quarta-feira, 27 de abril de 2011

O QUE ESTÃO CÁ A FAZER AFINAL OS HOMENS DO FMI E COMPANHIA ?

Desde há quinze dias que cá temos uns tipos estrangeiros vasculhando nas nossas contas e até agora tudo parece estar na mesma. Falam com o governo, com os bancos, com as empresas, com os sindicatos e com os partidos, mas a malta continua tranquila, a fingir que trabalha, a tirar férias e a ir ao cinema, a passear e a ir às compras. O governo e os bancos continuam a conseguir todas as semanas o dinheiro emprestado necessário para nos pagarem os ordenados e as reformas, mais os subsidios e a saúde e as escolas grátis (talvez se paguem mais uns jurozitos do que antes, mas isso não se nota agora, pois fica para resolver mais tarde). Vêem-se de facto mais alguns pedintes nas ruas, menos carros nas autoestradas, um pouco mais de insegurança, mas nada de grave. Isto da crise é coisa de políticos que precisam de distracções para se fazerem notar. O Porto, o Benfica e o Braga até vâo disputar as meias-finais da campeonato da Europa. Pela primeira vez temos tres equipas nas meias- finais.  Somos grandes e o resto é paisagem. O Sócrates afinal, mesmo aldrabando a malta, lá vai conseguindo aguentar os cavalos. Para quê então as eleições?
          Os mais agitados parecem ser a intersindical e os comunistas que já anunciaram que não contem com eles para as reformas de que os jornais (sempre tão sensacionalistas) vêem anunciando como sendo indispensáveis para nos continuarem a emprestar o dinheiro de que precisamos para viver. Como se sem o acordo dessa malta as reformas não se pudessem fazer! O que eles não explicam é que se as reformas necessárias para um desenvolvimento económico sustentado de Portugal não forem feitas, deixaremos de conseguir os empréstimos  para sobreviver. É o mesmo do que seria um barco a meter água e alguns dos passageiros continuarem no bar a beber copos em vez de irem para o porão ajudar a tapar os rombos que deixam entrar a água, que se não forem tapados a tempo farão com que o barco se afunde. O género do que se passou com o Titanic.
          O que os homens do FMI estão fazendo é a detectar onde estão as nossas maiores fragilidades (já se sabe que são nos sectores da saúde, da educação, dos apoios sociais e da administração publica) para proporem as reformas necessárias para que nos continuem a emprestar dinheiro sem o qual nos afundaremos como o Titanic. As eleições vão servir para que escolhamos por nós próprios qual será o melhor governo para fazer essas reformas indispensáveis. Será o de Sócrates que já deu provas bastantes da sua incompetencia e pusilaminidade na desastrada condução dos negócios públicos durante os ultimos 6 anos? Ou será antes um novo governo conduzido pelo PSD descomprometido com as politicas erradas que nos conduziram à situação desgraçada em que estamos? Por mim não tenho duvidas. Tenho duvidas é que muitos portugueses compreendam a importancia das eleições que se aproximam e da oportunidade que se lhes oferece para salvarem Portugal duma grande desgraça. 
 
                                            ALBINO  ZEFERINO   26/4/2011          

domingo, 17 de abril de 2011

O REI LEÃO

   Foi ao som da magnífica banda tocada pela West End orchestra and singers do estupendo espectáculo musical da Broadway "The Lion King" que resolvi meditar sobre a organização social deste grupo de animais cuja magestade tanto impressiona o ser humano. Os leões vivem normalmente em pequenos grupos ou manadas constituidos por machos e fêmeas de todas as idades. Embora não seja tão óbvio como nas manadas de outras espécies (p.ex. nos elefantes) o sentido da hierarquia está sempre presente no relacionamento entre os animais da mesma manada. Há sempre um chefe (macho) que decide para onde a manada se deve dirigir, quando deve descansar e quando começa a caça (exclusivamente exercida pelas fêmeas). A caça  inicia-se sempre ao pôr do sol (quando faz menos calor) e dura o tempo necessário para perseguir e matar as presas indispensáveis para dar diariamente de comer à manada. Normalmente é apenas uma fêmea de cada vez a caçar (por vezes duas quando a presa é mais dificil de caçar) e uma vez reduzida a presa, os outros membros da manada aparecem para o banquete. Dado que os leões são animais ferozes é sempre impressionante vê-los disputar entre si a presa caçada, tentando cada um deles ficar para si com o maior bocado e lançando fortes rugidos uns aos outros mas nunca se enfrentando. Mesmo o chefe (o rei leão) é contestado pelos outros leões com rugidos mas, dada a sua imponencia, consegue sempre impor-se e retirar para si o melhor bocado. Acabado o festim, os leões afastam-se uns dos outros e com as fauces ensanguentadas retiram-se calmamente para os seus covis. 
          O rei leão é normalmente o mais corpulento da manada, mas tambem o mais hábil e o de maior capacidade de liderança de entre os machos. A escolha do chefe da manada resulta de um combate violento e normalmente de desfecho fatal para o perdedor entre o presente chefe e o candidato a chefe. Se o chefe ganha a luta, o seu prestigio aumenta e desmoraliza por uns tempos quaisquer outras tentativas dos outros machos para o derrubarem. Se perde, deixa o seu lugar de chefe ao leão vitorioso que se torna o novo rei leão e abandona a manada vexado para ir morrer só (normalmente mais tarde) das feridas infligidas. Estas lutas são normalmente sem testemunhas (na altura em que os outros leões e leoas descansam) para que o vexame do vencido não seja presenciado pelos seus pares.
          No periodo do cio é o rei leão o primeiro a escolher a sua parceira sexual tendo os outros leões que procurar satisfazer os seus instintos às escondidas do chefe que se acha dono e senhor das leoas que circulam ansiosas à sua volta procurando atrair as atenções do rei leão. Depois de escolhida a feliz eleita, nem assim a tarefa do leão fica facilitada. As leoas são naturalmente púdicas e não gostam de ser cobertas em publico. A eleita afasta-se do circulo e rosnando dirige-se para local recatado por ela escolhido para se deixar cobrir. O rei leão segue-a (nem sempre logo a seguir, como que querendo castigá-la pela sua altivez) e mesmo quando, já no seu recato se prepara para a montar, a leoa reage rosnando e tenta morder o macho ao mesmo tempo que se agacha e oferece o ventre à penetração violenta dele. O acto sexual é rápido, brutal e sem preliminares, como se de uma obrigação se tratasse, mas discreto e digno, como convém ao rei da selva.
         
                                    ALBINO ZEFERINO   algures em África   17/4/2011

PORTUGAL E O FUTURO

Com a crescente generalização da convicção de que o presente estado de coisas em Portugal radica na incompetência governativa dos socialistas nos ultimos 15 anos, os nossos credores parece terem começado a perceber de que não será impondo prazos e condições impossiveis de satisfazer na presente conjuntura pré-eleitoral que recuperam mais facilmente o dinheiro que nos emprestaram. Estou convencido de que alemães, franceses e outros (espanhois tambem) já se resignaram a esperar pelos resultados das próximas eleições do próximo mês de junho para que se consiga formar no Portugal politicamente responsável uma plataforma de entendimento suficientemente ampla que permita que se iniciem as indispensáveis reformas estruturais de que o país precisa para a sua regeneração. Antes disso será impossivel. Seria como se num jogo de poker fosse pedido aos jogadores que mostrassem a sua mão aos adversários antes de fazerem a sua aposta. 
         Claro que esta cedência não foi feita sem contrapartidas. Os valores até há bem pouco tempo impensáveis a que chegaram as taxas de juro das ultimas emissões de dívida publica portuguesa são boa prova do que digo. Mas para quem tanto deve, acrescentar mais 10 por cento ao montante da dívida a troco da abertura de uma luz (embora ténue) ao fundo do escuro tunel em que Portugal está metido, pareceu aos nossos credores compensatório a medio prazo. Só nos resta agora esperar que o resultado das eleições permita que se obtenha uma maioria ampla de deputados esclarecidos e desempoeirados (uma nova e mais moderna vaga de politicos) que suporte um governo forte e decidido a reformar definitivamente as caducas estruturas e mentalidades herdadas da gloriosa revolução dos cravos (não é por acaso que pela primeira vez este ano não vai haver festejos oficiais no dia 25 de abril).
          A recuperação portuguesa vai processar-se  (e portanto ser influenciada) na mesma altura em que a Europa está a redefinir a direcção que vai tomar no futuro. Tudo indica (a partir do tratado de Lisboa) que o famoso federalismo de Mário Soares e Companhia tem os dias contados (reconheçam os europeistas que seria contudo a solução desejável) para dar lugar a uma Europa conduzida por um directório no qual Alemanha e França disputam a primazia (como tem acontecido na história da Europa recente, a Alemanha tem sempre tomado a dianteira). Será neste contexto que a recuperação portuguesa terá, a meu ver, que se processar. Dito de outro modo, ou tomamos juizo de vez ou seremos tratados abaixo de cão pelos alemães (para gáudio dos nuestros hermanos que naturalmente se aproveitarão da sua próximidade germânica para tomarem definitivamente conta das poucas coisas boas que nos restam). A permanencia de Portugal no euro não será posta em causa (não pelos nossos méritos mas por causa da sobrevivencia do próprio euro) mas será garantida à custa da imposição de regras de conduta (eu diria de civilidade) que nos obrigarão a viver pior (ou seja dentro dos nossos remediados orçamentos) sem excepções, subsidios, originalidades, megalómanias, irresponsabilizações e mania das grandezas. Não será por nossa causa (nem dos gregos ou dos irlandeses) que o projecto alemão do euro cairá por terra, nem que tenham que nos varrer para fora da Europa como alguns portugueses vaticinam (e alguns até parecem desejar).
 
                                             ALBINO ZEFERINO   17/4/2011  

quinta-feira, 14 de abril de 2011

OS MANHOSOS DOS PORTUGUESES

          Os portugueses são em geral manhosos.  Não apenas numa prespectiva de rascas ou vulgares (como os ingleses dizem), pequenos no pensar e na acção (do latim parvus), despreziveis, mesquinhos e invejosos, mas sobretudo do ponto de vista intelectual. A manha (caracteristica de quem consegue de modo dissimulado enganar outrem ou levá-lo astuciosamente a fazer alguma coisa em seu proveito) é sinónomo de astucia ou malicia e é uma caracteristica humana muito própria de povos ancestrais que formaram a sua identidade ao longo de séculos de história comum. Ora Portugal, nascido há oito séculos e forjado à custa de muitas lutas, sacrificios e manhas, é um bom exemplo disso. Tal como a Grécia ou a Irlanda, irmãs no infortunio, Portugal nasceu pobre, periférico, desprezado e insignificante. Só à custa de manhas tem conseguido sobreviver, tendo passado por momentos dificeis que teriam feito outros nas mesmas condições soçobrar. Porém, graças à manha temos conseguido ultrapassar momentos dificeis e por vezes até críticos da nossa história secular de país independente. Foi com manha que Afonso Henriques enganou seu avô, o rei de Leão, ao conseguir o beneplácito papal à independencia de Portugal e foi tambem com manha que conquistou Lisboa aos mouros (veja-se o episódio de Martim Moniz). A manha não esteve ausente em Aljubarrota quando o Condestável conseguiu desbaratar o exécito castelhano (dez vezes superior ao nosso) que vinha tomar posse do reino de Portugal que cabia por herança legítima ao rei de Espanha.  E a consagração do Mestre de Aviz na sua luta pelo poder tambem não foi isenta de intrigas orquestradas pelo manhoso João das Regras.  Foi ainda com manha que Gama conquistou a India e Cabral o Brasil, ao ocultarem aos pobres indígenas as suas verdadeiras intenções. Foi com grande manha que os espanhois foram expulsos de Portugal em 1640 (o episódio do defenestramento do Miguel de Vasconcelos foi o desfecho brutal de uma manhosa urdidura da burguesia lisboeta contra o despotismo da Mântua). O consulado de Pombal não foi mais do que um conjunto de manhas que enganaram os pobres dos portugueses, tentando transformar Portugal num país moderno e civilizado.  Foi ainda com muita manha que os portugueses evitaram a conquista de Portugal pelos exercitos de Napoleão.  Foi com manha que se pretendeu impôr aos ingleses o mapa cor de rosa e foi tambem usando processos manhosos que os republicanos implantaram a Republica em Portugal. Já mais recentemente foi com manha que a ditadura militar foi imposta em 1926 e não foi sem uma grande dose de manha que Salazar se conseguiu conservar no poder durante 48 anos. E à revolução do 25 de Abril de 1974 e ao seu seguimento não faltou tambem grande dose de manha.  Como se vê, a manha esteve sempre presente nos grandes momentos nacionais. 
          A manha agora manifesta-se de forma diferente. Inserido num espaço mais vasto do que aquele por onde começou, tem sido através de processos mais ou menos manhosos que Portugal tem prosseguido na sua dificil e espinhosa missão de se integrar na Europa. A utilização manhosa (em proveito só de alguns) dos fundos comunitários, a entrada subrepticia (eu diria manhosa) no restrito clube dos países do euro e a sua dificil manutenção dentro dele (através de sucessivas manhas, como a desorçamentação de certas despesas publicas e as parcerias publico-privadas em beneficio de alguns à custa de todos) são alguns exemplos das manhas em que se tem baseado a governação de Portugal nos ultimos anos. Até que chegou a crise internacional que tocou a todos e que, em Portugal, destapou o caldeirão das manhas, deixando a descoberto todas as manhas que têem caracterizado o processo da integração portuguesa na União europeia.
          Agora que os estrangeiros cá estão para vasculhar as nossas contas e denunciar as manhas como elas têem sido contabilizadas, já não será possivel ao rei dos manhosos continuar a enganar os seus compatriotas e os credores que lhe proporcionavam os meios financeiros para executar as suas manhas. A natural exigencia da parte dos nossos credores de um apoio nacional maioritário para fazer executar as duras medidas económicas e sociais necessárias para endireitar o país que caiu desamparado empurrado pelas manhas de Sócrates, vai exigir um consenso, se não nacional (duvido que comunistas e bloquistas se associem), pelo menos amplamente maioritário dos partidos representados na Assembleia. Só que em plena pré-campanha eleitoral será muito dificil encontrar esse apoio. Receio que antes das eleições (cujos prazos procedimentais espantosamente não foram encurtados) não seja possivel conseguir consensos. Não se sabendo qual o partido que irá conduzir os destinos do país no futuro, ninguem se quer comprometer com decisões que necessariamente se reflectirão negativamente no voto popular. Continuamos assim num impasse enquanto se anuncia que só haverá dinheiro nos cofres publicos até para o mes que vem. Não sei como reagirão os credores perante tanta inconsciencia. Talvez Sócrates se lembre de alguma manha que permita que nos avancem algum dinheiro por conta. Entretanto Cavaco vai reflectindo.
 
                                                           ALBINO  ZEFERNO    13/4/2011

segunda-feira, 11 de abril de 2011

O RESCALDO DO 25 DE ABRIL

  Enquanto nos entretemos nas querelas intestinas desta fase intermedia entre o fim de uma época e o principio de outra, o nosso futuro vai-se definindo lá fora paciente e inexoravelmente como o tempo das nossas vidas. Preocupados como de costume com o acessório e deixando o essencial para decisão de outros, o grande problema lusitano parece ser o de saber quem vai ficar com o ónus das duras negociações que os nossos credores nos querem impôr. O governo socialista, escudando-se na interinidade, vai dizendo aos atarantados dos portugas que não tem competencia para tal tarefa que necessariamente irá beliscar eleitoralmente quem do lado de cá apareça como tendo cedido às chantagens dos credores, atirando a responsabilidade para cima do timorato presidente (como se agora o pobre homem tivesse que arcar com as consequencias dos disparates que os sócretinos fizeram nos últimos anos) que, em vez e dar um valente murro na mesa, se refugia em etérias conferencias presidenciais numa vilória hungara de nome impronunciavel. 
         O essencial seria que o presidente conseguisse a dificil empreitada de juntar uma maioria de partidos que apoiasse o governo interino nas negociações com os homens do fraque vindos do norte. A dificuldade não está no conteúdo das negociações cujos pressupostos já nos foram apresentados previamente (e que portanto não deixam margem para quaisquer negociações substanciais) mas sim no amplo compromisso que temos que mostrar para que nos comecem a mandar o dinheiro que nos vai fazer sair deste buraco (será que irá?). Em vez de lá das estepes hungaras o presidente desta pobre republica venha pesporrentemente aconselhar mais imaginação aos mensageiros desta desgraça anunciada, deveria era tocar a rebate para unir as suas tropas como qualquer comandante que se preza faria no inicio de uma batalha decisiva para os destinos do país que foi encarregado de defender.
         O que os nossos líderes parecem esquecer (mais preocupados na recolha de votos do que na defesa dos interesses do país) é que o que os nossos credores querem no essencial é ressarcirem-se dos milhões que para cá mandaram para que nos reformassemos e que nós em vez disso gastamos alegremente em auto-estradas e jipes, através da apropriação das empresas publicas publicas que irão ser privatizadas à pressa. Aqui é que haverá matéria para discussão a troco de mais dinheiro que nos mandarão e dos sacrificios que as correspondentes medidas de saneamento económico nos vão infligir.
         Os únicos que deram por isto e que já começaram a espernear foram os comunistas que iniciaram uma aproximação tactica aos bloquistas e começaram a acenar aos socialistas para a constituição de uma frente de esquerda que fizesse frente a este avanço do capitalismo internacional sobre a indefesa e empobrecida Lusitania.  Esquecem--se é que já vão tarde e que os dados já estão lançados. O que os espanhois perderam em 1640 vai cair-lhes nas mãos em 2011 sem sequer necessidade de invasão militar. Afinal de contas são eles os nossos maiores credores, não são?
 
                                                    ALBINO  ZEFERINO       10/4/2011

quinta-feira, 7 de abril de 2011

ACABOU O BAILE

  Finalmente o primeiro-ministro rendeu-se à evidência. Portugal está falido. Já não conseguimos honrar os nossos compromissos nem cumprir as nossas obrigações. Há meses que esta situação era previsivel mas Sócrates teimosamente continuava a meter a cabeça na areia esperando que a tormenta passasse sem nada fazer para evitar esta situação. É espantoso como um primeiro-ministro, cuja função é prioritariamente prever, erra infantilmente de cada vez que é preciso agir. Se vivessemos em ditadura como aconteceu até há 30 anos (e durante 50) poderiamos dizer que Sócrates nos tinha sido imposto e que não eramos culpados dos seus disparates e da sua incompetência. Mas em democracia não. Se Sócrates dirige os destinos deste pobre país há mais de 6 anos foi porque os portugueses o escolheram (e por duas vezes seguidas!). Não nos queixemos então das consequencias das nossas erradas escolhas. Viver é escolher o caminho que trilhamos. Se nos deixamos levar nas cantigas sócretinas teremos agora que arcar com as culpas. Não procuremos mais culpados. Os culpados são os tontos que votaram no PS de Sócrates. A esses e só a esses devem ser pedidas explicações.
          Não vale a pena Sócrates alegar a crise internacional para justificar os seus clamorosos erros. A crise tocou a todos e uns reagiram melhor e outros pior. Nós fomos dos países que pior reagiu. Em primeiro lugar negando que a crise nos tivesse afectado da mesma forma que afectara os outros. Depois fingindo que as nossas crescentes dificuldades em conter as consequencias brutais desta crise radicavam na própria crise e não na forma errada de reagir a ela. E finalmente, recusando aceitar a evidência dos seus erros e incapacidade de reagir convenientemente à crise. Por outras palavras, eu diria que se tivessemos pedido ajuda há uns meses atrás (tal como outros países o fizeram e os nossos credores nos sugeriam) teriamos podido negociar essa ajuda. Agora já não. Com a cabeça em terra como estamos há que aceitar a rendição sem condições. Não nos admiremos pois se nos impuserem condições draconianas para nos emprestarem o dinheiro necessário para comermos todos os dias a partir de agora.
          Portugal vai mudar após mais de 35 anos passados desde a última revolução social. A um país apertado (Soares dizia à francesa "bailloné") sucedeu um país solto, festivo, inconsciente e quiçá um pouco anárquico. Com a CEE voltaram as regras, agora mais civilizadas, obedecendo à lei e à ética política e nós julgamo-nos livres de todos os males. Começamos a viver à custa de outros, lá longe na Europa (que iamos criticando de cada vez que nos puxavam as orelhas, enquanto recebiamos toneladas de dinheiro que gastavamos alegremente sem critério nem contenção). Até que surgiu a crise, qual monstro peçonhento, que tudo leva pela frente: empregos, subsidios, direitos adquiridos, aforros, pensões, créditos, negócios e esperanças. O que nos resta então? Um país em recessão prolongada com um caminho duro pela frente, submetido a ditames comportamentais que nos vão ser impostos por outros (à sombra duma coisa mal conhecida chamada União europeia) e aos quais vai ser dificil reagir sob pena de sermos proscritos do clube dos ricos (malgré tout).  Habituemo-nos á nova vida que lá vem e saibamos tirar as lições dos nossos erros. A nova geração (a dos rascas à rasca) vai sofrer pelos erros da anterior, tal como essa sofreu pelos erros dos seus pais. A natureza humana é assim. Já Sinatra cantava "that´s life".
 
                                                               ALBINO  ZEFERINO       7/4/2011

segunda-feira, 4 de abril de 2011

OS RISCOS QUE CORREMOS SE NÃO TIVERMOS JUIZO

  Para bom entendedor meia palavra basta. Será que todos os portugueses eleitores serão bons entendedores? Espero que sim, pois de outro modo estas eleições que lá vêem poderão deixar-nos enrascados. De acordo com todas as sondagens, nenhum dos grandes partidos obterá maioria absoluta por si só. Sendo assim, os politcos vão ter que negociar coligações para conseguir formar um governo sólido que se sinta legitimado para pedir a ajuda financeira indispensável para vivermos. Ora no estado depauperado em que nos encontramos e no ambiente de crispação e de lança-culpas que se criou vai ser muito dificil formar um tal governo. Aqui entrará, debaixo de grande expectativa, o grande Elias presidente para salvar a nação das diatribes dos seus concidadãos que, pobres de espírito e incorrigivelmente incautos, não foram capazes de gerar um governo por que todos (cá dentro e lá fora) esperávamos.
          E o que fará o grande Elias? Prudentemente já deixou entender por meias palavras, lançadas uma de cada vez (para confundir) mas suficientemente claras para quem o saiba ouvir, que não daria posse a nenhuim governo minoritário saído das próximas eleições. Cavaco não quer assim chamar a si a responsabilidade do desastre que se seguiria à entrada em funções de um novo governo minoritário. Mas disse mais. Disse tambem que o presidente não tem que governar, pois essa tarefa compete constitucionalmente ao governo. Desta maneira descartou qualquer hipótese que eventualmente pairasse no espírito de alguns de se tornar num super primeiro-ministro que orientasse o novo governo nas suas grandes opções governativas. Não querendo dar posse a um eventual governo minoritário nem se responsabilizando por governos não sólidamente maioritários, Cavaco está a abrir uma grande porta para que Sócrates (desde que se aguente nas eleições) continue como chefe de um governo de gestão forçando-o a pedir a ajuda externa que recusa e humilhando-o definitivamente através de vetos sucessivos.
         Se assim fôr não nos queixemos de desgraças. Nos conturbados tempos que correm, quem continua a viver despreocupado sempre à espera que alguém resolva os problemas da sua vidinha, não se poderá depois queixar de que não teve oportunidade para ajudar a criar as condições de sairmos desta alhada em que os sócretinos nos meteram. Os credores parece que esperam até Junho. Depois já não.
 
                                                             ALBINO ZEFERINO        3/4/2011

OS DOIS IRMÃOS

   Através do Wikileaks ficou a saber-se a verdadeira razão da fraterna amizade que une Khadafi a Socrates. Um e outro foram atingidos pela mesma doença que vulgarmente é conhecida por patrioteirismo. Consideram-se ambos predestinados a defenderem até à morte as respectivas pátrias dos ataques soezes que os respectivos inimigos (normalmente compatriotas seus) lhes fazem. Depois de definitivamente comprovadas (julgam os incautos) as mentiras e os logros em que as suas acções se basearam, ambos persistem em continuar a defendê-las com a mesma tenacidade doentia, com energia redobrada e acutilancia renascida. Pobres daqueles ingénuos que, perante tão óbvias provas de incompetência governativa, julgaram que tanto Khadafi como Sócrates tinham os dias contados como líderes políticos dos respectivos países. Santa ignorancia.!  Uma insuspeitada vontade de persistir no erro apossou-se daquelas mentes brilhantes e, tal como Fénixes renascidas, ambos se lançam corajosamente numa patética defesa dos seus princípios, usando todos os meios ao seu alcance para convencer os seus incautos compatriotas da razão que lhes assiste. Khadafi os seus aviões e os seus tanques, Socrates o seu discurso e a sua pouca-vergonha.
          Perante tais desaforos, a assustada comunidade internacional lança sobre um e outro contra-ataques ferozes. Sobre Khadafi a resolução 1973 do Conselho de Segurança das Nações Unidas e os aviões da NATO, sobre Socrates a ameaça do FMI e o downgrading das agencias de rating. Um e outro resistem tenazmente a tais afrontas recusando abandonar o poder e, aproveitando-se da confusão gerada por tais inesperadas reacções, lançam contra-ataques ferozes sobre as respectivas populações. Khadafi procurando dizimá-las, Socrates (desejando tambem isso, mas não podendo) sarrazinando os espíritos e os ouvidos dos assustados portugueses.
          Esperemos que o impasse a que a situação na Líbia e em Portugal chegaram, graças aos inesperados contra-ataques desencadeados pelos seus ainda lideres não desemboquem em negociações e compromissos espúrios muito próprios dos lideres fracos que governam o mundo, fazendo lembrar Chamberlain e Laval quando em 1939 propuseram negociações a Hitler, convencidos de que assim evitariam a tragédia mundial que depois se verificou. 
 
                                              ALBINO  ZEFERINO   3/4/2011      

sábado, 2 de abril de 2011

COMO SAIR DESTA ALHADA ?

Para que Portugal saia deste molho de bróculos onde nos meteram haverá que estabelecer em primeiro lugar uma estratégia e depois criar as condições para a pôr em prática. Qualquer destes exercícios está já identificado, bastando apenas vontade política para o fazer. A identificação da estratégia é a que resulta dos PEC´s, ou seja, estabilizar o país e fazê-lo crescer. Para estabilizar o país há que previamente reconhecer que ele está desestabilizado. Isto faz-se através de um escrutínio sério, global e descomprometido das situações de bloqueio existentes na sociedade portuguesa, sector por sector e nalguns casos até caso a caso. Para isto há que encontrar um grupo de gente competente e séria, descomprometida de esquemas políticos e com vontade de se dedicar à causa pública sem procurar compensações.
          Depois de identificados os sectores sobre os quais agir, há que estabelecer prioridades de acção e definir a profundidade desta para cada caso (há doenças para as quais basta uma aspirina e outras que necessitam de ablação de órgãos ou parte deles para evitar a morte do doente). Seguidamente há que criar as condições no país para pôr em prática a estratégia definida resultante da identificação séria, competente e descomprometida dos sectores sobre os quais actuar e a forma e o timing para o fazer. Chegados a este ponto teremos que remover os obstáculos que necessáriamente se vão levantando à boa execução deste exercício. Esta tarefa será tanto mais complexa quanto à forma como se optar por efectuá-la: a bem, ou seja através de negociações e compromissos (de resultados aleatórios e normalmente parciais) ou à força, ou seja, de cima para baixo sem contemplações por aqueles a quem a estratégia regeneradora se vai aplicar.
          Uma vez estabilizado o país haverá que fazê-lo crescer. Para isso necessitaremos em primeiro lugar que diminuir os encargos decorrentes da enorme dívida que contraímos, o que normalmente se faz renegociando a mesma (isto é, alargando os prazos dos respectivos vencimentos e reescalonando as suas condições de reembolso). Seguidamente teremos que solicitar ajuda financeira (em condições mais vantajosas do que as do mercado) para apoiar os sectores da economia mais saudáveis e rentáveis para crescermos mais depressa do que os outros países. Aqui surgirão, tal como na definição das estratégias, os naturais obstáculos a este exercício resultantes, quer de conflitos de interesses entre sectores económicos, quer resultantes de pressões ilegítimas sobre os decisores. Haverá pois que encontrar quem se disponha a desempenhar honestamente e com competencia esta tarefa sem procurar compensações de qualquer ordem, nem receio de sofrer represálias.
          Era certamente este cenário que a Dr.ª Manuela Ferreira Leite tinha em mente quando um dia sugeriu que se interrompesse a democracia por um tempo para pôr a casa em ordem. Receio que a Sr.ª tenha razão, pois não creio que nas condições presentes, com os actores disponíveis e com a ausencia de critérios e de vontade política demonstradas, consigamos chegar a algum lado, com ou sem eleições legislativas, com ou sem coligações governativas e sem uma alteração constitucional que legitime as medidas de excepção necessárias para que Portugal saia deste enorme molho de bróculos onde está metido.
 
                                                        ALBINO ZEFERINO   2/4/2011