O drama da Europa chama-se União Europeia. Quando
os fundadores da então Comunidade Económica Europeia se lembraram de
criar um sistema que juntasse os países europeus numa mesma
organização com o objectivo de impedir novas guerras entre eles, a
grande motivação aglutinadora residia precisamente na ideologia
subjacente. A única condição para ser aceite no grupo era de natureza
política: os países candidatos tinham que ser democráticos. Assim se
foram juntando aos seis fundadores, primeiro os membros da EFTA,
depois a Grécia, Portugal e Espanha (logo que se viram livres das
respectivas ditaduras) e por fim os chamados países do Leste europeu
na sequência da queda do muro de Berlim. Tudo no melhor dos mundos
como se a associação de países cada vez mais diferentes uns dos outros
tanto do ponto de vista antropológico como sobretudo no do
desenvolvimento económico não contasse para nada. Nessa altura
pensava-se que a política sobrepunha-se a tudo. Acreditava-se que a
economia seguiria a politica e não o inverso como hoje se verifica. Os
países mais ricos puxariam pelos mais pobres através dos investimentos
e da abertura dos mercados. Tudo muito simples e automático. Assim se
chegou a Maastricht e mais tarde a Lisboa. Com o que os líderes não
contavam era com a grande crise que entretanto estalou e que levou a
União Europeia ao estado desesperado em que hoje se encontra: Estados
falidos pelo excesso de dívida impossivel de cumprir por falta de
produtividade e ausencia de solidaridade dos ricos que acusam os
outros de má gestão e despesismo.
Os sucessivos Conselhos Europeus que se têm
realizado na tentativa desesperada de manter o edificio comunitário em
pé não conseguiram ainda suster os ataques ferozes que os insaciáveis
mercados têm lançado sobre as economias dos Estados Membros, em
particular sobre os mais débeis. Sucessivos planos de austeridade
impostos aos maiores devedores não oferecem ainda garantia aos
credores da solvabilidade financeira dos devedores, para acalmar a
crise que se prolonga. Em contrapartida, desenha-se um novo mapa
comunitário com países agrupados pelo seu nível de solvabilidade
financeira (classificados segundo hierarquias indicadas pelas agencias
de rating de origem norte-americana) que está a desvirtuar o principio
do igualitarismo entre os Estados Membros, ideia base dos fundadores
do Mercado Comum Europeu. O nascimento de um Directório de Estados que
impõe unilateralmente a outros as regras de conduta estatais
necessárias para se atingirem níveis aceitáveis para continuar no
clube europeu está a criar no espírito de muitos europeus (sobretudo
em cidadãos dos países intervencionados) fenómenos crescentes de
rejeição dessas medidas de austeridade. Está-se assim a entrar num
processo perverso e portanto muito perigoso para o futuro da Europa
como ela foi desenhada e tem vindo a funcionar desde há 60 anos para
cá. É certo que a arquitectura europeia peca ainda pela ausencia de
instrumentos válidos para que se possa considerar uma organização
perfeita capaz de ombrear de igual para igual com os grandes blocos
saídos da globalização económica mundial, que se está afirmando cada
vez mais no início deste século. Contudo, considero extremamente
perigoso para o futuro da Europa que esses movimentos de contestação
não sejam contidos, sob pena de destruir um projecto iniciado por
alguns visionários esclarecidos que desejavam que o centro do mundo
continuasse a situar-se no continente europeu.
ALBINO ZEFERINO 10/12/2011
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