Claro que esta cedência não foi feita sem contrapartidas. Os valores até há bem pouco tempo impensáveis a que chegaram as taxas de juro das ultimas emissões de dívida publica portuguesa são boa prova do que digo. Mas para quem tanto deve, acrescentar mais 10 por cento ao montante da dívida a troco da abertura de uma luz (embora ténue) ao fundo do escuro tunel em que Portugal está metido, pareceu aos nossos credores compensatório a medio prazo. Só nos resta agora esperar que o resultado das eleições permita que se obtenha uma maioria ampla de deputados esclarecidos e desempoeirados (uma nova e mais moderna vaga de politicos) que suporte um governo forte e decidido a reformar definitivamente as caducas estruturas e mentalidades herdadas da gloriosa revolução dos cravos (não é por acaso que pela primeira vez este ano não vai haver festejos oficiais no dia 25 de abril).
A recuperação portuguesa vai processar-se (e portanto ser influenciada) na mesma altura em que a Europa está a redefinir a direcção que vai tomar no futuro. Tudo indica (a partir do tratado de Lisboa) que o famoso federalismo de Mário Soares e Companhia tem os dias contados (reconheçam os europeistas que seria contudo a solução desejável) para dar lugar a uma Europa conduzida por um directório no qual Alemanha e França disputam a primazia (como tem acontecido na história da Europa recente, a Alemanha tem sempre tomado a dianteira). Será neste contexto que a recuperação portuguesa terá, a meu ver, que se processar. Dito de outro modo, ou tomamos juizo de vez ou seremos tratados abaixo de cão pelos alemães (para gáudio dos nuestros hermanos que naturalmente se aproveitarão da sua próximidade germânica para tomarem definitivamente conta das poucas coisas boas que nos restam). A permanencia de Portugal no euro não será posta em causa (não pelos nossos méritos mas por causa da sobrevivencia do próprio euro) mas será garantida à custa da imposição de regras de conduta (eu diria de civilidade) que nos obrigarão a viver pior (ou seja dentro dos nossos remediados orçamentos) sem excepções, subsidios, originalidades, megalómanias, irresponsabilizações e mania das grandezas. Não será por nossa causa (nem dos gregos ou dos irlandeses) que o projecto alemão do euro cairá por terra, nem que tenham que nos varrer para fora da Europa como alguns portugueses vaticinam (e alguns até parecem desejar).
ALBINO ZEFERINO 17/4/2011
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