domingo, 21 de fevereiro de 2016

A PASSAGEM DO RUBICÃO


          Estamos à beira da passagem do Rubicão, ou seja para os menos entendidos em aforismos, estamos prestes a chegar ao ponto a partir do qual o regresso (ou a regressão como hoje se diz) se torna impossivel.  Refiro-me à desgraça que caiu sobre nós com a queda do império Espirito Santo. Não tem sido por acaso que o tema deixou de ser discutido nos jornais e que o Parlamento arrumou num canto depois de retirar as conclusões superficiais e sem consequencias do seu inquérito parlamentar. É que ninguem quer cavar mais fundo nessa lixeira com medo de ficar contaminado e de contaminar o país inteiro.
          Uma das consequencias desta coligação governativa contra natura que nos rege é precisamente o desejo de uns e a dissimulação de outros na abordagem de tema tão profundo e arriscado para a sobrevivencia de Portugal como Estado soberano e independente (tanto como poderá hoje sê-lo). Para o PS, entalado entre a obediencia às cominações comunitárias e o cumprimento das juras de amor feitas aos comunas nacionais sem as quais cai pela escada do Parlamento abaixo, a coisa tem sido resolvida (ou melhor, adiada) com dissimulação. Dirão alguns espertos que a coisa tem sido empurrada para a frente com a barriga, na esperança que Nossa Senhora das Mágoas apague o fogo que teima em não se extinguir. Costa é perito nestas coisas da dissimulação e do engano e o Zé povinho vai na primeira patranha que lhe contam. O BE, por seu turno e pela voz das gajinhas de serviço, vai impedindo que a coisa caia no esquecimento com algumas declarações esganiçadas que Mortáguas, Marinas e Catarinas vão fazendo, sempre que apanham um microfone pela frente. O que querem os apoiantes parlamentares de Costa? Querem aproveitar a desastrosa e vergonhosa forma como o GES caiu, arrastando consigo para a falência o BES, sócios, clientes e simples depositantes, para nacionalizar o banco, com o pueril pretexto de que a banca nacional não poderá ficar toda ela entregue aos malvados dos espanhois, que tanto esforço e labor custaram aos restauradores de 1640. O Santander apenas aguarda a oportunidade para lançar uma OPA ao Novo Banco, logo que a situação amadureça, dizem elas.
          Esta é a verdadeira questão de fundo cuja resolução vai determinar se Portugal continua ou não à tona da água, ou se, pelo contrário, vai pelo cano abaixo definitivamente e sem regresso. Perder o controle nacional da banca não é bom, mas tambem não é fatal. Depois duma intervenção financeira que durou mais de 3 anos, algo teria que mudar nesta terra de brandos costumes e de hábitos ancestrais. Não é por não controlar a banca (sempre fica com a CGD para brincar) que o país vai à viola. Mas tornar-se dono disto tudo, como aconteceu no PREC, abarcando com as consequencias financeiras dessa posse, não é certamente a melhor maneira de progredir e de criar riqueza. Ou pensam os nossos comunas que as quase mil acções judiciais que correm em Portugal e no estrangeiro contra o Novo Banco (herdeiro dos activos do BES) cairiam se o banco passasse para as mãos do Estado? Os bancos hoje estão maioritariamente falidos, têm pessoal e encargos administrativos a mais e constituem um encargo que o Estado bem pode (e deve evitar). A questão é politca e resume-se ao velho aforismo de sempre: menos Estado, melhor Estado. Ou queremos tentar aquilo que os soviéticos e os seus satélites europeus, os cubanos ou os venezuelanos, os argentinos e os brasileiros tentaram e não conseguiram? Ficar com tudo, distribuir por alguns os eventuais lucros e deixar o Zé povinho na mais triste miséria material e de espirito? Não creio.
          Portugal tem que evoluir. Não é regredindo para situações anteriores que não produziram resultados favoráveis para a maioria das pessoas (apenas serviram os que nelas estavam envolvidos) que devemos caminhar. Veja-se o caso da TAP. Há muito tempo que a TAP deveria ter sido privatizada como foram todas as companhias que antes se chamavam de bandeira (com a liberalização do espaço aéreo deixou de fazer sentido a existencia das companhias de bandeira). Em Portugal não é possivel fazer privatizações deste tipo pacificamente, enquanto não forem alteradas as condições socio-laborais em vigor. E isso só pode ser feito com uma revisão constitucional. Esperemos que o novo Presidente da Republica, distinto constitucionalista e co-autor desta trampa que nos rege, caia em si, faça uma contricção e se esforce em convencer os 2/3 dos deputados necessários para alterarem essa lei que, em vez de nos conduzir para o futuro, nos aponta para o passado de cujas consequencias funestas estamos hoje a sofrer.

                        ALBINO  ZEFERINO                                                 21/2/2016

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