segunda-feira, 29 de agosto de 2011

A COLONIZAÇÃO ANGOLANA DE PORTUGAL

Quando os russos, depois os americanos e hoje os europeus perguntam aos angolanos como foi possivel um país que disputa com a Nigéria e com a África do Sul a primazia em África ter estado dominado por um bando de madraços, perdulários e aldrabões durante tantos anos, sobretudo depois de 1961 quando os americanos de Kennedy e os russos comunistas começaram a ajudar os angolanos a correrem com os portugas do seu território, não encontram resposta convincente. Ora essa dificuldade, aliada ao vexame que tal pergunta encerra, define a atitude dos angolanos para com os portugueses desde a sua dificil independência.
             Desde os sanguinários ataques terroristas de março de 1961 à pobre população portuguesa local indefesa, que o relacionamento entre angolanos e portugueses tem sido pautado por um mixto de desconfiança, de oportunismo e de ódio, intercalado por momentos de exaltação patriótica de parte a parte. Os 13 anos de resistencia militar portuguesa (que ninguem acreditava fossem possiveis) acompanhados da descarada intromissão lusa na guerra civil angolana que se seguiu ao abandono portugues, foram os factores decisivos que moldaram o relacionamento polémico entre os dois povos, aparentemente irmãos nos hábitos e na cultura, mas estranhos ou mesmo adversários nos objectivos e nas posturas perante terceiros. Tanto em Portugal se definem as pessoas ainda hoje como adeptas do MPLA ou da UNITA (a maioria das quais sem perceber onde residem as diferenças) como se o assunto ainda fosse nosso, como em Angola se encontram pessoas amigas de Portugal (eu diria uma minoria) e pessoas que foram ensinadas a não gostar de nós (a maioria delas).
             Deste relacionamento dúbio resultam consequências cada vez mais complexas à medida que a importancia internacional de Angola cresce e a de Portugal diminui. Os angolanos, ainda com o complexo colonial muito vivo, vão aproveitando-se da riqueza oriunda do seu petróleo e dos seus outros recursos minerais inesgotáveis para arrogantemente atirarem à cara dos cada vez mais indigentes portugas os dólares que lhes afluem sem esforço, num exercício cruel revelador da sede de vingança que os consome.
             É nestre contexto que se compreendem os crescentes investimentos angolanos em sectores vitais para o desenvolvimento económico de Portugal. As vicissitudes da recente compra do banco BPN são o ultimo exemplo desta estratégia de ocupação. Aproveitando-se da ausencia de interessados credíveis para concretizar a venda forçada da entidade bancária amaldiçoada, os angolanos resolveram anular a enorme dívida que os anteriores administradores malfeitores lhes tinham concedido, adquirindo o banco credor praticamente de graça, sem prévio pagamento da dívida contraida. Com o dinheiro emprestado tinham já adquirido posições de destaque noutras empresas portuguesas de referencia, como a Galp e a EDP. Ou seja, as posições angolanas em empresas portuguesas têm sido conseguidas graças a empréstimos concedidos pelos bancos portugueses com sucursais em Angola, sem que as dividas tivessem sido pagas.  
             A quem pedir responsabilidades por estas situações? Aos bancos credores certamente, mas tambem aos governos anteriores que, por falta de vigilância e por solidariedades ingénuas, se deixaram levar nesta tramoia de enormes consequencias para a independencia de Portugal.
 
                                                            ALBINO ZEFERINO  28/8/2011             
 
 

POEIRA NOS OLHOS

A acreditar no enunciado das 70 medidas da troika para setembro publicadas este fim de semana no jornal Expresso que o governo se prepara para aprovar esta semana, parece que nos querem deitar poeira nos olhos. Não será desta maneira que Passos e Gaspar se safam aos olhos dos nossos credores por muitos périplos europeus que o primeiro ministro faça para os convencer de que o governo está no bom caminho.
             Não será apenas reduzindo as admissões na função publica, eliminando isenções especiais, aumentando poderes de fiscalização, publicando documentos de estratégia, desenvolvendo medidas correctivas, avaliando programas de cortes nos custos, fazendo levantamentos de pagamentos em atraso, definindo principios de reestruturação voluntária, fixando limites ao endividamento, avaliando incentivos fiscais, fundindo unidades de cobrança, avaliando o desempenho das inspecções, reduzindo deduções fiscais, publicando normas de orientação, adoptando medidas para aumentar a concorrência, apresentando planos estratégicos, calendarizando mapas de execução de medidas, publicando relatórios sobre execução de medidas já tomadas, etc. etc. que o governo vai levar a carta a Garcia.  Enquanto não forem executadas sem tergiversações e cedências as verdadeiras medidas necessárias para acabar com esta bandalheira institucionalizada que se instalou em Portugal desde que esta malta foi deixada à solta, não iremos a lado nenhum. Toda a gente sabe que os verdadeiros cortes na despesa do Estado têm que ser feitos nos custos salariais e nos subsidios. Para isso haveria que reformar o Estado em profundidade (eu diria mesmo completamente) e com determinação (eu diria mesmo com coragem). O encolhimento da organica governativa a isso sugeriria, mas o gás com que o governo iniciou funções foi-se progressivamente esbatendo até cair na modorra pesada das teias de interesses em que este governo (tal como os anteriores) foi envolvido.
              Enquanto os nossos credores andarem preocupados com a saude do euro (e consequentemente com o futuro da Europa) que, a meu ver, não terminará antes das eleições presidenciais americanas do próximo ano, o governo portugues ainda terá alguma chance de voltar aos carris da linha que nos foi fixada pela troika como rumo da nossa viagem sem escalas alternativas. Para isso é necessário que se liberte de constrangimentos, enfrentando o touro com firmeza e sem tibiezas, sacudindo a poeira que os interesses instalados lhe estão a lançar aos olhos e começando de uma vez por todas a mostrar que este é o governo reformador de que Portugal precisava para sair deste fosso em que caiu empurrado pelos crápulas e ladrões que nos governaram (eu diria desgovernaram-nos, governando-se) nas ultimas decadas. 
 
                                                                           ALBINO ZEFERINO  28/8/2011            

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

OS EUROBONDS E O FEDERALISMO EUROPEU

Desesperados por eurobonds, os portugas não cessam de invectivar a Chanceler alemã (e com ela o pobre Presidente frances) pela sua falta de solidariedade comunitária ao recusar a emissão dos eurobonds salvadores da boa vida lusitana. Não perceberam ainda que a exigencia da constitucionalização da dívida faz parte do processo para uma maior compromisso alemão (e frances) na federalização da Europa.  Sem que os países perdulários autolimitem as suas tendencias gastadoras, não haverá mais federalismo e consequentemente os desejados eurobonds.
            Para cidadãos trabalhadores, organizados, criadores de riqueza e bem estar para si e para os outros, é perfeitamente compreensivel que imponham determinados comportamentos áqueles a quem vão ajudar (assumindo parte dos riscos que a conduta desleixada destes provocou) antes de se comprometerem com essa ajuda. E a formalização de um compromisso essencial inserindo-o na Lei fundamental (como os próprios alemães fizeram com eles mesmos) não parece ser exigencia demasiada para quem já deu sobejas provas de incapacidade na contenção do deficit. 
            A onda de protestos à exigencia franco-alemã encabeçada pelo próprio Presidente (que fala quando não deve e cala quando deve) revela assim uma atitude saloia de incompreensão da globalidade da questão, revelando uma miopia incompreensivel por parte dum país que se diz civilizado e que quer ombrear com os grandes no contexto de uma Europa unida e próspera.
Sejamos menos mesquinhos e mal-agradecidos e contentemo-nos em cumprir com denodo o plano que os nossos sócios mais esclarecidos prepararam em nossa intenção, para que possamos ser olhados como merecedores de ser ajudados em pé de igualdade com eles. De outra forma vamos mesmo pelo cano abaixo directamente para o esgoto do mundo.
                                             
                                                                ALBINO ZEFERINO em 25/8/2011   

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

TERCEIRA CARTA ABERTA AO SENHOR MINISTRO DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS

  Excelência
 
 
             Verifico com lástima que V.Ex.ª não tem feito muito caso dos avisados conselhos deste pobre mas honrado conselheiro informal, apenas e só movido por extremoso amor aos diplomatas com quem conviveu grande parte da sua vida como correspondente diplomático acreditado junto do Ministério hoje felizmente nas mãos de V.Ex.ª.
             Tendo deixado escapar o AICEP (menina dos olhos do regime) para as mãos ávidas do Scargil Braga, terá agora que proceder com ele como fez com Passos na Gomes Teixeira. Não creio que o Relvas tenha coragem de impedir um homem seu na Vice-presidencia do AICEP. Sugiro um tipo hábil, com tarimba e ainda com futuro, mas sobretudo fora do circulo do Braga que é muito vasto e engloba desde comunas a fascistas. Simultâneamente transformaria a inutil DGATE no antigo Gabinete dos Assuntos Económicos, chamando-lhe agora Gabinete para o Comercio Externo (o que o associa ao AICEP) anexando-o ao DGPE. Com esta manobra via-se livre de um organismo inutil (ver minhas cartas anteriores) e fazia um bonito para a galeria da troika. O ressuscitado Gabinete para o Comercio Externo faria a ligação formal com o AICEP e o seu VIce-presidente a ligação orgânica. Para Vice do Braga teria que lá pôr um não-socialista, com experiencia de chefia de Missões importantes e que fosse ainda ministro plenipotenciário, para lhe dar estímulo. Só vejo um nome: Xavier Esteves. Ninguem se oporá a não ser ele próprio. Mas se V. Ex.ª lhe prometer a promoção para breve, creio que não hesitará.
             Para Secretário-geral, para substituir o fora de prazo Valente, oiço falar do Rã. Boa escolha. É honesto, trabalhador, inteligente e das direitas (o que é raro no MNE). E alem disso economista (percebe de contas e sabe ler um orçamento). Falta-lhe porem allure e bom senso. Mas nada que um bom SGAdjunto não possa suprir. Talvez o António Alves Machado que com ele já trabalhou. A alternativa que tambem já me chegou aos ouvidos é péssima. O Ventoinha quer é sair de Berlim sacrificando um ano de estrangeiro por quatro de activo. Não vá nisso. É um grande videirinho, não percebe nada de nada (é formado em ciencias ocultas na Junqueira) e muito permeável a cunhas, como todos os cor de rosa. É simpático, tem presença e fala bem linguas (excepto o alemão).
             Para Inspector constou-me (deve ser mentira concerteza) que V. Ex.ª se prepara para nomear o réptil mais viscoso do ninho de víboras que são as Necessidades. Alem de invertido, o sujeito é mau como as cobras, complexado, venal, ladrão, vigarista e todos os colegas têm razões de queixa dele. Fale com Santana Carlos, a Luisa Bastos, o Eurico Paes,o Rui Brito e Cunha e todos os subordinados que tiveram a desdita de trabalhar com o sujeito (sobretudo o actual 1º Secretário João de Deus). O seu Chefe de Gabinete conhece bem o personagem. Diz-se que quando passou pela Inspecção há uns anos começou a fazer um ficheiro pessoal com fotocópias de todos os processos que lhe passaram pelas mãos para chantagear os visados. Alem disso não percebe nada de Direito pois tambem fez Ciencias ocultas na Junqueira. Não creio que V. Ex.ª fique muito bem na fotografia se nomear tal energumeno para tão sensivel lugar.
             Mais haveria a dizer mas por hoje aqui me fico, deixando vagar a V.Ex.ª para digerir estas humildes sugestões deste criado que se assina, de V.Ex.ª com a maior consideração e respeito
 
            ALBINO ZEFERINO (correspondente diplomático)

É PRECISO TER LATA


             Estamos falidos e endividados porque não conseguimos produzir o suficiente para satisfazer os nossos vicios e ainda por cima temos a lata de culpar aqueles que nos sustentam com emprestimos de serem os causadores das nossas desgraças. É preciso mesmo ter muita lata. Agora fala-se nos eurobonds como sendo a solução milagrosa para resolver a nossa desesperada situação, como se fosse obrigação dos credores assumirem as dividas dos seus devedores maus pagadores.
             Já passamos pela vergonha de nos terem imposto umas regras incumpriveis nas actuais circunstancias para continuarem a ajudar-nos. A prosseguirmos nesta negação da realidade fingindo que nada de grave aconteceu e que basta deixar a onda passar para que tudo volte ao normal como dantes sem que interiorizemos a necessidade de mudarmos de vida e de mentalidades para que não sossobremos, vamos mesmo desaparecer do mapa. E não se pense (como já tenho ouvido) que tanto faz continuarmos portugueses ou europeus ou seja lá o que formos, porque o que interessa é o pão para a boca independentemente donde venha e em que condições. Estamos a esquecer-nos que as relações entre Estados são antes de mais relações entre pessoas. Bastará assim reflectir o que acontece a uma pessoa que deve e não paga, culpando por cima o credor de não lhe desculpar a divida. O tribunal vai condenar o devedor a pagar nem que seja aos bochechos e durante o resto da sua vida. É isso que nos espera, poderemos estar certos. E não pensemos que pelo facto da Merkel um dia vir a ser substituida (como são todos) que a divida desaparece ou o seu substituto vai de repente perdoar-nos os nossos dislates. Não pensem nisso. Pelo contrário, Como não terá responsabilidades na concessão dos emprestimos que nos fez, vai ainda ser mais duro do que ela mostrando aos seus eleitores como ela deveria ter agido conosco: à bruta, à alemã. Sem contemplações.
             Concentremo-nos no cumprimento escrupuloso do memorando da troika (porque os troikanos não vieram cá brincar) com as consequencias que isso acarrete, sem tergiversações nem truques (no que somos eximios, como os alemães bem sabem) antes que eles percam a cabeça e nos ponham a pão e água como fizeram com os países que invadiram há 70 anos sem se preocuparem com a tragedia universal que causaram.
 
                                    ALBINO ZEFERINO   24/8/2011

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

O TGV E A SOBERANIA NACIONAL

   O que terá o comboio de alta velocidade a ver com a soberania de Portugal? Eu diria que a polémica criada à volta da construção da linha de alta velocidade ferroviária (vulgo TGV) entre Lisboa e Madrid não é mais do que o reflexo da controversia entre aqueles que estão dispostos a que Portugal ceda soberania em favor de um projecto comum e aqueles que entendem que as decisões relativas a Portugal devem apenas e exclusivamente obedecer aos interesses imediatos do país, decididos por nós e só por nós, sem curar dos interesses comuns de uma organização onde nos integramos e que nos sustenta há quase 40 anos. 
             A soberania é um conceito antigo de natureza filosofico-politica que resulta da independencia do país que a detem ou que a reivindica face aos seus vizinhos. Etimologicamente a palavra provem da palavra soberano que significava aquele que detinha o poder dentro das fronteiras do país onde mandava. Hoje a soberania reside na vontade popular expressa em eleições livres e democraticas e portanto, quando hoje se fala de soberania, fala-se necessariamente de vontade popular. 
             Será que para se construir o TGV em Portugal precisamos de consultar a vontade popular? Se estivessemos na Suiça, não tenho duvidas de que sim. Em Portugal, a nossa Constituição não exige que se tenha que consultar a população a toda a hora para a tomada de decisões governativas. Sobretudo quando elas já foram tomadas em resultado de compromissos internacionais tomados pelo governo após consultas e estudos tecnicos e formalizadas com toda a pompa e circunstancia. Acresce que grande parte do financiamento do projecto (que por ser transnacional) é comparticipado por verbas comunitarias. Não parece, assim, fazer muito sentido abandonarmos uma decisão tomada há varios anos, sem o acordo das outras partes. Dir-se-á que entretanto sobrevieram circunstancias imprevistas que relegaram a prioridade da realização da obra para mais tarde e que agora não temos a capacidade financeira para arrancar. Não creio que seja assim. Só em despesas correntes com serviços em vias de restruturação ou de extinção, gasta-se mais do que a parte nacional do financiamento do projecto.
             Atrever-me-ia assim a classificar a decisão de suspender a obra já iniciada, como uma medida de natureza essencialmente politica. Não interessará a alguns agentes politicos ( alguns autarcas da raia, militares, empresários comprometidos com projectos de sentido diferente, etc. etc.) a continuação de um projecto que muitos associam a moscambilhas socialistas do tempo do Sócrates e portanto hoje mediaticamente maduro para poder ser abandonado. Não creio que seja assim. A ligação à Espanha e portanto à Europa atraves da alta velocidade é alem de uma prioridade que já tem anos e uma necessidade decorrente dos nossos compromissos comunitarios, uma mais-valia em termos de captação de investimento estrangeiro. Não tenho duvidas que uma vez em circulação, o TGV proporcionará um aumento de receitas provenientes do turismo. Para grande parte dos espanhois, as praias portuguesas estão mais perto das suas casas e são melhores do que as praias espanholas. O investimento espanhol e de outras origens crescerá no Alentejo (construção de campos de golf, de hoteis e restaurantes) e cidades como Elvas e Évora serão muito beneficiadas.
             A cedência de soberania a favor da UE (seja do Conselho, da Comissão, do Parlamento ou dos outros Estados-membros) será (ou já é) uma realidade por razões ligadas à nossa desesperada situação financeira e organizativa. Não será por não se cumprir um compromisso (teimosamente erigido em gasto sumptuario) que vamos conservar uma soberania já perdida por razões estruturais, nem o cumprimento da obrigação de construirmos o TGV de Lisboa até ao Caia nos vai retirar qualquer parcela da soberania remanescente. Haja juízo e seriedade nas decisões.
 
                                                   ALBINO ZEFERINO      21/8/2011 
            

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

A MUDANÇA DAS MENTALIDADES

   Se alguma coisa a mudança de governo nos trouxe foi certamente a convicção de que sem mudança nas mentalidades não será possivel sairmos deste enorme buraco onde nos encontramos. Os conceitos de emprego definitivo (ou do quadro), de casamento para a vida ou de aforro seguro (tipo certificados de aforro) tendem a desaparecer na voragem desta crise que de financeira passou a economica e depois se transformou numa crise social. É claro que a desagregação destes principios que constituiram pilares seguros para gerações que hoje já se encontram fragilizadas pela idade não é fácil de aceitar para muita gente que construiu a sua vida e as suas mentalidades em redor destes conceitos. A vida hoje faz menos sentido sem que à simples passagem do tempo não se agregue algum risco. E a assumpção desse risco como fazendo parte da própria vida é precisamente o que caracteriza as mentalidades dos jovens de hoje. À aceitação conformada das vicissitudes que a vida trouxe às gerações mais velhas está a suceder na mentalidade dos mais jovens um certo inconformismo por uma vida mais dificil, menos segura e de futuro mais incerto. Daqui resulta o nascimento de novas mentalidades mais assentes na assumpção do risco, do desconhecido e até do próprio imprevisto, do que anteriormente.
             Tudo isto se reflecte na ideia que os jovens têm hoje da politica e dos chamados politicos. Para eles a politica não é mais do que um meio de alguns espertalhões se governarem à custa das outras pessoas. Em vez de se traduzir num serviço que alguns prestam aos outros, a politica tornou-se num mal maior que a sociedade organizada impôs aos cidadãos como fazendo parte do sistema. Por essa razão as teses assentes no principio de "menos Estado, melhor Estado" têm vindo a merecer cada vez mais acolhimento junto dos jovens. As crescentes manifestações espontâneas dos jovens nas diversas capitais europeias e os levantamentos sociais contra as ditaduras norte-africanas maioritariamente protagonizados pela juventude, são um reflexo da saturação juvenil pela imposição de regras cujo fundamento não compreendem e por isso não aceitam. A democracia como a temos vivido até agora está em crise e enquanto não se encontrar um sistema alternativo que devolva às sociedades a segurança e o bem-estar que a Humanidade exige, não deveremos dormir descansados.
 
                                ALBINO ZEFERINO   18/8/2011

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

PARA ONDE VAI O DINHEIRO QUE RECEBEMOS?

   Com surpresa fiquei a saber pelas declarações da Sr.ªMerkel transmitidas pela televisão portuguesa de que Portugal não estava usando as verbas que o FEE/FMI está mandando para cá. E mais. A dita Sr.ª acrescentou com ar abespinhado que a Comissão viria cá ajudar-nos a aplicar esse dinheiro convenientemente. A ser verdade, isto parece incrivel. Já não basta passarmos pela vergonha de virem cá uns gajos dizer-nos o que temos que fazer para nos endireitarmos. Agora dizem que nem sequer sabemos como aplicar as esmolas que nos lançam no regaço. Realmente atingimos o fundo do poço. Não nos admiremos pois de que quem por engano cá investiu as suas poupanças esteja a expatriá-las rapidamente e em força. 
          A forma cordata com que o governo aborda as várias frentes de combate que diariamente se lhe apresentam como se estivessemos a viver no melhor dos mundos não parece ser aquela que os nossos credores esperavam. Concertações sociais, negociações sindicais, compensações financeiras, complexos de direita, tiques esquerdistas e outras fantasias ideologicas herdadas de 40 anos de democracia parapopular, não são certamente a melhor forma de abordar a situação desesperada em que nos encontramos. Ou cortamos a direito (ou seja, pomos na rua aqueles que nunca deveriam estar empregados) ou os estrangeiros virão cá fazer isso por nós. E acreditem que não serão meiguinhos (lembrem-se do Gomes Freire de Andrade, morto pelos ingleses que em nós mandavam no seculo 19, por ter levantado cabelo contra eles).
         O actual governo deve deixar-se de pruridos democráticos e avançar decididamente para as reformas que nos mandaram fazer. Começando por fechar lojas improdutivas separando o trigo do joio (Administração Publica, Segurança Social, Saúde e Educação) e aplicando o dinheiro que não é nosso (não nos esqueçamos disso) em sectores produtivos, aliviando impostos e suprimindo entraves burocraticos. E sobretudo não bater naqueles de quem precisamos, senão então deitaremos tudo a perder.
 
                                                 ALBINO ZEFERINO   17/8/2011 

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

NOVA CARTA ABERTA AO SENHOR MINISTRO DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS

Excelência

Li com apreensão que o Ministério que V.Exª tutela foi o único que até agora ainda não publicou a lista das nomeações feitas desde a posse do governo, já vai para lá de um mês. Perigoso atraso, pois a falta pode sugerir a eventuais leitores destas minudências que algo menos claro se estará a passar nesta importante área da governação. É conhecida a natural cupidez dos politicos no açambarcamento de lugares no inicio dos ciclos governativos. E mais ainda no Ministério que V. Ex.ª felizmente tutela, pois que as nomeações recaem regular e naturalmente em zelosos funcionários da carreira diplomática. Permita-me assim V.Ex.ª que modestamente lhe deixe aqui algumas sugestões, valendo-me da experiência de 37 anos de atento convívio com estas coisas, pois desde a Gloriosa que assumi a nobre tarefa de correspondente diplomático acreditado junto do MNE.

As nomeações anuais de diplomatas para os postos no estrangeiro têm passado por diversas e conturbadas vicissitudes desde que foram introduzidos critérios democráticos neste complexo processo. A classificação dos postos por categorias (atendendo à sua importancia para o nosso país e aos níveis de vida em cada um deles) passando pela consideração dos curricula dos diversos candidatos (seus perfis profissionais, postos ocupados anteriormente, composição das respectivas familias, etc.) até a apreciações muito subjectivas da personalidade dos candidatos, têm sido determinantes nas nomeações efectuadas pelas personalidades que antecederam V. Ex.ª no importante cargo que hoje desempenha.

Atendendo às determinações do senhor Primeiro ministro de que por cada saída de 5 funcionários deve ser nomeado apenas um novo, atrever-me-ia a sugerir a V. Ex.ª que tomasse como base de futuras nomeações este principio. Ou seja, por cada 5 substituições a fazer, apenas uma seria efectivamente realizada, fazendo regressar a Lisboa os 4 não contemplados. Destes, os aproveitáveis ficariam a aguardar nova colocação nos anos seguintes e os outros seriam mandados para a disponibilidade.

Em articulação com este princípio, deveriam ser fixados limites de idade em todas as categorias da carreira (como já ocorre hoje com as categorias mais baixas, mas sem repercussão efectiva) de modo a que a carreira ficasse mais rejuvenescida. Quero com isto dizer que, atingindo um determinado funcionário o seu limite profissional e não sendo por isso mais promovível, seria colocado na disponibilidade logo que atingisse a idade limite para a categoria que detivesse. Nestes termos, parecia-me razoável fixar os limites de idade do seguinte modo: 65 anos para os embaixadores (como já acontece); 60 para os ministros plenipotenciários; 55 para os conselheiros de embaixada e 50 para os secretários de embaixada. Deste modo, a carreira seria progressivamente encolhida até se atingirem numeros aceitáveis nas diversas categorias, voltando o esquema de progressões na carreira a ser um triangulo com o vértice para cima: 20 embaixadores, 40 ministros, 60 conselheiros e 80 secretários em cada uma das 3 categorias (240 no total de secretários) num total de 360 diplomatas, numero razoável para um país como o nosso. Naturalmente que este exercício pressuporia o encerramento de Embaixadas inuteis.

Simultaneamente, sugeriria a V. Ex.ª que acabasse com os lugares de técnicos nas Embaixadas, substituindo alguns deles (os que se justificassem) por diplomatas profissionais, como os conselheiros económicos, comerciais, sociais, de imprensa, financeiros, administrativos e quejandos, que não produzem nada, não percebem nada do que devem fazer e só sobrecarregam o orçamento. Se outros Ministérios entenderem que devem manter técnicos seus acreditados junto das Embaixadas (Adidos militares, técnicos do SEF, Funcionários da Cooperação, etc.) então que lhes paguem dos seus orçamentos.

Finalmente, permitia-me ainda sugerir a V.Ex.ª a vantagem de promover uma politica de admissão de diplomatas portugueses no Serviço Exterior da U.E., aproveitando os diplomatas excedentários, como outros países fazem (e não apenas para os lugares de chefia como nós fazemos).

Perdoe-me V. Ex.ª a estulticia, mas creia que o que digo nesta carta é fruto da enorme preocupação que me assalta por constatar que a carreira (onde conto felizmente com muitos amigos) está à deriva e em risco iminente de desintegração.

Aproveito a oportunidade para apresentar a V. Ex.ª os protestos da minha mais elevada consideração.


ALBINO ZEFERINO (correspondente diplomático) 6/8/2011

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

O BPN FOI FINALMENTE VENDIDO

            Após 37 meses de hesitações, dúvidas, recriminações, acusações e demais mostras de incompetencia, o maldito banco BPN foi finalmente vendido. É inconcebível como se esperou tanto tempo e consequentemente se gastou tanto dinheiro para tomar a única decisão possivel. Depois de uma muito duvidosamente legítima nacionalização (nada indicava que a natural falência do banco no seguimento da  detenção do responsável máximo pela fraude bancária trouxesse risco sistémico ao sistema) o então governo socialista ficou sem saber o que fazer. As equipas de gestão sucederam-se sem que qualquer uma delas desse uma solução satisfatória para o futuro do banco (talvez Cadilhe tivesse sido o único a apresentar alguma coisa de consistente) até que Teixeira dos Santos, vulgo o ministro albino, resolveu introduzir o banco maldito na Caixa para que fosse esta e não o orçamento do Estado a suportar as despesas resultantes dele não ter deixado o banco abrir naturalmente falencia. Empurrou-se o problema com a barriga como de costume, sem olhar às consequencias desastrosas que tal conduta traria (como trouxe, como hoje se constata).
            Dos 2 mil milhões de euros de gastos (perfeitamente evitáveis se o assunto tivesse sido atempada e convenientemente tratado) o Estado vai recuperar 40 milhões e é preciso que sejam efectivamente pagos (com os angolanos nunca se sabe). Feitas as contas, verifica-se que a manutenção dos postos de trabalho de cada um dos empregados do banco (preocupação maior do governo Sócrates) por mais 37 meses, custou ao erário público dez vezes mais do que custaria pagar a cada um o máximo de indemnização legal por despedimento. Agora que vão ser mesmo despedidos pelos angolanos (faz parte do pacote) o Estado portugues comprometeu-se a indemnizá-los. Não sei se os 40 milhões que vai receber (irá?) chegarão. Ou seja, Sócrates e o seu ministro das Finanças (só aqui) deram um prejuizo aos contribuintes de 2 mil milhões de euros (em 37 meses).  Se os tivessem roubado, encapuçados e pela calada da noite, o que lhes teria acontecido? Ficariam em prisão preventiva ou deixava-se-lhes que circulassem com pulseira electrónica? Agora se percebe a bizarra mudança de Sócrates para Paris. E o albino. Por onde andará?

                                                ALBINO ZEFERINO   1/8/2011