Depois de identificados os sectores sobre os quais agir, há que estabelecer prioridades de acção e definir a profundidade desta para cada caso (há doenças para as quais basta uma aspirina e outras que necessitam de ablação de órgãos ou parte deles para evitar a morte do doente). Seguidamente há que criar as condições no país para pôr em prática a estratégia definida resultante da identificação séria, competente e descomprometida dos sectores sobre os quais actuar e a forma e o timing para o fazer. Chegados a este ponto teremos que remover os obstáculos que necessáriamente se vão levantando à boa execução deste exercício. Esta tarefa será tanto mais complexa quanto à forma como se optar por efectuá-la: a bem, ou seja através de negociações e compromissos (de resultados aleatórios e normalmente parciais) ou à força, ou seja, de cima para baixo sem contemplações por aqueles a quem a estratégia regeneradora se vai aplicar.
Uma vez estabilizado o país haverá que fazê-lo crescer. Para isso necessitaremos em primeiro lugar que diminuir os encargos decorrentes da enorme dívida que contraímos, o que normalmente se faz renegociando a mesma (isto é, alargando os prazos dos respectivos vencimentos e reescalonando as suas condições de reembolso). Seguidamente teremos que solicitar ajuda financeira (em condições mais vantajosas do que as do mercado) para apoiar os sectores da economia mais saudáveis e rentáveis para crescermos mais depressa do que os outros países. Aqui surgirão, tal como na definição das estratégias, os naturais obstáculos a este exercício resultantes, quer de conflitos de interesses entre sectores económicos, quer resultantes de pressões ilegítimas sobre os decisores. Haverá pois que encontrar quem se disponha a desempenhar honestamente e com competencia esta tarefa sem procurar compensações de qualquer ordem, nem receio de sofrer represálias.
Era certamente este cenário que a Dr.ª Manuela Ferreira Leite tinha em mente quando um dia sugeriu que se interrompesse a democracia por um tempo para pôr a casa em ordem. Receio que a Sr.ª tenha razão, pois não creio que nas condições presentes, com os actores disponíveis e com a ausencia de critérios e de vontade política demonstradas, consigamos chegar a algum lado, com ou sem eleições legislativas, com ou sem coligações governativas e sem uma alteração constitucional que legitime as medidas de excepção necessárias para que Portugal saia deste enorme molho de bróculos onde está metido.
ALBINO ZEFERINO 2/4/2011
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