surgir, aqui e ali, forças politicas que, aproveitando-se do descontentamento popular, surgiram com teses mais radicais que punham em duvida as virtualidades duma Europa unida e progressista. Foi assim na Grécia, em Portugal e em Itália, com o advento de partidos de extrema-esquerda em franca ascenção e na Hungria, em França e na Polónia, com a subida ao poder de partidos da extrema-direita, que defendem uma maior desvinculação das regras comunitárias, pondo assim em causa o projecto integrador europeu.

          Não será com a erecção de muros fisicos que os defendam duma imigração indesejada, ou com a instalação de muros psicológicos que obnubilam as mentalidades assustadas dos mais pobres, que os governos de direita da Hungria e da Polónia, ou os governos esquerdistas da Grécia e de Portugal, vão conseguir destruir um projecto onde cabem todos e onde todos, se souberem entender-se, se reverão num futuro de progresso e de paz, livre de constrangimentos e de dificuldades. Saibamos construir com trabalho, sensatez e inteligencia o unico caminho possivel para um futuro risonho e feliz onde possamos mostrar ao mundo as virtualidades dum sistema de paz social e de progresso económico, que todos desejamos e que já muito caminho percorreu.

                  ALBINO  ZEFERINO                                                               7/2/2016

         

       

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