Desde os sanguinários ataques terroristas de março de 1961 à pobre população portuguesa local indefesa, que o relacionamento entre angolanos e portugueses tem sido pautado por um mixto de desconfiança, de oportunismo e de ódio, intercalado por momentos de exaltação patriótica de parte a parte. Os 13 anos de resistencia militar portuguesa (que ninguem acreditava fossem possiveis) acompanhados da descarada intromissão lusa na guerra civil angolana que se seguiu ao abandono portugues, foram os factores decisivos que moldaram o relacionamento polémico entre os dois povos, aparentemente irmãos nos hábitos e na cultura, mas estranhos ou mesmo adversários nos objectivos e nas posturas perante terceiros. Tanto em Portugal se definem as pessoas ainda hoje como adeptas do MPLA ou da UNITA (a maioria das quais sem perceber onde residem as diferenças) como se o assunto ainda fosse nosso, como em Angola se encontram pessoas amigas de Portugal (eu diria uma minoria) e pessoas que foram ensinadas a não gostar de nós (a maioria delas).
Deste relacionamento dúbio resultam consequências cada vez mais complexas à medida que a importancia internacional de Angola cresce e a de Portugal diminui. Os angolanos, ainda com o complexo colonial muito vivo, vão aproveitando-se da riqueza oriunda do seu petróleo e dos seus outros recursos minerais inesgotáveis para arrogantemente atirarem à cara dos cada vez mais indigentes portugas os dólares que lhes afluem sem esforço, num exercício cruel revelador da sede de vingança que os consome.
É nestre contexto que se compreendem os crescentes investimentos angolanos em sectores vitais para o desenvolvimento económico de Portugal. As vicissitudes da recente compra do banco BPN são o ultimo exemplo desta estratégia de ocupação. Aproveitando-se da ausencia de interessados credíveis para concretizar a venda forçada da entidade bancária amaldiçoada, os angolanos resolveram anular a enorme dívida que os anteriores administradores malfeitores lhes tinham concedido, adquirindo o banco credor praticamente de graça, sem prévio pagamento da dívida contraida. Com o dinheiro emprestado tinham já adquirido posições de destaque noutras empresas portuguesas de referencia, como a Galp e a EDP. Ou seja, as posições angolanas em empresas portuguesas têm sido conseguidas graças a empréstimos concedidos pelos bancos portugueses com sucursais em Angola, sem que as dividas tivessem sido pagas.
A quem pedir responsabilidades por estas situações? Aos bancos credores certamente, mas tambem aos governos anteriores que, por falta de vigilância e por solidariedades ingénuas, se deixaram levar nesta tramoia de enormes consequencias para a independencia de Portugal.
ALBINO ZEFERINO 28/8/2011
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